O título é polêmico e pode gerar controvérsias, então logo de cara, para não gerar impressões dúbias, deixo bastante claro que sou contrário ao governo Bolsonaro, suas medidas e suas atitudes. E sendo um forte militante contra o governo do Messias, precisamos falar sobre a recente e crescente pressão, principalmente de setores da direita liberal, do centrão e das elites, para que seu impeachment ocorra.

Não é novidade alguma a tendência centralista, autocrata e autoritária do sr. Jair Bolsonaro. Desde a época em que era apenas um deputado do baixo clero, Bolsonaro jamais escondeu seu apreço ao regime militar. Chegou à afirmar em algumas entrevistas que fecharia o congresso sem dúvidas se por acaso fosse presidente. Existem várias declarações polêmicas em sua vida pública que indicam que Bolsonaro, no poder, seria um risco para a democracia. Então resta uma pergunta:

Por que só agora começam a repercutir o que ele diz? Somente agora Bolsonaro ultrapassou o limite? Não houveram limites ultrapassados quando ele afirmou que não estupraria uma deputada porque ela era “muito feia”? Limites não foram rompidos quando ele, em pleno congresso nacional, exaltou um dos piores e mais terríveis torturadores do regime militar, o monstro do Brilhante Ulstra, apenas para criar gatilhos na então presidenta Dilma Rousseff, que foi torturada pelo supracitado militar?

Não, não é de hoje que Bolsonaro passa dos limites, mas ninguém, nem a mídia, nem os partidos da direita liberal e do centrão achavam que era motivo para cassar o mandato dele como deputado. O conselho de ética jamais levou à diante o pedido de cassação de Bolsonaro. Jair não é novidade para ninguém. Todos conheciam Jair e como ele costumava agir e falar. Todos podiam ter impedido o ovo da serpente chocar, mas não só deixaram ele eclodir como silenciaram enquanto ele abocanhava o país.

Mas então por que agora interessa às elites o impeachment de Bolsonaro? Em momento algum direi que ele não merece. De acordo com a lei nº 1079/50 que trata sobre os crimes de responsabilidade, Bolsonaro já fez o suficiente para se enquadrado em ao menos dois incisos do art. 4º que elenca os crimes de responsabilidade. Ele tem sim motivos para sofrer um impeachment, da mesma forma em que tinha motivos para ser caçado enquanto deputado. E o motivo de agora as elites buscarem o impeachment de Bolsonaro é mesmo motivo do porque as elites observaram caladas a ascensão ao poder de um homem claramente despreparado para o cargo: era conivente.

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Presidente teve divulgada conversas onde convoca população para atos contra congresso e STF

Bolsonaro nem de longe era o candidato das elites. Apostavam em Meireles, Alckmins e Amoedos da vida. Mas o plano econômico dele, chefiado pelo banqueiro Paulo Guedes, era o mesmo que interessava as elites. O desmonte da maquina pública, a retirada dos direitos, o fim das políticas públicas, tudo isso que Guedes defende é o que a elite defende e por isso ela engoliu Bolsonaro em silêncio. Porém, Bolsonaro se mostrou incompetente. Sem articulação no congresso nacional, ele não consegue colocar à cabo o plano neoliberal de Guedes que tanto agrada as elites. Com sua popularidade cada vez mais baixa e uma forte resistência contra sua figura tanto entre o legislativo, judiciário e também frente à chefes de outros entes federados, tornou-se cada vez mais difícil para as elites verem seu projeto prosperar enquanto Bolsonaro for presidente. A solução encontrada é fácil: tira-lo.

Confiam-se na figura de Mourão. Ou, como prefiro chama-lo, o “Bolsonaro para todos os paladares”. Com seu jeito aparentemente mais sensato do que o do atual presidente, mesmo que na minha humilde opinião Bolsonaro exale uma aura de insensatez tão grande que qualquer um se torna sensato ao seu lado, Hamilton teria maior acesso ao congresso. Conseguiria fazer aprovar de forma mais ágil projetos do interesse das elites e faria parecer que a democracia brasileira está à salvo enquanto direitos fundamentais estão sendo dilapidados e nós dando graças à Deus por não termos um fuzil apontados para nossa cara.

O impeachment não é nem de longe a melhor saída. O impeachment de Bolsonaro no momento atual nada mais seria do que um novo “grande acordo nacional com o supremo com tudo”. Um grande acordo das elites, como tudo o que foi feito na história desse país. A medida mais correta a ser defendida é a cassação da chapa e a convocação de novas eleições diretas. Não podem usar nossa democracia como refém nem nos obrigar a escolher entre o amargo ou o doce, se no final ambos nos darão dor de barriga.


Sobre a coluna

De hoje a oito é uma coluna semanal sobre política que procura trazer em pauta assuntos referentes, principalmente, ao governo federal e acontecimentos nacionais, sem deixar de repercutir acontecimentos mundiais.

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Pedro Araujo

Advogado com pós em ciência política, sempre acompanhando o cenário político nacional e mundial.

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