Executivo e Congresso protagonizaram embate por bilhões nos últimos meses; Carteira Verde Amarela e fundo privado com multas ambientais também na pauta
No meio tempo, ainda que sem uma base necessariamente governista, o (des)governo Bolsonaro conseguiu costurar um acordo para que seus ministros determinassem o destino de ao menos 15 bilhões de reais. Contudo o acordo não vingou por pressão do próprio (des)governo, que ameaçou apostar no desgaste entre Câmara e Senado.
O orçamento impositivo é um instrumento recente na vida pública brasileira: fixada como Emenda Constitucional 86, trata-se de uma criatura datada de 2015, quando a chantagem em nome da governabilidade contra a então presidente Dilma Rousseff não tinha medo da luz do Sol. A imposição nasceu no início do inferno astral da petista, deposta um ano depois, e contou com o apoio (veja só) do atual presidente, então deputado federal.
À época, calados estavam e calados ficaram os ditos liberais que hoje defendem o veto presidencial e se colocam contra a posição dos congressistas. É fato que o instrumento, estabelecido em meio a uma campanha de desestabilização do governo há cinco anos, significa mais dinheiro na mão dos parlamentares (em geral, representantes de oligarquias locais). Como a volatilidade ($$$) é uma das mais fortes marcas dos defensores do regime, a diferença de tratamento para o assunto, claro, é a pessoa que preside o País. Dilma lá, Bolsonaro cá.
O mais intrigante de toda essa discussão é a disputa por 30 bilhões de reais em um orçamento total de 3,6 trilhões de reais. Acontece que desse valor, em média 40% é destinado a honrar os compromissos com o sistema financeiro, via sistema da dívida pública, como didaticamente explica o gráfico da Auditoria Cidadã com base no orçamento do ano passado, e o restante divide-se no custeio da máquina pública (previdência social, transferência a estados e municípios, saúde, educação, assistência social, entre outros destinos).
O veto presidencial lembra ao Brasil que este país tem um regime presidencialista, em que a autoridade máxima é o presidente da República. Agora, a essência da discussão é a estridente conveniência dos que hoje “denunciam” o orçamento impositivo.
Precarização e abutres
Está para ser votada no Congresso Nacional a Medida Provisória 905/2019, que cria o “Programa Verde e Amarelo” e representa a fase mais recente do processo, em estágio avançado, de precarização da classe trabalhadora do Brasil.
À base da especulação, o (des)governo sustenta que os valores, alguns oriundos de acordos de conciliação, serão convertidos em “serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente”.
Sobre a coluna
Da Prática Política é uma coluna semanal, publicada todas as quartas-feiras, sobre os assuntos do cotidiano político do Brasil.
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