Era 29 de outubro de 2000. Numa coalizão de esquerda encabeçada por João Paulo de Lima e Silva, o PT elegia pela primeira vez o prefeito no Recife. Uma virada histórica, visto que o candidato da situação, Roberto Magalhães, então prefeito de Recife pleiteando a reeleição naquele ano, era indicado como vencedor em primeiro turno até as últimas pesquisas de intenção de votos. A vitória em primeiro turno iniciaria um ciclo de prefeituras petistas em Recife, com a reeleição de João Paulo em 2004, em primeiro turno, enterrando uma velha oligarquia que se formava nos anos 90, na figura de Jarbas Vasconcellos e seus aliados e se encerraria com eleição do sucessor de João Paulo em 2008, João da Costa, também em primeiro turno, consolidando a hegemonia e a força do Partido dos Trabalhadores em Recife.

A prefeitura de João da Costa, porém, foi bastante controversa. Tendo se afastado de seu até então padrinho político, o ex-prefeito João Paulo, o então prefeito do Recife tentou criar voz própria dentro do partido. Porém, sua administração no Recife, nem de longe, prosseguiu o sucesso da administração de seu antecessor. Com graves problemas quanto a conservação de vias públicas, capinação e até recolhimento do lixo, a administração João da Costa era mal avaliada pelos recifenses.

O ano era 2012 e aproximava-se mais uma eleição municipal. De forma inédita, já que por consequência o prefeito da cidade tinha o direito até então de concorrer à reeleição de forma automática, João da Costa teve que disputar prévias. O candidato era Maurício Rands, apoiado pelo então senador, Humberto Costa. Rands foi derrotado pelo atual prefeito nas prévias, porém, apelando ao PT nacional, Humberto Costa conseguiu fazer valer a sua vontade e impugnar o resultado das prévias que indicaram João da Costa como candidato. Mais do que isso, lançou a si mesmo, tendo como companheiro de chapa e candidato a vice o ex-prefeito João Paulo, como candidato da chapa petista naquele ano.

A confusão criada por Humberto na eleição levou ao rompimento com o grupo então chamado “Frente Popular”, encabeçado pelo PSB e Eduardo Campos, que vinha em franca ascensão política desde sua reeleição histórica em 2010, com mais de 3 milhões de votos à mais do que seu então adversário político, Jarbas Vasconcellos. O PSB, que já comandava o executivo estadual, rompeu com o PT e lançou a candidatura de Geraldo Júlio à prefeitura do Recife, vencendo em primeiro turno. Humberto Costa e o PT, fragilizados pela péssima administração de João da Costa, pela confusão criada por Humberto Costa para fazer valer sua vontade no PT local, acabou ficando em terceiro lugar, atrás até de Daniel Coelho, então filiado ao PSDB.

A saída da frente popular e a péssima imagem que ficou da imposição da candidatura de Humberto levaram à uma drástica diminuição do PT à nível local. Viu seu número de vereadores cair de 6 para 2 entre 2012 e 2016 e em 2014 chegou ao ponto de não eleger se quer um único deputado federal. Obviamente tudo isso também foi efeito do plano nacional, com as denúncias de corrupção da operação lava-jato e do consequente golpe sofrido pela presidenta reeleita Dilma Rousseff, porém, é importante analisar o prejuízo que o projeto pessoal de Humberto Costa causou ao PT pernambucano como um todo. O partido se apequenou e se tornou um mero coadjuvante no cenário local. A crescente influência do caciquismo de Humberto afastou outras figuras históricas do PT, como o próprio ex-prefeito João Paulo, que em 2018 migrou do PT para o PC do B, entre outros.

Humberto Costa tenta vincular Marília Arraes a base de Bolsonaro
Costa e Marília polarizam a política do PT em Pernambuco

2018 inclusive marcou o retorno do PT à Frente Popular. Quase como um cachorro que volta ao dono com o rabo entre as pernas, mesmo que à época houvesse um nome forte que pudesse bater de frente com a candidatura à reeleição do governador Paulo Câmara. O nome da então vereadora Marília Arraes surgia com força não só dentro do PT, mas também em pesquisas de opinião que surgiam no início do ano, colocando Marília ao lado de Câmara, à frente até mesmo de Armando Monteiro Filho, então candidato da direita e oposição à Paulo Câmara.

Porém, mediante ao caciquismo de Humberto e exercendo sua força política, impôs que o partido baixasse a cabeça e pedisse arrego. Paulo Câmara, que de bobo não tem nada, sabendo que não poderia mais se apoiar ao saudosismo eduardista, que o elegeu em 2014, aceitou de bom grado a aliança com o PT para fazer uso da força que a figura política de Lula tem na região. Elegeu-se em primeiro turno, o PT mendigou algumas vagas no legislativo estadual e conseguiu eleger dois deputados federais. Uma delas a própria Marília Arraes, preterida diante do caciquismo de Costa, que apoiou-se na coligação da Frente Popular para renovar seu mandato como Senador.

2020 chega com novas eleições municipais. O nome de Marília surge novamente com força para a disputa, num momento em que o PT busca se reerguer da crise em que mergulhou após o golpe. Mesmo com o apoio da direção nacional e até mesmo do próprio Lula, Marília não tem sua candidatura assegurada. Novamente o caciquismo de Humberto Costa, que exerce sua força política sem oposição dentro do PT local, apequena o partido, tornando-o um mero coadjuvante, um apoio para o PSB manter sua hegemonia em Pernambuco e no Recife, fazendo do PT, que outrora foi um partido grande e de influência, apenas uma muleta para as pretensões políticas do eduardismo e do próprio Humberto.

Sobre a coluna


De hoje a oito é uma coluna semanal sobre política que procura trazer em pauta assuntos referentes, principalmente, ao governo federal e acontecimentos nacionais, sem deixar de repercutir acontecimentos mundiais.
Compartilhe:

Pedro Araujo

Advogado com pós em ciência política, sempre acompanhando o cenário político nacional e mundial.

Deixe seu comentário:

0 comments so far,add yours