Após a Ditadura Militar de 1964, o cenário político brasileiro não havia se tornado tão degradado, tão violento e repulsivo diante das perseguições sofridas pelas minorias como vem acontecendo em nossa contemporaneidade, mas é preciso lembrar que todo cenário tem seus produtores, seus atores, seus coprodutores e cúmplices. Construído a partir de fake news, de manifestações antidemocráticas, denúncias escandalosas de corrupção a exemplo das rachadinhas, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, além de uma rede de proteção paramilitar as milícias. Resultou nessa cena necrosa que vivemos uma pintura obscura de violência e ataques a democracia.



Obviamente que essa estrutura, essa rede criminosa tem um custo alto, e as investigações preliminares apontam para o financiamento público, isso mesmo, somos nós que pagamos, são nossos impostos que financiam essa rede de ódio, de ameaças, de intimidação e perseguição de opositores políticos.

As eleições de 2018 foram marcadas e estruturadas por disparos em massa de mensagens falsas. A grande maioria para exterminar reputações de adversários políticos. As fake news tomaram tamanha proporção no cenário político brasileiro, que não só elegeram vários candidatos a cargos importantes, como levou o Supremo Tribunal Federal - STF a instaurar inquérito para investigar o que, segundo o Ministro Alexandre de Morais, viria a ser uma “associação criminosa”, mas é preciso lembrar que isso só aconteceu quando os membros do Supremo Tribunal Federal viraram alvo dessas ameaças, antes disso diversos opositores políticos foram ameaçados, perseguidos, agredidos e tiveram inclusive que sair do país, a exemplo do deputado federal, escritor e professor Jean Wyllys.

As investigações avançam e sempre há ligação dos Bolsonaro. As investigações que miram o gabinete do ódio, instalado no Palácio do Planalto, financiado com dinheiro público esbarra na família Bolsonaro, o inquérito que investiga “rachadinhas” e lavagem de dinheiro também, episódio que se agravou nos últimos dias após prisão do suposto operador, Queiroz foi preso, sua esposa encontra-se foragida. As investigações do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro apontam para indícios de uma sofisticada organização criminosa, eles atuaram na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ a época que o filho de Bolsonaro era deputado estadual. As denúncias ligam a família a uma rede de milicianos, ora funcionários, ora seguranças ou amigos, eles transitaram livremente nos gabinetes, nas homenagens, nas festas e reuniões da família.

Para além de todas as investigações de denúncias que paralisam o governo, tramita no Tribunal Superior Eleitoral um pedido de cassação da chapa Bolsonaro/ Mourão, somado a tudo isso, ainda temos que suportar a inércia do Presidente frente à pandemia mortal do coronavírus.

Diante desse cenário espúrio, viciado, frágil e problemático, fica a seguinte pergunta: o que faz a sociedade brasileira manter no poder a histeria bolsonarista? O que faz o senhor Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados ignorar os quase 50 pedidos de impeachment protocolados contra o Presidente Jair Messias Bolsonaro?

A resposta é irrefutável, o que mantém Bolsonaro em Brasília, ocupando a cadeira de Presidente, mesmo já tendo demonstrando total incompetência e incapacidade, é o poder econômico, o que aqui chamaremos de 1% Vagabundo, afinal é esse um por cento da sociedade brasileira que detém toda a riqueza do país. Perceba que todos os ataques do governo Bolsonaro a educação, ao meio ambiente, a saúde, a rede de assistência social, todos foram aceitos por eles de maneira passiva. Só houve mudança quando Bolsonaro se aproximou de movimentos fascistas, acenando para o autoritarismo militar. Neste momento o poder econômico resolveu usar as armas que detém para dar um freio e devolver o Presidente para seu cercadinho. O surto dos Bolsonaro poderia custar caro, poderia causar perdas financeiras graves, para eles a precarização dos serviços públicos é meta, nada pode ser empecilho.

Prova disso é a redução do Estado, que vem escamoteada por um discurso de liberdade econômica. O Ministério da Economia, chefiado por Paulo Guedes, tem passe livre no exercício de sua política de morte, com apoio dos democratas de plantão, simplesmente porquê defende os pacotes de austeridade - reformas e privatizações do patrimônio nacional.

A prisão de Queiroz, a volta do risco a cassação da chapa eleitoral, o inquérito das fake news, surgem como resposta ao movimento bolsonarista. O resultado é óbvio, Bolsonaro já fala menos, está voltando a ser peça domesticável no tabuleiro político brasileiro.

O poder econômico se move, acena com o osso e se vacilar o jogará no abismo.

Sobre a Coluna

A coluna Brasilis é publicada sempre às quintas-feiras.
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Alexandre Pereira

Eu sou Alexandre Silva, natural de Alagoas, mas resido em Salvador – BA, terra que tem me dado “régua e compasso” para seguir firme e forte, na luta por uma sociedade mais igualitária. Ainda sobre mim, sou Graduando em Humanidades pela Universidade Federal da Bahia, curso que me desafia a enfrentar as problemáticas de uma sociedade multifacetada, segregada por uma profunda desigualdade social. Nossos textos buscarão provocá-los a problematizar questões que afetam nossas vidas, mesmo que pensemos que não, tudo está interligado, tudo nos diz respeito, se assim não fosse não seriamos uma sociedade. Obrigado pela companhia e vamos problematizar!

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