O brasileiro sempre teve a tradição de se importar com as vidas perdidas em tragédias, dentro e fora do nosso espaço geográfico. Lembro-me muito bem do espírito de solidariedade nas redes sociais quando aconteceram os ataques aos chargistas franceses do Charlie Hebdo; as várias manifestações virtuais de apoio às vitimas em acidentes aéreos (Viva a Chape!); a tragédia da boate Kiss; Brumadinho e etc. Ultimamente estamos lidando com um número de mortes diários que, se contar, daria uma tragédia por dia e o povo anda meio apático. Cadê as campanhas nas redes sociais? O que aconteceu com a solidariedade do povo brasileiro? Eu tenho o otimismo de achar que a nossa natureza não é ruim, mas acredito que temos uma forte tendência em acreditar nos discursos de caudilhistas, personagens tão enraizados em nossa história. E são esses mesmos personagens que fizeram de tudo para nos tirar do jogo político-social, fazendo uso da violência. É essa tendência submissa que leva o nosso povo a entrar em uma anestesia social que retira o sentimento solidário. Tendemos a acreditar em caudilhos e entregar nossos rumos às mãos deles, e essa turminha escreveu a nossa história com sangue.


A violência foi um ato constante dentro da História da sociedade brasileira. A nossa colonização foi baseada na política de extermínio dos povos indígenas. No tratamento dado aos escravos negros, desde a sua retirada do país de origem até o caminho violento, traçado pelos navios negreiros, chegando aqui, foram tratados como objetos. Isso era algo habitual: a violência vindo de cima para baixo, servindo de contenção da massa.

FOTO: Retrato de alguns caudilhos

Vamos falar das práticas adotadas contra os movimentos populares de contestação ao sistema vigente? Pois bem, o conhecido pau-de-arara, tão usado no regime militar de 64 eram dois cavaletes de cerca de 1,5m de altura, com suporte na parte superior, onde colocava as pontas de uma barra de ferro. O preso era pendurado nu, com os pés e as mãos amarrados, encostados no peito, com os braços envolvendo-as. Assim ficava o pendurado na barra de ferro. Neste esquema, o torturado ficava de cabeça para baixo, aguentando a pressão sanguínea descer na sua cabeça, sofrendo pancadas, queimaduras, choque e até sendo estuprado(a)! Isso tudo uma invenção nacional, inclusive chegou a ser exportada para outros países. O pau-de-arara foi criado no século XVII pelos caudilhistas oligarcas Garcia D`Avila para punir escravos na Bahia.

Não devemos esquecer a cultura dos militares de 64 em degolar os adversários da guerrilha do Araguaia, numa tradição antiga! O coronel e comandante da terceira campanha contra Canudos, Antônio Moreira César, era conhecido como "O corta cabeça". Antônio Moreira ficou famoso por este apelido depois de ter mandado cortar a cabeça de mil opositores na Revolução Federalista (1893-1895).

Os Exemplos citados são apenas um pequeno percurso histórico de como a nossa História foi escrita por meio da violência contra quem fosse contestador do pensamento hegemônico. E assim fomos acreditando nas nossas lideranças politicas, nos caudilhos... Creio que não sejamos ruins, acho que somos levados a acreditar no discurso de pessoas enganosas, o tal do "salvador da pátria", e , como isso, ainda existe pessoas que acreditam em frases do tipo: "isso é uma gripezinha". Interessante notar que tal frase sai de uma pessoa totalmente incentivadora da violência, reescrevendo o nosso passado violento e ratificando a violência nessas frases. São os caudilhos do século XXI.

Sobre a coluna

A coluna Notas do Cotidiano é publicada sempre às sextas-feiras.
Compartilhe:

Jonas Carreira

Historiador -- Insta: @profjonascarreira -- Twitter: @jonasmcarreira

Deixe seu comentário:

0 comments so far,add yours