Olá fãs da velocidade! Voltamos depois das férias de verão da Fórmula 1 para comentar o GP da Bélgica dessa temporada, marcado por um sentimento de muita tristeza e incredulidade. Devido a um fortíssimo acidente na corrida 1 da Fórmula 2, o promissor piloto francês Anthoine Hubert morreu aos 22 anos de idade, deixando toda a comunidade do automobilismo em choque. Amigo de Charles Leclerc, Pierre Gasly e Esteban Ocon, Hubert era figura com futuro praticamente certo na Fórmula 1, e em seu ano de estreia na categoria de acesso, já havia vencido duas provas: em Mônaco e na França, sua terra natal.

O acidente trouxe consequências graves para outro piloto da categoria, o americano Juan Manuel Correa. Nascido no Equador, o jovem de 20 anos acertou em cheio o carro de Hubert, que antes havia se chocado fortemente contra a barreira de pneus. Com lesões em ambas as pernas e na coluna, Juan foi transportado de helicóptero a um hospital em Liège, onde permanece até o momento. O piloto passou por cirurgias e ainda corre o risco de ter um dos pés amputados.


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Foto: AP News
Esse tipo de situação desperta um sentimento que nós, fãs de automobilismo, muitas vezes esquecemos de recordar. O maior princípio do esporte à motor é desafiar o limite, ultrapassar as barreiras da velocidade, e arriscar sua vida buscando ser o melhor. Mesmo depois de décadas e décadas evoluindo no quesito segurança, a natureza desse esporte fascinante permanece a mesma. O risco de morrer ao volante, mesmo que muito menor, continua lá.

Faz parte da essência da corrida de carros contrariar a ordem natural das coisas; se opor a desejos familiares e carreiras predefinidas para tentar alcançar a imortalidade. E tudo isso não porque é apenas um emprego, sim porque é antes uma paixão. A mesma paixão que nos faz ligar a TV todo domingo de manhã, faz eles acelerarem a mais de 300 quilômetros por hora, ignorando o medo e o transformando num desejo insaciável pela vitória.

Na certeza de que Anthoine Hubert era um dos nossos, ficam aqui minhas condolências à família, amigos e colegas de trabalho. Que todos consigam retomar as suas vidas, honrando um homem de grande caráter que se foi. Que o exemplo dele inspire novos franceses a seguirem os mesmos passos no mundo das corridas, e que sua alma encontre o descanso eterno.

Foto: Reuters
Mesmo com um ambiente muito pesado, a realização da corrida nesse domingo nunca esteve em risco. Depois de um sábado categórico cravando a primeira fila, a Ferrari estava no centro dos holofotes, e sedenta pelo primeiro triunfo na temporada. Um desempenho avassalador de Charles Leclerc liderava os italianos, enquanto Vettel, mesmo sem se acertar com o carro, conseguiu a segunda posição no grid. Como já se esperava, a Mercedes não conseguia um bom rendimento nas grandes retas do circuito, colocando Hamilton na terceira posição e Valtteri Bottas logo atrás.

Como já é tradição de Spa, a largada trouxe algumas emoções! Räikkönen partiu bem e colocou de lado com Verstappen. O holandês não aliviou o pé e dividiu a curva com Kimi, este que não notou a presença da Red Bull pelo lado de dentro da Source. O resultado foi a colisão dos pilotos, que levou ao abandono de Verstappen e trouxe sérios danos ao assoalho do carro de Räikkönen. Depois de um fim de semana sólido, o finlandês não conseguiu recuperar o rendimento, terminando fora da zona de pontuação.
Kimi costuma ser bastante gentil nas disputas por posição, e certamente Max pensou nisso quando decidiu dividir a curva 1. A questão é que Räikkönen não conseguiu ver a aproximação do holandês, e dessa forma fez o traçado como se ninguém estivesse por ali. Não há necessidade de plantar culpa em nenhum dos pilotos, mas Verstappen poderia ter sido mais cauteloso.

Largada do GP da Bélgica, em Spa-Francorchamps — Foto: Getty Images
Foto: Getty Images
Mesmo partindo mal do grid, Vettel se valeu da potência do motor Ferrari para recuperar a segunda posição ainda antes da entrada do safety-car. Depois de algumas voltas atrás do SC, a corrida retornou à ação. Leclerc logo disparou à frente, demonstrando ser a melhor Ferrari nesse final de semana. Vettel seguiu logo atrás, trazendo Hamilton, Bottas e um surpreendente Lando Norris na quinta posição.

A vantagem da Ferrari na primeira metade da corrida era notável, e Leclerc se valeu dela para extrair o máximo possível de seu equipamento. Com uma condução perfeita, o monegasco seguia abrindo de Vettel, que não conseguia contornar as curvas do circuito com a mesma precisão. Seria mais um domingo difícil para Sebastian, que torna a ver seu maior pesadelo dentro da Fórmula 1: a figura do companheiro de equipe novato roubando-lhe espaço dentro do time.

Enquanto Leclerc seguia ditando o ritmo na ponta, o meio do pelotão pegava fogo, proporcionando boas manobras de ultrapassagem. Com um carro bem acertado, Sergio Perez perdera algumas posições após a largada e agora se encontrava atrás da Haas de Kevin Magnussen. A situação do dinamarquês era totalmente inversa, e Kevin ia perdendo terreno volta após volta. Não demorou muito para que Checo colocasse de lado no final da reta Kemmel e completasse a manobra, assumindo um bom sétimo lugar.
Depois de uma sequência de resultados ruins para a Racing Point, um circuito que favorece as características da equipe, desde os velhos tempos de Force India, serve de alento para as perspectivas do time no campeonato. Com um poder de evolução menor que os principais concorrentes e sem aquela velha supremacia dos motores Mercedes, a única chance para a equipe de Sergio Pérez e Lance Stroll é aproveitar as pistas com grandes retas no campeonato. Spa e Monza sempre trouxeram bons ares para o time de origens indianas, e podem quem sabe, servir de último impulso para o time voltar a evoluir em rendimento e frequentar a zona de pontuação com mais regularidade.

Voltando à parte da frente do grid, não demorou muito para que os pneus de Sebastian Vettel começassem a se destacar. Hamilton logo apareceu nos retrovisores do alemão, e nesse momento, a Mercedes deu o grande pulo do gato deste domingo. Pelo rádio, a equipe mandou Valtteri Bottas acelerar, no que parecia uma tentativa de undercut. Tentando se precaver disso, o time italiano chamou Vettel para os boxes muito mais cedo que o previsto, porém a Mercedes surpreendeu e manteve os dois pilotos em pista. O blefe deixaria Vettel com pneus muito usados para o final da corrida, e colocaria as flechas de prata em posição de ataque nas últimas voltas. Grande jogada do time de Toto Wolff!

Com a primeira rodada de pits acontecendo, Vettel acabou sendo promovido à liderança, mas sem ritmo nenhum para sequer defendê-la. Leclerc tirou um segundo por volta assim que regressou à pista, e quando encostou no companheiro de equipe, veio da ordem para que Vettel abrisse caminho. a propósito, ordem totalmente justa.
Durante todo o fim de semana, Leclerc mostrou-se muito mais rápido que Sebastian, e mesmo durante a corrida, com pneus mais novos, Charles estava em posição infinitamente melhor que Vettel para vencer a prova. Atitude correta tomada pela Ferrari, que teve também outra sacada interessante.

Foto: Motorsport.com
Condenada a perder o pódio com Vettel, o time italiano optou por deixar o carro #5 ao máximo na pista, tudo isso para atrasar a ultrapassagem de Hamilton, fazendo-o perder tempo e possibilitando a Leclerc a chance de abrir uma vantagem mais segura. E o plano funcionou! A distância que era e 4.5 segundos foi para 7 após Lewis perder de duas a três voltas para completar a manobra em Seb. Uma vantagem que se mostraria crucial para o resultado final da prova.

Chegando perto do final da corrida, é hora de olhar novamente para as disputas do meio do pelotão, e agora destacando o péssimo final de semana da Haas. Depois de ver Magnussen sendo ultrapassado volta após volta, foi a vez de Grosjean sofrer com a falta de ritmo de corrida no carro norte-americano. Mesmo correndo com um acerto diferente em cada carro, a equipe de Gene Haas não parece ter entendido o funcionamento de seu bólido, e com o final de temporada se aproximando a situação fica cada vez pior. Ocupando atualmente a modesta nona posição no mundial de construtores, o desempenho do time está muito aquém do que todos esperavam para a temporada 2019. Gene já avisou que, caso os resultados não apareçam, o time pode até reconsiderar sua participação na categoria a partir de 2021.
Mesmo com o péssimo desempenho nas últimas provas, a distância para alguns concorrentes ainda é alcançável. É preciso que os engenheiros do jovem time americano se esforcem o máximo possível nessa reta final, para que a equipe encontre ao menos um rumo para direcionar suas ações, e possa preparar um carro mais estável para o ano seguinte.

Já o destaque positivo do dia vai para a Toro Rosso! Depois de todo o circo causado pela troca de pilotos na Red Bull durante a pausa de verão, o time italiano se recuperou de um rendimento ruim no sábado e andou constantemente na zona de pontuação! Pierre Gasly ficou parte da corrida à frente de Kvyat, sendo superado na fase final da prova. O russo por sua vez conseguiu uma excelente manobra sobre Ricciardo, garantindo a sétima posição na classificação geral. Bom desempenho da equipe que ressalta especialmente o desenvolvimento do motor Honda, este que mesmo não sendo tão potente como os Ferrari e Mercedes, consegue superar os propulsores da Renault.

Já entrando na parte final da corrida, Hamilton começou a descontar a vantagem de Leclerc, causando certa apreensão nos boxes da Ferrari. Mesmo encarando alguns retardatários na parte do miolo do circuito, Charles teve a perícia necessária para não cometer nenhum erro numa situação de extrema pressão. Perfeito nas curvas e impulsionado pela força do motor Ferrari nas retas, Leclerc não deu chances para Hamilton sequer tentar a ultrapassagem, cruzando a linha de chegada como vencedor pela primeira vez na carreira!

Logo após o final da prova, dois abandonos cruéis marcaram a corrida. O primeiro foi de Antonio Giovinazzi, que vinha para marcar pontos apenas pela segunda vez no ano, num grande oitavo lugar. O italiano rodou de maneira muito estranha e saiu da pista, batendo até forte contra a barreira de pneus. A boa notícia foi que o piloto estava ok, sem qualquer tipo de problema.
Logo depois, na linha de chegada enquanto os pilotos completavam a corrida, Lando Norris estacionou sua McLaren com um problema de motor. O britânico vinha para o seu melhor resultado na carreira, um excelente quinto lugar, com mais de 15 segundos de vantagem para o sexto colocado. Uma pena para Lando e também para a McLaren como um todo, que após uma primeira metade de temporada arrebatadora, retorna à competição com um duplo DNF e zero pontos na bagagem. A vantagem no Mundial de Construtores ainda é grande claro, mas perder oportunidades dessa forma é sempre muito cruel.

Foto: Motorsport.com
Final de corrida estranho, como foi todo esse domingo. Comemoração contida de Leclerc, que vive o ponto mais alto de sua carreira até aqui. Novamente guiou mais que o seu companheiro de equipe e tetracampeão Sebastian Vettel, parece ter conquistado a admiração e confiança de toda a equipe, tornando-se desde então o homem referência dentro da Ferrari. Um domingo que era pra ser só de alegria, especialmente para os fãs desse grande talento que vem construindo seu lugar ao sol, mas que no final deixa sempre um gosto amargo para todos.

Precisamos ainda dar um último destaque à Alexander Albon! O homem que roubou os holofotes para si nas férias de verão fez sua estreia na Red Bull, e sob circunstâncias bem específicas. Largando quase do fim do grid devido à uma troca de motor, Albon sequer fez um tempo competitivo para o Q2, o que limita a análise sobre seu desempenho em classificação. Na corrida, fez uma primeira metade discreta com pneus médios, mas teve um bom desempenho com os compostos macios, fazendo boas manobras para escalar o pelotão. Uma ultrapassagem na última volta, aliada ao abandono de Norris logo em sequência lhe renderam um quinto lugar, a melhor posição em que o tailandês poderia chegar, atrás apenas de Ferrari e Mercedes.
Como as circunstâncias foram fora do comum, qualquer análise pode ser precipitada. O quinto lugar é ótimo, mas se observarmos pela ótica que Albon chegaria 17 segundos atrás de uma McLaren não fosse o abandono da mesma, nota-se que ainda há muito a evoluir. De qualquer forma, estrear em uma equipe, ainda mais no meio da temporada, coloca uma pressão absurda nos ombros do piloto. O tempo para adaptação é curtíssimo, e a pressão por resultados deixa as coisas ainda mais tensas. Levando em conta essa questão, Albon teve sim uma boa corrida de estreia. Partindo para Monza, as coisas devem se inverter: Verstappen deve trocar seu motor, e dessa forma o holandês sairá do fim do grid, enquanto Albon pode fazer o final de semana completo, sem maiores preocupações, dando uma amostra maior de suas reais capacidades.
Apesar de controversa, e até mesmo errônea decisão, na minha opinião, o risco tomado por Helmut Marko ao substituir Gasly por Albon ao meio da temporada pode se pagar. A exibição promissora do tailandês nesse fim de semana aumenta a confiança do piloto, e alivia um pouco a pressão por resultados imediatos. Vamos esperar para bater esse martelo, ainda há muito que precisa ser provado, mas que foi um bom começo ninguém pode negar.

Confira como foi a classificação do GP da Bélgica:

Foto: Divulgação/F1

Por hoje é só pessoal. Voltamos já no próximo domingo, com o GP da Itália. Abraços e até lá!

Repose en paix Anthoine.





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Ricardo Machado

Um sonhador, que anseia por deixar sua marca no mundo. Apaixonado por automobilismo, futebol, letras e pelas tardes frias e chuvosas de inverno.

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