Filho de Jango encampa candidatura Déjà vu

Carioca e filho do ex-presidente João Goulart – Jango –, mandatário deposto pela Ditadura militar de 1964, João Vicente Fontella Goulart – João Goulart Filho na urna – é candidato a presidente do Brasil pelo nanico Partido Pátria Livre – PPL­. Goulart Filho tem 61 anos e declarou ao TSE ser o proprietário de bens avaliados em pouco mais de 8,5 milhões de reais. Em uma chapa pura, ou seja, sem coligação, Goulart tem o gaúcho e jurista Léo da Silva Alves, também filiado ao PPL, como vice.
Foto: Pedro França
João Goulart Filho é poeta, escritor, crítico, filósofo – formado pela PUC do Rio Grande do Sul –, fundador e presidente do Instituto João Goulart – IPG, dedicado à memória de Jango. Ele também é o autor de “Entre Anjos e Demônios -poemas do exílio” e de “Jango e eu: memórias de um exílio sem volta”,  este último com relatos do tempo em que ficou no Uruguai, onde sua família exilou-se após o golpe militar. Argentina e Inglaterra compõem os países pelos quais Goulart passou antes de voltar ao Brasil, em 1979, e colaborar na fundação do Partido Democrático Brasileiro – PDT, ao lado de Leonel Brizola, seu tio por parte de pai – Brizola foi casado com Neusa Goulart, irmã de Jango. 

Em 1982, já pelo PDT, João participou das eleições e ganhou o direito de ocupar uma das cadeiras da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, como deputado estadual. Após isso, o hoje presidenciável pelo PPL voltou a atuar politicamente em 1998 como presidente do Instituto de Terras do Rio de Janeiro – Iterj, na gestão do tucano Marcello Alencar, governador do estado do Rio de Janeiro de 1995 a 1998. Com a sucessão de Alencar por Antony Garotinho no governo do RJ, Goulart assumiu a Subsecretaria de Agricultura fluminense.  João Goulart desfilou-se do PDT em 2017 quando discordou do apoio dado pela sigla à administração de Rodrigo Rollemberg (PSB) no Distrito Federal. Na época, Rollemberg vetou a construção de um memorial em homenagem a Jango, projetado por Niemeyer .
Foto: Edílson Rodrigues
No PPL desde julho de 2017, João Vicente defende uma plataforma de governo que carrega o lema “Distribuir a renda, superar a crise e desenvolver o Brasil”, se coloca como defensora do nacionalismo e do trabalhismo, com foco no fortalecimento do mercado interno, e crítica os planos econômicos implantados por governos anteriores, incluídos os petistas. Para tanto, traz no primeiro item de seu plano de propostas as promessas de dobrar o salário mínimo real em quatro anos, revogar a contrarreforma trabalhista de Temer (clique!), reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais e proibir a terceirização irrestrita nos moldes aprovados ano passado (clique!).

O programa de governo promete ainda “tornar realidade o princípio do pagamento de salário igual para trabalho igual”, “revogar todas as emendas e leis previdenciárias de FHC, Lula, Dilma e Temer” e garante que “sem expansão do mercado interno e distribuição da renda não haverá desenvolvimento econômico”. Entre as propostas há também a redução da taxa Selic para “destinar ao investimento público vastos recursos que, desde FHC, são desperdiçados em pagamentos de juros astronômicos”, em uma medida que deve acrescentar 100 bilhões de reais anuais em receita para a União, e o fortalecimento dos bancos públicos e do caráter estatal da Petrobras e Eletrobrás. Pelo mesmo caminho segue a promessa de reestatizar a Vale e de criar uma empresa estatal para o comércio exterior.
Foto: Divulgação / Equipe de João Goulart Filho
A plataforma de Goulart ainda manda um recado ao que a campanha chama de “pretensos campeões”, empresas privadas com linha de crédito e subsídios estatais. “Bilhões para multinacionais e pretensos ‘campeões’ do tipo Odebrecht, JBS, EBX, Oi etc, nunca mais! Revogar a Emenda constitucional do Teto do Gasto Público”,  consta do segundo tópico do programa que ainda fala na criação de 20 milhões de empregos em quatro anos e em dobrar o percentual do PIB destinado a investimentos públicos – segundo o documento, hoje no patamar de 16%.

O candidato promete “defesa efetiva da Operação Lava Jato e da Lei da Ficha Limpa” e reconstruir o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, de acordo com a plataforma, “esvaziado após a desastrosa fusão com o Ministério das Comunicações”.
Foto: Juliana Santos
Uma Reforma Agrária também é destacada pelo presidenciável. Entre as suas propostas há a promessa de, em caso de vitória, no primeiro semestre de governo assentar 130 mil famílias, de um total de 400 mil assentamentos previstos para o primeiro ano.

João Goulart se coloca como “herdeiro de uma vigorosa tradição – aquela que construiu o Brasil moderno, colocando o país, durante 50 anos, nos trilhos do desenvolvimento” e se compromete, em programa de governo, a antecipar a meta de matrículas brutas de jovens de 18 a 24 anos no ensino superior e estabelecer 15% da receita bruta da União para a área da saúde. Ao todo, o plano de governo de João Goulart compreende 20 tópicos com dados e propostas de intervenção.


A candidatura do "Filho de Jango" parece ser muito mais um movimento simbólico do que efetivamente uma disputa para governar o Brasil. João Goulart Filho tem propostas contundentes, de um programa de governo bastante alinhado com os ideais à esquerda e, para alguns analistas e veículos de comunicação por aí, seriam até ideais radicais. O que, sim, condiz com a história de seu pai, que até hoje se cogita ter sido assassinado, mas não tanto com sua atuação e alianças políticas.

Hoje, Goulart Filho está no PPLpartido que, apesar do nome remeter vagamente movimentos à direita, nasceu com sólidas bases ligadas ao progressismo de esquerda, o que é sustentado em seu programa. Apesar disso, o controverso candidato precisa explicar, por exemplo, se vai defender a atuação da Operação Lava-Jato nos moldes atuais ou dentro de uma atuação jurídica apartidária, como deveria ser todo ato das áreas do Judiciário, desde as investigações até os julgamentos em quaisquer instâncias.

Por: Claudio Porto e Adriano Garcia.



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Redação

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