O Conselheiro


Sou um crítico, isso sempre fui,

mas hoje, já não critico mais,

os outros, como rio que flui,

afinal quem sou pra criticar os demais?

 

Falando como, um conselheiro,

conselhos meus, todos a ouvir,

do pitaco era sempre o primeiro,

mas agora quero me redimir.

 

É que pensei, sempre de boa-fé,

que problemas, todos, ia resolver.

Na vida alheia, metendo o pé,

sem que nada fosse acontecer.

 

Amigos meus, não me entendam mal,

quisera eu ter consciência tal,

mas à época, reinava o orgulho,

que só em mim fazia mergulho,

sem consciência do que era real.

 

Peço que acompanhem aqui meu raciocínio,

sem olhar pra trás, como fizera Plínio.

 

Sem julgamento, ou apedrejamento,

de quem sempre teve boa intenção.

Atentem apenas a este momento,

em que aqui, lhes peço perdão.

 

Uma vez dotado de racionalidade,

Ou, como queiram, de "boa-razão",

eu ainda, naquela idade,

crendo a tudo então resolver,

mais que capacidade, tinha o dever,

de conceder minha opinião.

 

Hoje, aqui, na consciência imerso,

vejo que o que fiz foi só percorrer,

de Mefistófeles o caminho inverso,

ignorando cada universo,

que todos são em seu próprio ser.

 

De conselheiro fiz-me bobo da corte,

que hoje de Fausto tenho até inveja.

Quisera eu ter melhor sorte,

não pra provar minha própria morte,

mas respeitar-lhe, seja como seja.

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Guilherme Azevedo

Advogado e Filósofo, graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) com dupla titulação em Estudos Políticos pela Universidad de Caldas/Colômbia.

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