Presidenciável do PDT participa de sabatina em universidade e volta a soltar os “cachorros"

Candidato pelo Partido Democrático Brasileiro – PDT, Ciro Gomes passou parte da manhã de terça-feira 04/09 na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, universidade de alto nível na cidade de São Paulo, onde foi sabatinado por jornalistas e pelo diretor executivo do jornal O Estado de S. Paulo, parceiro na realização do encontro, e respondeu perguntas de professores e alunos da instituição. Entre outros temas, Ciro fez radiografia do período em que o ex-presidente Lula esteve à frente do governo do País; voltou a explicar suas propostas para economia, sobretudo o programa “Nome Limpo” ou “SPCiro”, como este JC buscou detalhar (clique!); negou que venha estabelecer taxas para exportação; detalhou os projetos de reformas da Previdência, com a capitalização do sistema – tal qual é na iniciativa privada – , e agrária; e, de certa maneira, aproveitou-se do ambiente acadêmico para dar aula.
Foto: Roberto Casimiro
Com duas horas de duração, a sabatina teve, em seu ponto alto, Ciro Gomes explicando por que não enxerga culpabilidade do ex-presidente Lula na condenação do juiz Sérgio Moro e chamando atenção para a responsabilidade da mídia tradicional em alimentar a arbitrariedade jurídica. “Eu sou profissional do Direito. Esse país não vai sair bem se nó, os brasileiros, começarmos a achar conveniente, politicamente, agredir, insultar e, pior, prender quem a gente não gosta politicamente. Jornalistas, inclusive”, disparou o presidenciável a partir da minutagem 55:50seg do vídeo abaixo. Quando do trecho “jornalistas, inclusive”, o candidato apontou para Eliane Catanhêde, colunista do Estado e comentarista política do canal de notícias Globo News, notoriamente – para não dizer cega – crítica a partidos de esquerda.

Vídeo: Canal Rádio e TV Faap Corporativa no Youtube

A fala contundente de Ciro foi precedida por uma breve explanação, com base nos autos, sobre a sentença e condenação de Lula, a qual considera “frágil”, e por uma resposta categórica ao questionamento de José Alberto Bombig, editor executivo do jornal, se “já tinha visitado um imóvel com empreiteiro”. Em resposta, Ciro simulou: “eu comprei um apartamento no 8ª andar, de 70 metros quadrados, e, de repente, o dono da incorporadora diz ‘tenho uma cobertura aí melhor para você, não quer vim ver, não? ’ ‘Não, eu vou lá ver. É muito caro’ ‘Venha ver, rapaz. A gente faz um desconto para você’ ‘Tá bom, eu vou’ Aí subo lá em cima, vejo ‘não, rapaz, não dá para mim, não. É muito caro’ e fui embora”.

Em dado momento, quando reforçou sua oposição às elites e ao rentismo financeiro que tem espoliado o País, Ciro Gomes falou da “arrogância de Bonner” e dos “porta-vozes” do baronato em não questionar programaticamente o candidato Jair Bolsonaro (PSL), que, de acordo com Ciro, tem incorporado uma personagem criada e alimentada pelas elites em troca do poder político que ele poderia vir a ter em caso de vitória. Para Ciro, trata-se de ser respeito e democracia perguntar a Bolsonaro quais são as propostas de sua plataforma para resolução dos problemas do Brasil. “Ninguém estuda nada para dar o mínimo de respeito, não a ele, mas a um de cada cinco brasileiros que estão aí indignados e que, cada dia que ele é deslegitimado arrogantemente por este baronato brasileiro, fica mais forte. E ele é uma ameaça real ao País e à democracia”, destacou o candidato em mais uma das suas melhores participações em entrevistas e sabatinas ao longo desta campanha.

Questiona-se – e o articulista inclui-se no grupo – por que o candidato Ciro, de ótimo programa de governo e dono de oratória, certamente, invejada por muitos de seus concorrentes, não trata de tais assuntos da mesma maneira em outros espaços, principalmente quando está na mídia tradicional.

Foto: Divulgação / Equipe de Ciro Gomes
Ao pegar como exemplo dessa variação – não do discurso, já que este parece manter-se, mas dos níveis de contundência aplicados na apresentação de seus pontos – as palestras e seminários em que Ciro esteve durante a pré-campanha e as participações em programas televisivos e debates, já em campanha, parece que se trata de uma estratégia, uma recomendação da equipe do pedetista para modular a maneira como é feita a dialética com o eleitorado a depender do ambiente e circunstância.

A estratégia faz sentido e segue o que é apregoado nos cursos de comunicação: o discurso deve ser elaborado com base no público a ser atingido. Mas, para este momento, parece equivocado manter Ciro Gomes amordaçado na bancada do Jornal Nacional, sem desferir críticas ao atual sistema – intermitentemente defendido pela mídia –, e soltá-lo para defender seus ideais, com leveza e cordialidade ímpar, em entrevistas e sabatinas como a da FAAP que, no máximo, alcançam os trends topics das redes sociais.

Há quem diga que Ciro não sobe nas pesquisas por conta de seu discurso prolixo, indecifrável para parte considerável do eleitorado. Porém, o que parece estar minando a boa candidatura pedetista é a falta de tato político-eleitoral de sua equipe, que não compreendeu a atipicidade deste período eleitoral – de longe o mais indefinido dos últimos vinte anos – e tem privado o eleitor de assistir, sobretudo nos grandes veículos de comunicação, o Ciro da sabatina na FAAP. 



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Claudio Porto

Jornalista independente.

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1 comments so far,Add yours

  1. Veja Claudio, eu sinceramente não sei se a equipe dele tem um "pouco tato político", na condição dele, ou ele seria "vice", o que jamais aceitaria, ele voltou pra ser candidato á presidência e não sombra ou poste, ou ele teria o que tem, uma coligação praticamente nula, então falta TEMPO a ele pra expor melhor isso, mas ele tem sido contundente na maioria das entrevistas que tem participado, talvez não tanto como nessa, porque nas outras também não haviam entrevistadores tão fanáticos, a pergunta sobre Lula por exemplo foi vergonhosa e o "jornalista" devidamente tirado do chão com argumentos, que é a maneira correta de faze-lo.

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