Foto: J.F. Diorio, Agência Estado
Agosto de 2018. Após um semestre de trabalho, Roger Machado é demitido do comando técnico do Palmeiras e a dúvida pairava no ar: quem viria para ser o novo comandante? Alguém da “nova safra” de treinadores? Qual o problema do time: ego dos jogadores, muito “estrelismo”? Foi então que o nome cogitado e contratado foi de um velho conhecido: Luiz Felipe Scolari, conhecido como Felipão.

Aquele mesmo da Copa de 2014. O do 7x1. A memória recente e trágica sempre paira sobre a torcida brasileira. Normal. Mas poucos se lembram do que Felipão fazia ou havia feito antes de 7x1. Ganhou uma Libertadores com o Palmeiras. Duas Copas do Brasil, sendo que uma delas com um esquadrão extremamente horroroso comparado aos dias atuais! Ganhou uma Copa do Mundo! Mas a dúvida que ficava era: qual dos “Felipões” veríamos? Do 7x1 ou o vencedor?

O treinador tem seu estilo um pouco paizão e ranzinza. Acolhe o jogador como ninguém, mas o primeiro que lhe faltar com respeito terá inúmeras consequências. Mas o fato é que depois da estreia no Campeonato Brasileiro sob comando do Palmeiras, Felipão coleciona muitíssimos pontos positivos. Felipão tem um grupo na mão. Mas o que pode ter acontecido para que o Palmeiras se tornasse tão vencedor em tão pouco tempo?

Em resumo, a torcida resolveu apelidar o novo estilo de jogo do Palmeiras de “Scolarismo”. Mas afinal, por que o Scolarismo foi implantado e por que está dando certo? Por que foi abraçado pelos jogadores?


Todos jogam!

São notórias as opções de jogadores que o elenco do Palmeiras oferece. Não é arrogância da torcida ou forçada de barra. É a realidade. Um elenco vasto de jogadores exige que sejam dadas muitas oportunidades a todos. Felipão abraçou essa ideia e praticamente todos do elenco do Palmeiras jogam as partidas. Alguns jogam a Libertadores. Outros o Campeonato Brasileiro.
Felipão colocou um time considerado alternativo para o Brasileirão. Como sabemos disso? Eram os jogadores que menos vinham tendo oportunidades de jogo com Roger Machado e outros treinadores. Mas estavam lá, nos jogos da competição, mostrando que podem defender a camisa do Palmeiras. Exemplo disso é o centroavante Deyverson, criticado pela torcida (pelo site também) que melhorou muito de rendimento e vem marcando gols importantes. Esse conjunto de melhorias de desempenho do Palmeiras fez com que o verdão saltasse da sexta colocação com Roger para a liderança (por enquanto) sob comando de Felipão.
Deyverson comemora gol pelo Palmeiras contra o Vitória-BA (Palmeiras/Divulgação)
Por outro lado, o “time principal” ficou restrito à Libertadores e Copa do Brasil, chegando na semifinal da Copa e pelo menos na semifinal da Libertadores. Alguns casos isolados como uma entrada desnecessária de Felipe Melo no jogo diante do Cerro Porteño-PAR renderam ao atleta o “rebaixamento” para o time do Brasileirão. Ao time “alternativo”. E o jogador aceitou tanto numa boa que conseguiu atuar em alto nível, de acordo com sua capacidade técnica e conseguiu ganhar novamente apoio do comandante.
Felipe Melo expulso diante do Cerro Porteño-PAR (Nelson Almeida/AFP)
Em resumo, não há espaço para a famosa “cara feia” no time do Palmeiras. Jogador quer jogar todo jogo e com Felipão, todos recebem as oportunidades! Isso contribui e muito, de maneira saudável, para que haja concorrência por vagas no time principal, mas sempre com oportunidades de mostrar o futebol que cada jogador tem a oferecer.
Thiago Santos (esq.) e Lucas Lima (dir.) em treino pelo Palmeiras (Cesar Greco, Palmeiras/Divulgação)

Sistema de marcação

Entrando em um mérito que não gosto muito de falar, mas para falar de marcação é preciso recorrer aos números. Até a 15ª rodada (última sob comando de Roger Machado), o Palmeiras acumulava 15 gols sofridos. Uma média de um gol por rodada o que significa um valor alto para uma equipe que almeja conquistas, seja em pontos corridos, seja em competições de mata-mata.

Felipão então priorizou o jogo de marcação, como é a sua característica: “zagueiro tem que zagueirar”. Para isso, precisou reforçar a frente da defesa do Palmeiras, sem deixar a zaga exposta. Os jogadores que jogam na função de segundo volante possuem maior comprometimento com a marcação. Só ver que Bruno Henrique por exemplo anda meio “sumido” da parte ofensiva, mas longe de dizer que vem fazendo partidas ruins.
É só parar para ver como o Palmeiras tem sofrido menos com esse novo sistema de marcação. Protegendo a zaga, a bola chega menos e com menos perigo. Além desse recuo do segundo volante, Felipão marca o adversário desde a saída de bola, o que dificulta ainda mais a criação adversária. Ou seja, quando a bola chega no setor defensivo alviverde já está mais tranquila para ser tirada pela marcação.

Como resultado, desde que Felipão assumiu, foram apenas 3 gols sofridos (um deles de pênalti inexistente contra o Cruzeiro) em 12 jogos. Uma média baixíssima que fez com que o Palmeiras saltasse da décima para a terceira melhor defesa do campeonato.

Futebol é “simples”

Uma das frases de Felipão nas entrevistas foi essa. Mas o que seria esse simples? Será que está esnobando algum profissional? Não. Felipão coloca o time em campo para os jogadores fazerem o que sabem em suas funções. Por exemplo: não vai querer que o Deyverson drible três jogadores no meio de campo. Vai querer que fique como homem de referência no ataque para receber lançamentos, o que é a sua qualidade e o que pode acrescentar ao time.
Deyverson comemora gol em dérbi pelo Palmeiras (Cesar Greco, Palmeiras/Divulgação)
Com o reforço do sistema de marcação, os pontas podem sair mais para o jogo. Dudu está solto pela ponta esquerda, assim como Willian ou Hyoran na direita. Dudu é jogador de atacar e é o que sabe fazer melhor. Lucas Lima então nem se fala, a melhora foi absurda! Não vem mais buscar bola no meio de campo para levar ao ataque, mas sim recebe a bola na intermediária ofensiva para fazer as jogadas.
A simplicidade de Scolari não se resume apenas ao setor ofensivo. Vem na marcação também. Time está pressionado ou apertado? Chuta a bola para longe! Melhor ela longe do que perto do gol. Sair jogando seria lindo e maravilhoso, mas uma perda de bola besta quando está pressionado pode render resultados catastróficos. O maior exemplo dessa simplicidade foi na partida ante o Cerro Porteño-PAR, em que com um a menos desde os 5 do primeiro tempo, o Palmeiras não foi com tudo para cima para matar de vez o jogo e dar espaços. Jogou com simplicidade e sabedoria.


Edu Dracena "zagueirando" contra o Botafogo-RJ (Cesar Greco, Palmeiras/Divulgação)

Não existe jogo ganho!

Pois bem, amigos. No final das rodadas do Brasileirão 2018 antes da Copa do Mundo, foi divulgada uma tabela sobre quem seria o suposto líder do Brasileirão se contássemos apenas os primeiros tempos. O líder seria o Palmeiras. Em vários jogos, o time saiu na frente e não conseguiu segurar ao menos a vitória e algumas vezes culminou na derrota da equipe.
Casos de jogos contra Botafogo, Sport, Ceará (este saindo na vantagem de 2x0) e Flamengo. Em todos o Palmeiras saiu na frente do marcador e cedeu o empate e a derrota contra o Sport. Fato que o verdão conseguia construir bem as jogadas para a abertura do marcador, mas recuava demais e não mostrava um certo apetite por matar o jogo e se tranquilizar. 

Tudo bem que não há placar largo com Felipão, no máximo, um 3x0 contra o Vitória em Salvador, mas algo mudou e tem que ser notado: postura da equipe. O Palmeiras não sai que nem abestado para o ataque, mas também não fica recuado totalmente. Se faz o primeiro gol, concentra um pouco mais na marcação, busca o contragolpe para fazer o segundo gol e se tranquilizar. Só pegar que em quatro jogos pelo Brasileirão (Vitória, Botafogo, Chapecoense, Atlético-PR e Cruzeiro) e dois pela Libertadores (Cerro Porteño-PAR e Colo Colo-CHI), o verdão abriu a margem de dois gols de diferença contra seus adversários. Portanto, essa mudança de postura é essencial para a equipe.
Palmeiras unido em busca das vitórias (Cesar Greco, Palmeiras/Divulgação)


Considerações finais
Lembro de que foi feito um texto sobre a demissão de Roger Machado juntamente com a chegada de Felipão ao Palmeiras. O alviverde era o sexto colocado, oito pontos distante do então líder Flamengo. Atualmente, o Palmeiras é o primeiro colocado com 56 pontos, com 3 pontos de distância do vice-líder Internacional, com 53 pontos. Isso sem contar nas melhorias de desempenho citadas no texto.
A avaliação pode ser feita com toda certeza de maneira positiva. Os resultados mostram isso. Felipão parece que diminuiu a pressão e a cobrança em cima dos jogadores e fez com que eles ficassem mais afim apenas de jogar futebol – o que vinha sempre sendo cobrado no blog! Não existe mais reclamação abusiva da arbitragem, mesmo com margem para isso.

Se a tendência é realmente continuar melhorando com Felipão, o Palmeiras vai ganhar e muito. E claro, com todo o mérito dos jogadores que estão desempenhando muito bem suas funções.
Compartilhe:

Leonardo Paioli Carrazza

Deixe seu comentário:

0 comments so far,add yours