Foi realizado na noite desta quinta (4), o último debate entre os presidenciáveis na TV Globo, que não contou com a presença de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas que mesmo estando clinicamente de alta, logo, está apto, fugiu do confronto direto e preferiu dar entrevista no seu ninho, a RecordTV, além da exclusão de Daciolo (Patriota), que apesar de ter representação parlamentar foi retirado do duelo, porque é a Globo e a Globo manda, faz suas próprias regras independente do que determina a lei.

Apenas para esclarecer, claro que a presença de Daciolo a meu ver atrapalharia o debate. Mas "a democracia tem também dessas", o partido dele, sabe-se lá como, conseguiu representação parlamentar e por isso tinha direito a participar do debate, foi uma medida intransigente, que pode até ser encarada como desrespeito a religiosidade do candidato, o que é perigoso na maior tribuna do país, visto que está errado sim ele impor a religiosidade dele dada a laicidade do Estado, mas laicidade não é laicismo, ele não pode ser excluso por ser religioso, pode no máximo, ter a bíblia impedida de ser usada no Ar.


Foi um último debate onde se viram muitos ataques a Bolsonaro, apesar de crer que parte de seu crescimento nas pesquisas passa por uma mudança de metodologia na busca de atender a anseios do Mercado. Vejo sim que falar o tempo todo na ameaça que esse candidato representa, pode sim consolidar o eleitor ultraconservador, afinal, este é o eleitor "politicamente incorreto", "contracultura", que faz as coisas no intuito de "desafiar a sociedade", é a turma do Roger, do Gentili, enfim, é um pessoal tresloucado. Portanto, quanto mais se falar na ameaça que isso representa, mais tesão sentem, querem ver o circo pegar fogo, acham que "só Comuna" sofre em uma Ditadura. O que eles mal sabem, é que só de o agente de repressão FANTASIAR que tu é subversivo, já é motivo para as piores barbáries. Viver em um Estado Autoritário, que pratica terrorismo contra o povo não é essa delícia que eles imaginam, mas estão dispostos a viver isso, esse voto não muda. Outra coisa a se destacar é que na maioria dos duelos, os candidatos preferiram a zona de conforto ao duelo, tresloucado Dias a parte.

Por outro lado, como um cara ideologicamente progressista, de Esquerda, fico muito feliz de que nos poucos momentos de proposição do Debate (que para o péssimo Álvaro Dias foram muitos), isso tenha sido encampado pelos candidatos desse campo, Ciro, Haddad e Boulos, que elevaram o nível da discussão em suas participações.


Precisa ficar claro que o Brasil tem de subverter a atual lógica de que o pobre paga muito imposto e o rico tem incentivo. De que o agricultor familiar e quem luta por terra no campo é desrespeitado e que o "AGRO é Pop", o Agronegócio é carregado nos braços pelo Governo Federal e manda o que melhor produz pra fora, deixando o mercado interno com o resto e muitas vezes com o tóxico. É preciso acabar com a PEC do Teto e com as contrarreformas do (des)governo Temer. Tudo isso é consenso nas três candidaturas desse campo político, felizmente.

Tivemos também um confronto de ideias muito rico entre Ciro e Haddad quando o assunto era Previdência, com ideias complementares um ao outro, entendendo que cada atividade, cada região tem sua peculiaridade, que é inadmissível que o trabalhador tenha (e nunca vai conseguir) que ter 49 anos de registro em carteira para que só aí possa receber aposentadoria integral. Absurdo, em que dentro das naturais diferenças programáticas, ambos concordaram que há que lutar contra. É natural que hajam diferenças de programa e que o candidato em terceiro se coloque como uma via alternativa aos líderes, é legítimo, o que não pode é a militância de um criminalizar o outro, esse desequilíbrio precisa acabar, pois ambos estarão na mesma mesa na próxima etapa, passe quem passar e isso é até motivo de um texto a parte, que talvez não dê tempo de fazer ainda neste primeiro turno. Vamos agora falar individualmente dos candidatos.


Álvaro Dias (Podemos) - Finalmente nos livramos dessa presença, uma candidatura a serviço de um programa de destruição de um partido político, comandado por agentes públicos de Curitiba, que independente dos erros deste mesmo partido que levaram a isso, ultrapassou a racionalidade e o que se permite dentro do campo jurídico. Este candidato não fez questão de apresentar proposta nenhuma, fez uma campanha a serviço do ódio, da divisão do país, fez o serviço sujo para Bolsonaro o tempo todo e ao lado de Dória, deve ser o primeiro a anunciar apoio a ele no segundo turno. A "Refundação da República" e o incômodo com propostas, mostram que ele não crê em si próprio, não crê que não seria um corrupto, já que fez parte do PSDB por anos e anos, como Governador e Senador, dentro desse modelo de governança, dentro do sistema político que do alto de seu desequilíbrio, alega ser intrinsecamente corrupto. Atrapalhou o debate e foi muito bem situado por Haddad. 

Cabe registrar por fim, que vi uma sabatina na RecordNews com seu vice, Paulo Rabello de Castro, no qual este apresentou muitas ideias, algumas delas até interessantes. Me pareceu que ele sim deveria encabeçar essa chapa, ele sim é respeitável, diferente deste candidato.


Ciro Gomes (PDT) - Debateu muito bem, apresentou propostas em todos os momentos, mostrou soluções nos campos em que teve oportunidade de falar. É um candidato que se coloca como uma via diferente ao PT e a Bolsonaro, sem ataque, com um programa diferente e com a constatação de que pode ter diálogo com todos os campos e com isso fazer o Brasil progredir. É legítima sua campanha, não configura ataque a do PT em momento algum (salvo um ou outro militante mais apaixonado o que é ótimo que tenha). Apela para um fato, é o candidato que venceria em todos os cenários de segundo turno, são as pesquisas que colocam isto. É legítimo tudo isso, resta ao eleitor fazer a avaliação e aos militantes pararem de querer censurar o outro lado, parte a parte, nenhuma candidatura vai renunciar agora, menos ainda deixar de lutar para avançar. Neste debate por exemplo ficou claro a diferença programática que impede a tal "Alcirina", o programa de Alckmin é incompatível com um progresso de baixo pra cima, o que se pode é tirar votos dele, isso sim.


Henrique Meirelles (MDB) - Finalmente terminou a campanha de Meirelles ao Planalto, que surgiu da vaidade do Governo Temer. Pouco habilidoso, o candidato se atrapalhou muito na dialética e repetiu o mantra da confiança e dos 10 milhões de empregos. Surpreendente que tenha chegado a 2% nas pesquisas.


Guilherme Boulos (PSOL) - Protagonizou um dos momentos mais emocionantes da história dos debates, tal qual o "Viva o Brasil" de Plínio, quando falou das torturas e da barbárie cometidas pela Ditadura, confrontou os que fazem e apoiam contrarreformas contra o povo, falou em taxar o Meirelles e os demais poderosos dentro da Globo, denunciou o tóxico do AGRO.  Apesar de não ter decolado, Boulos fez muito bonito nessa campanha, encerrando com chave de ouro, defendeu com maestria os ideais e o programa do PSOL. Foi uma candidatura séria e honrada, que apesar de toda desconfiança, a essa hora certamente orgulha a militância.


Geraldo Alckmin (PSDB) - Mostrou que é o candidato de Temer de fato, favorável aos acintes contra os trabalhadores e com propostas absolutamente genéricas. Quem quer mudar esse ciclo de favorecimento aos poderosos e de medidas anti-povo não pode enxergar nele uma alternativa. Seu programa em nada se parece com o de Ciro e até mesmo de Marina. O que resta é esperar que os votos dessa candidatura se esvaziem, o PSDB tem investido fortemente em marketing, mas felizmente não está colando. SP não é essa maravilha que ele vende, Alckmin falar em "expansão de trilhos" é uma ofensa ao Brasil.


Marina Silva (REDE) - Desde a briga com Bolsonaro lá na RedeTV (clique), intensificando no Debate do SBT, a candidata tem adotado uma postura mais de confronto, tentou fazê-lo com Haddad e atacou o PT diversas vezes, bem como Bolsonaro até o chamando de "fujão". essa postura mais aguerrida de Marina certamente (apesar de não refletida nas pesquisas) agradou muita gente, ver uma candidata mais reativa, mas realmente também não decolou a sua candidatura. Ela que fala tanto em "autocrítica" precisa fazer tal exercício caso queira voltar em 22.


Fernando Haddad (PT) - Na RecordTV (clique) ficou em uns a dúvida se o candidato petista tinha reagido adequadamente aos ataques. Já no ambiente global não restou dúvida, o candidato foi sereno, duro contra os ataques antipetistas, mas propositivo sempre que pôde, dirigindo-se ao eleitor de forma muito clara. Incomoda a alguns (inclusive a mim) o excesso de citações a Lula, mas a proposta é essa e é legítima, ele é candidato do Lulismo e por isso é o favorito a avançar ao segundo turno.




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Foto: G1. 


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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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