O ano de 2020 mal tinha começado quando o presidente resolveu soltar um de seus já famosos impropérios. O alvo da vez eram os livros didáticos que Jair Bolsonaro agora pretende reformar. Além de querer que os livros venham com a bandeira do Brasil e com a letra do hino nacional, na visão do presidente, os livros didáticos “tem muita coisa escrita” e que devem ser suavizados.

À despeito do que possa parecer apenas uma frase mal colocada, é preciso entender nas entrelinhas o que o presidente quer dizer. Não é novidade a saga de Bolsonaro contra o que ele chama de “doutrinação ideológica”. Fervoroso apoiador do projeto “escola sem partido” do advogado Miguel Najib, Bolsonaro nunca escondeu seu descontentamento com a forma como alguns assuntos são abordados em sala de aula, além de criticar o que ele chama de “ideologia de gênero” que supostamente estaria presente nas escolas e universidades brasileiras.

As palavras do presidente ao falar que os livros didáticos devem ser suavizados, em pronto deve afetar principalmente o ensino de história. Suavizar acontecimentos como a escravidão ou mesmo a ditadura militar, que Bolsonaro insiste em chamar de “revolução”, em nome de uma suposta “neutralidade” da educação, sem viés ideológico, é um problema catastrófico para as futuras gerações. Na visão do presidente e de muitos de seus apoiadores, muito do que é ensinado na escola sobre esses assuntos é encoberto por interferência ideológica, ignorando que para abordar esses assuntos pesquisas foram feitas, documentos foram analisados e não se trata da mera opinião de professores e pesquisadores.

Presidente Bolsonaro empossando o ministro Abraham Weintraub como Ministro da educação


Essa está longe de ser, porém, a primeira vez que o presidente dispara contra a educação de forma tão direta. O alvo favorito de Bolsonaro e seus apoiadores, por muitas vezes, é o patrono da educação brasileira, o professor pernambucano Paulo Freire que tem seu trabalho constantemente questionado pelo capitão e sua equipe de governo. Desde antes da campanha eleitoral, Bolsonaro ganhava aplausos afirmando que as teorias de Freire são o motivo da má qualidade da educação brasileira, que se trata de mera "doutrinação". Mais recentemente, o presidente chegou a chamar o educador, um dos mais estudados e citados por universidades conceituadas ao redor do mundo, de energúmeno.

Mas quem dera que os golpes de Bolsonaro à educação ficassem apenas nas palavras. Desde o início de seu governo, sistemáticos ataques vêm ocorrendo, nas mais diversas frentes. Desde a nomeação de Ricardo Velez que tentou impor às escolas que filmassem as crianças e adolescentes cantando o hino nacional e repetindo o jargão que o presidente usou durante a campanha eleitoral até os cortes disfarçados de um nome bonito (contingenciamento), bastante usados pelo atual ministro Abraham Weintraub para coibir a “balbúrdia” existente nas universidades, que, segundo o ministro, usam os recursos para manter plantações secretas de maconha. Ataques constantes e ideológicos que vão minando e sucateando nossa educação e nossas pesquisas, empobrecendo o meio acadêmico brasileiro, já tão defasado.

Há os que dizem que as bravatas polêmicas de Bolsonaro e sua equipe servem como uma cortina de fumaça. Fazem uso delas para desviar o foco de acusações e investigações mais graves. Faz sentido, uma vez que a mais recente é dita enquanto seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Sem Partido – RJ), é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro pelas “rachadinhas” que praticava. Porém, mesmo que as polêmicas criadas sejam meramente para desviar o foco do público, ainda assim é preocupante os ataques sistemáticos à educação, pois mostra o desprezo da atual gestão para um assunto tão importante para o desenvolvimento de uma nação.

Sobre a coluna

De hoje a oito é uma coluna semanal sobre política que procura trazer em pauta assuntos referentes, principalmente, ao governo federal e acontecimentos nacionais, sem deixar de repercutir acontecimentos mundiais.
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Pedro Araujo

Advogado com pós em ciência política, sempre acompanhando o cenário político nacional e mundial.

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