Na noite deste domingo (7), os Brasileiros conheceram as escolhas do eleitorado em todos os níveis, inclusive e principalmente, o já anunciado segundo turno da corrida presidencial que confirma a polarização entre o antipetismo, representado não mais pelo PSDB de outrora, mas por Jair Bolsonaro, que sai como o grande vitorioso deste primeiro turno elegendo enorme bancada no congresso e nas assembleias legislativas de todo o país. De outro lado, o Lulismo representado por Fernando Haddad, que conseguiu manter a hegemonia do modo petista de governar no Nordeste, mas foi sumariamente derrotado no Sul e em outras regiões onde o Agronegócio fala alto. Configurando um cenário de forte avanço ultraconservador no parlamento e nos estados, o PT tem uma difícil missão de convocar o eleitor e as forças políticas para unirem-se em torno do apreço pela democracia e os direitos individuais e coletivos.


É preciso a parte de falar na importância da luta pela democracia e os direitos individuais e coletivos, entender esse movimento ultraconservador que fez com que Bolsonaro, o PSL e demais aliados como o PSC e até mesmo o tal de "NOVO" que em MG e na figura de seu presidenciável Amoedo mostrou que de "novo" não tem nada. Colou a ideia do antipetismo, a ideia de que o PT é o único responsável por todas as mazelas do Brasil, por um sentimento naturalmente conservador de boa parte da população Brasileira, que se mira nos poderosos como exemplo de sucesso. Pela indignação com alianças que o partido fez e que geraram na sua deposição do poder, em um processo de conluio da própria base aliada e no entendimento de que este mesmo PT, ao ser deposto do poder, levou Temer a cadeira, responsável por retrocessos históricos no Brasil.

É um movimento de doutrinação o que vemos, o eleitor ultraconservador hoje finge não ver o quão o Brasil (apesar das investigações de corrupção virem a tona, antes eram sumariamente engavetadas com apoio da grande mídia) melhorou em 12 anos de governabilidade petista e o quão se tornou ingovernável o país a partir do não aceite da derrota de Aécio Neves, que junto ao centrão de nomes como Eduardo Cunha e Rodrigo Maia, acabou levando ao encerramento precoce do governo escolhido nas urnas, mesmo que sem qualquer crime relevante para tal. Estes Brasileiros, tomados pelo discurso de "revolta contra a corrupção", como se as bancadas ruralistas, da bala e o próprio Cunha, não fossem atolados pelos conchavos políticos, impuseram duras derrotas ao MDB e principalmente ao PSDB que derreteu em todos os níveis, no parlamento e na votação de Alckmin, que ficou nos 4%, patamar inimaginável historicamente para os tucanos.

Esse discurso duro acaba atendendo a uma demanda de negação da política, estratégia fincada em muita fake news, em muita doutrinação via redes sociais, em especial o Whatsapp e o Facebook. Numa contradição que não se percebeu ou finge-se não perceber, que é a de um candidato falar em "fim de ativismo", "autogolpe", "Constituinte feita por 'notáveis'" e ainda assim dizer que em não vencendo o Brasil viraria uma "Ditadura Comunista", movimento que jamais existiu. Então, vivemos num cenário onde as pessoas estão radicalizadas, aceitando qualquer que seja o discurso que negue os partidos e o modo tradicional de fazer política, ainda que Bolsonaro e seus filhos, que trazem a reboque consigo agora o PSL e o PSC principalmente, tenham se alimentado disso durante toda sua atuação política. Sai dessa eleição como grande "arrependido" o Patriota, que teve ele a chance de fazer tal bancada, mas iluminação ou não, perdeu a presença desse movimento conservador e acabou engolido por Bolsonaro.


Falamos em derretimento de candidaturas, Alckmin teve seus votos (e seus apoios, leia-se) absorvidos por Bolsonaro, me repetindo, mas o PSDB já não atende o sentimento de quem é antipetista, o discurso moderado e propositivo já não atende a onda de loucura que tomou conta do cenário político. Para mim porém, é incógnita o que aconteceu a base de votos de Marina Silva, que teve mais de 22 milhões de votos na última eleição, que nesta eleição chegou a ter pelas pesquisas 16%, caiu a 4% e terminou com 1%, atrás de Daciolo. Não consigo enxergar pra onde tenham ido seus votos, é diferente do voto tradicionalmente psolista, onde é possível identificar sua absorção por Haddad. Há porém uma candidatura que não derreteu, um voto que era convicto e que tem tudo pra ser absorvido integralmente por Haddad, que é o voto em Ciro, os 12,5% que ele manteve até o fim, endossam a convicção desse voto e a força desse programa, relegado a falta de apoio pelo PT e que agora deve se congraçar numa união de forças democráticas, incluso com convergência programática em alguns pontos.

Um último aspecto é que mesmo elegendo grande bancada, crescendo em vários estados e com uma votação que quase rendeu a um candidato sem programa, sem propostas e sem partido uma vitória em eleição presidencial em primeiro turno, eles insistem nesse discurso covarde e barato contra as urnas. São antidemocráticos e pretendem destruir todos os instrumentos da democracia. O eleitor


Com tudo isto colocado, a diferença estabelecida e a convicção de voto do eleitor de Bolsonaro é grande, é uma missão muito difícil que tem o PT, chamar o eleitor que se absteve no primeiro turno, para em nome da democracia e da justiça social, ir as urnas e se juntar ao eleitorado de Ciro para virar o jogo. Os debates e o tempo de TV tem tudo para favorecer Haddad, mas será que isto será suficiente? E em chegando ao governo, mesmo o PT sendo (ainda) o maior partido do Congresso, tem apenas três cadeiras a menos que o PSL, galgado no whats e na figura de seu líder e mesmo com o PSOL crescendo e vencendo a cláusula de barreira, o cenário é totalmente desfavorável. Vislumbramos portanto quatro anos muito difíceis para o país.



Em SP ao menos se teve um "consolo", ainda que a candidatura de Lisete Arelaro não tenha obtido êxito e que Eduardo Suplicy tenha sido derrotado por Olímpio e por Mara Gabrilli. que é uma pessoa séria e honesta apesar dos apoios que tem. A virada espetacular de Márcio França (PSB) sobre Paulo Skaf (MDB) o levando ao segundo turno, mostrou que há um caminho sim ao ultraconservadorismo representado pela dobradinha Dória e Bolsonaro.

É sem marketing barato e com propostas simples e falando em tom moderado, que o peessebista vai tentar derrotar Dória, uma missão difícil, mas dada a neutralidade de seu partido e uma rejeição muito baixa, é plenamente possível que aconteça, com a absorção por parte de França de votos em Skaf e Luiz Marinho, que sobretudo no segundo caso, são votos que não admitem as peripécias do tucano, que atraiçoa a cada dia seus próprios correligionários.


Já no Rio, o crescimento de Wilson Witzel (PSC) não foi capturado pelas pesquisas, Romário (PSB) foi sumariamente engolido e a fragmentação entre PSOL e PT (com o segundo não apoiando o primeiro, o que poderia ter mudado o cenário se segundo turno) levou ao mesmo movimento de forças que vimos no Brasil, uma captação desse voto conservador por parte de Witzel, alimentado por grande engajamento em whatsapp e facebook, que acabou acontecendo as vésperas da eleição, tanto que não foi aproveitado na corrida pelo Senado, pelo Everaldo, também do PSC. 

A expressiva votação dos que carregam o apoio e o nome de Bolsonaro contrasta com a falta absoluta de uma proposta clara para a segurança, afinal, "vamos resolver isso ai" não é proposta. Estranho notar que o crescimento de Witzel e o maciço apoio a Bolsonaro em seu ninho eleitoral dão a entender uma certa aprovação a gestão municipal da capital, do também conservador da IURD Marcelo Crivella. É um cenário absolutamente maluco, onde se lamenta a derrota no Senador de Chico Alencar. 


Movimento similar foi visto em MG, com Zema no "Novo", que mostrou que o partido não tem nada de inovador ao declarar apoio a Bolsonaro e com isso protagonizou uma grande virada sobre Anastasia (PSDB) que como no Brasil e no Rio, novamente, não atendeu a demanda antipetista, o endurecimento do discurso. Em MG o PT saiu duramente derrotado com o atual governador Pimentel e com a ex-Presidenta Dilma. 


Já o Nordeste consolidou o PT e foi a salvação pelo segundo turno e manutenção de governos estaduais e grandes bancadas. O discurso higienista de quem diz que o Nordeste vota por "ser sustentado" é uma falácia, a economia local se desenvolveu muito, ainda faltam os rincões da região, mas as regiões metropolitanas são plenamente desenvolvidas, com industrialização, com o setor de serviços muito forte e o consumo impulsionado, as regiões regidas por governos no campo progressista inegavelmente avançaram, o que dificilmente reconhecerá o campo conservador em algum momento. Destaca-se ainda no Nordeste a vitória de Ciro Gomes em seu sitio local e o quão foi decisivo para dar o golpe de morte em Eunício Oliveira (MDB). A grande aprovação petista na Bahia, o legado de Flávio Dino (PC do B) no Maranhão, derrotando inteiramente o clã Sarney. 


Porém, no Centro do Brasil onde o Agronegócio impera ante as comunidades indígenas, quilombolas, as reservas naturais e a agricultura familiar, o campo conservador avançou e muito, destaca-se Goiás, Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que também caminharam ao viés Conservador. Assim como o Sul do país. Consolo é ver que em Roraima, apesar de tudo Romero Jucá também foi derrotado.


Finalmente em resumo, é sim uma onda conservadora que dificilmente será contida neste segundo turno e ainda que seja, dificilmente vai deixar o Brasil andar no parlamento, mas é também fruto (ainda que de forma torta) da negação total das atuais práticas políticas, não a toa o derretimento de PSDB e MDB.




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Imagens: Acervo JC, Reprodução Facebook. 


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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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