Streeter Lecka/Getty Images

Os Rams tiveram uma das equipes mais empolgantes de assistir na temporada de 2018. Um ataque rápido e dinâmico, fazendo jogadas surpreendentes e variadas, enquanto teve uma defesa mediana – de média para boa, com um pouco de boa vontade. Mas o time não foi construído para ser assim. O GM Les Snead trouxe uma série de jogadores renomados para a defesa e construiu o elenco de modo que essa defesa pudesse carregar o inexperiente Jared Goff quando fosse necessário – justamente o contrário do que vimos na temporada regular. Ao longo dos playoffs, com a lesão do running back Todd Gurley e enfrentando adversários mais competentes, o ataque foi perdendo força e a defesa foi subindo de produção. O ápice desta transformação foi o Super Bowl.

Em um duelo geracional, o time sensação de Sean McVay foi batido pela dinastia comandada por Bill Belichick. Os Rams, que foi uma das equipes mais empolgantes de 2018, foram surpreendidos pelos Patriots em um jogo amarrado, com um xadrez defensivo e pouca sequência nos ataques, o que resultou no Super Bowl com a menor pontuação combinada da história. O time de New England carregou os gaps ao longo da linha com vários defensores e o ataque dos Rams sofreu de uma confusão generalizada. Sem saber quem iria para o pass rush e quem ficaria para a cobertura, o jovem Jared Goff não conseguiu contar com a ajuda de Sean McVay e sucumbiu ao esquema tático do adversário. Ver um dos melhores ataques da liga conseguir apenas três pontos em 60 minutos partiu o coração do torcedor.
Djansezian/Getty Images
Os Rams foram a segunda equipe com mais pontos em 2018 (527), atrás apenas dos Chiefs do MVP Patrick Mahomes. Todas as unidades ofensivas foram eficientes, a começar por Todd Gurley, uma das estrelas da equipe. No corpo de recebedores o time contou com jogadas explosivas de Brandin Cooks, Robert Woods e Cooper Kupp – até se machucar na semana 10 e ficar fora do restante da temporada. A linha ofensiva foi muito bem, com a redenção do veteraníssimo Andrew Whitworth, que participou do grande jogo pela primeira vez. Até os tight ends, o grupo com o talento menos expressivo, se beneficiou do grande nível do ataque e foi bem em 2018.

Já a defesa liderada por Aaron Donald, o Defensive Player of the Year, foi uma espécie de dream team. A linha defensiva contou com três jogadores draftados na primeira rodada – Brockers, Donald e Suh, este último vindo na free agency de 2018. Em um esquema 3-4 adaptado, o veteraníssimo coordenador defensivo Wade Phillips também colocou junto à linha outra escolha de primeira rodada, o outside linebacker Dante Fowler Jr, trazido via troca junto aos Jaguars. Com todo esse poderio, Phillips e sua linha infernizaram a vida dos quarterbacks adversários, implodindo o plano de jogo alheio. Junto a eles, o time teve um corpo de linebackers competente e uma secundária de peso. Trazidos em 2018 via troca, os cornerbacks Aqib Talib e Marcus Peters completaram o dream team de Los Angeles. Os dois veteranos consagrados na AFC West se mudaram para a California e formariam uma dupla para ser um dos esteios desta defesa. No entanto, a lesão de Talib na semana 3 e a conhecida inconsistência de Peters fizeram com que a secundária ficasse exposta e não engrenasse. Isso só mudou quando Talib se recuperou da lesão na semana 13.
Alex Gallardo/Associated Press
A franquia apostou forte no ano de 2018, trazendo uma série de grandes jogadores para buscar o Super Bowl na temporada passada. Ainda que tenham se saído muito bem na jornada, o título não veio e a aposta imediatista agora cobra o seu preço. Se no ataque os principais nomes permanecerão, na defesa a situação é completamente diferente. Ndamukong Suh chegou com um contrato de um ano e agora é free agent. LaMarcus Joyner, free safety, renovou por mais um ano em 2018 com um valor acima de US$10.000.000 e seu contrato acabou. Dante Fowler, trocado no meio da temporada, também chegou com um ano restante de contrato. Ainda que seu contrato de rookie permita ativar um 5º ano, este custará US$14.200.000, ou seja, quase dez milhões de aumento. Outros nomes importantes, como o cornerback Sam Shields e o linebacker Corey Littleton serão free agents em março. É possível evitar um desmanche?


O desmanche parece inevitável. Manter o nível de talento que a defesa teve em 2018 é um feito improvável e exigirá criatividade. O salary cap dos Rams para 2019 deverá contar com, aproximadamente, US$32.000.000. Se o valor parece razoável, certamente é pequeno diante da quantidade de jogadores importantes que ficaram livres no dia 13 de março. No entanto, o time teve uma estratégia ousada para 2018 – que deve ser copiada por outros times ao redor da liga a partir de agora. Nos dois primeiros dias de draft a franquia teria apenas a 31ª escolha geral. Além disso, no terceiro dia poderá contar com as escolhas de 4ª, 5ª e 6ª rodada. Todas as outras escolhas originais do time foram usadas para reforçar a defesa em 2018. A escolha de 2ª rodada foi utilizada na transação para buscar Marcus Peters, a de 3ª rodada para buscar Dante Fowler Jr. Porém, por conta das escolhas compensatórias, a equipe recuperou seu arsenal de escolhas com duas escolhas compensatórias de 3ª rodada e uma de 7ª.

Colocar em campo uma defesa com o mesmo nível de talento que a de 2018 não será uma tarefa fácil. Aliás, pode-se dizer que é virtualmente impossível. O salary cap não ajuda na renovação dos contratos e, para piorar a situação, não só comprometeu as escolhas deste draft, como também as do draft anterior. A escolha de 1ª rodada foi utilizada na transação de Brandin Cooks, a de 4ª rodada em Peters e a de 5ª em Talib. Deste modo, a primeira escolha foi feita apenas na 3ª rodada e foi um jogador ofensivo. Isso significa que a chance de haver uma reposição jovem no elenco para a defesa cai drasticamente. Com esse panorama, é possível afirmar que este será o maior desafio para a equipe nesta offseason.

Associated Press
Se a questão do desmanche na unidade de Wade Phillips é urgente, um desafio menos urgente, mas não menos importante, é a situação de Jared Goff. Após um começo muito lento sob o comando de Jeff Fisher, o quarterback viu a sua carreira decolar com a chegada de Sean McVay. O head coach implementou um esquema criativo, com leituras simplificadas – o que, em princípio, parece contraditório – e se utilizou das regras para auxiliar o seu quarterback. Alinhando rapidamente a sua formação ofensiva, os Rams tinham até os 15 segundos antes de começar a jogada para que McVay fizesse a leitura da defesa e informasse Goff, no ponto eletrônico, sobre como proceder. Com esta tática o quarterback se mostrou um jogador que pode fazer a maioria dos lançamentos no campo, levando o time aos playoffs duas vezes. Entretanto, esta situação mostrou seus limites em jogos-chave, como o Super Bowl. Sem o auxílio do treinador, Goff se mostrou um tanto assustado e não conseguiu elevar o seu processamento mental ao nível requerido na NFL.

Se o quarterback pereceu diante da surpresa proporcionada pelos Patriots, o mesmo pode-se dizer de Sean McVay no grande jogo. Com duas semanas para se preparar, o seu time não apresentou nenhuma novidade que pudesse pesar em seu favor no jogo de xadrez que foi a partida. O seu ataque foi apático e passivo, de modo que o jogo foi disputado nos termos escolhidos pelo adversário. A impressão é que o head coach dos Rams foi pego de surpresa. Dado tudo o que o treinador mostrou, essa não deve ser uma grande preocupação para o torcedor, ainda que isso deva ser trabalhado para a próxima temporada. McVay foi uma das sensações de 2018 e foi absolutamente merecido.

Com tudo isso posto, o que o futuro reserva para os Rams, afinal? Duas decisões serão cruciais para entender o futuro da franquia. Para 2019, veremos nesta offseason como a direção vai fazer para minimizar a perda de talento na defesa, dadas as dificuldades já discutidas para a reposição. A verdade é que o time ainda tem grandes nomes e, para compensar, precisará fazer os seus talentos jogarem mais. Esta defesa foi montada para carregar o inexperiente quarterback e, se Goff não carregou a defesa nas costas, a verdade é que o seu ataque foi muito mais determinante para as vitórias do que a defesa galáctica. Se o trabalho de Wade Phillips é fazer seus jogadores entregarem mais, por sua vez o trabalho do GM Les Snead é encontrar barganhas para preencher os buracos no time com jogadores que sejam, no mínimo, cumpridores de função.

No longo prazo, o desafio está ligado a Sean McVay e Jared Goff. A pergunta é: o jovem quarterback conseguirá elevar o seu nível de leitura do jogo para trazer as vitórias nos grandes jogos? É baseado na resposta desta questão que o time buscará desenvolver a sua receita para o futuro. Se a comissão avaliar que ele não vai evoluir o suficiente, o time deverá se voltar à receita que levou o próprio coordenador defensivo à vitória no Super Bowl 50. Uma defesa dominante e um ataque conduzido de maneira a não comprometer. Caso a comissão confie no desenvolvimento de Goff, deveremos ver cada vez mais criatividade no ataque, com o quarterback cada vez mais no comando da situação. Se para 2019 o desafio será revitalizar a defesa, no longo prazo só o crescimento de Jared Goff poderá responder se no futuro teremos mais Sean McVay ou mais Wade Phillips.



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Pedro Luís

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