Semideus do mercado financeiro enfim realiza sonho de, ao menos, ser candidato a presidente do Brasil

Anapolino, portanto nascido em Anápolis, município goiano, Henrique de Campos Meirelles – Henrique Meirelles na urna – tem 73 anos de idade é postulante à Presidência da República pelo Movimento Democrático Brasileiro – MDB, partido do atual (des)governo Temer.
Foto: Zanone Fraissat
Na oposição aos comunistas do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Meirelles iniciou a atuação política – que viria a ser interrompida por conta de negócios, no estrito senso – como líder estudantil ligado à juventude católica, em Goiânia, apesar de os laços políticos virem de família: o pai, Hegesipo de Campos Meirelles, ocupou interinamente o cargo de interventor federal em Goiás, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), e o avô materno, Graciano da Costa e Silva, foi prefeito por três vezes de Anápolis. O candidato deixou o centro-oeste brasileiro para estudar engenharia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP, em São Paulo, onde se formou em 1972, com especialização em engenharia de produção. Meirelles chegou a ter uma fábrica para a produção de blocos de concreto antes de se enveredar pelo sistema financeiro, já no Bank Boston, em 1974, no Rio de Janeiro.

Com mestrado em Ciências da Administração, Henrique Meirelles foi diretor-superintendente do departamento de Leasing da instituição financeira – responsável pela locação financeira, onde o contrato é condicionado a um prazo determinado para pagamento –, de 1975 a 1978, e vice-presidente da sucursal brasileira do banco de 1981 a 1984, até assumir a presidência do Bank Boston Brasil, onde ficou de 1984 a 1996, ano em que foi elevado ao cargo de presidente mundial da entidade – 1996 a 2002.
Foto: Joédson Alves
Em 2002, o hoje candidato a presidente da República aposentou-se do mercado financeiro e filou-se ao Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB, legenda pela qual se elegeu deputado federal por Goiás. Sem nem mesmo tomar posse do cargo eletivo, Meirelles aceitou o convite do ex-presidente Lula para presidir o Banco Central, onde ficou até o final de 2010. Com a saída do petista da Presidência, o candidato do MDB voltou a atuar na iniciativa privada na condição de presidente do conselho administrativo da J&F(clique!) que viabilizava a implementação da instituição financeira Banco Original, pertencente ao mesmo grupo.

O sonho de ser presidente da República apareceu pela primeira vez em 2014, já filiado ao Partido Social Democrático – PSD, quando houve a cogitação de se lançar, mas a legenda optou pelo apoio a então presidente Dilma Rousseff (PT). Por conta da crise financeira, em 2015 o ex-presidente Lula recomendou que Dilma nomeasse Meirelles como ministro da fazenda, cargo que ele só veio a ocupar após o impeachment da petista, já sob o (des)governo Temer, em 2016. Henrique Meirelles formalizou sua filiação ao MDB em abril passado.
Foto: Diego Vara
Patrono da Emenda 95, mordaça para investimentos públicos por 20 anos, e responsável pelas contrarreformas trabalhista, aprovada pelo Congresso, e da Previdência Social – felizmente retirada de pauta no início deste ano –, o candidato mdebista declarou ter bens avaliados em 377,5 milhões de reais e defende a coligação “Essa é a solução”, de MDB e PHS.

A plataforma apresentada pela candidatura de Meirelles é liberal e de continuidade da agenda de Michel Temer. Em 21 páginas, o programa de governo do ex-ministro da fazenda traz cinco tópicos intitulados com a expressão “Brasil mais” e uma palavra de efeito: forte, justo, integrado, humano e seguro. Para a campanha trata-se de “cinco prioridades da nossa nação”.

Meirelles diz que “o Brasil precisa de um pacto de confiança para superar as divisões políticas” e se coloca como porta-voz de tal pacto. Para isso, promete fazer o País crescer 4% ao ano, índice registrado sob os dois mandatos de Lula – que, no documento, é destacado da seguinte forma: “como aconteceu quando [Henrique Meirelles] foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010” –, e reforça a “impressionante reviravolta” causada por ele à frente da Fazenda de Michel Temer, quando fala da queda – insustentável, já que voltou a crescer, e muito por suas medidas econômicas – da taxa de desemprego, de acordo com o programa, de 13,7% a 11,8% no 2º trimestre de 2017.
Foto: Lula Marques
Caso vença as eleições, Henrique Meirelles diz ser inevitável realizar a contrarreforma da Previdência enviada pelo próprio ao Congresso (clique!) e defende acelerar a privatização nas áreas “em que isso for necessário”, com a típica generalização liberal. Ele promete ainda criar um programa, semelhante ao Prouni, voltado a creches para beneficiários do programa Bolsa Família; a retomada dos mutirões de saúde, sabe-se lá em quais condições; e a construção de mais penitenciárias.  

Além de Meirelles, a chapa da coligação “Essa é a solução” é composta ainda pelo cirurgião dentista gaúcho e ex-governador do Rio Grande do Sul, Germano Antônio Rigotto – também filiado ao MDB
Foto: Bruno Menezes
O Fracasso anunciado de Meirelles é sintomático e se torna constrangedor em várias situações. Enquanto o PT não tinha presidenciável oficial (já que fatalmente não seria, como não o foi, Lula), o candidato de Temer dizia ser o grande responsável pelos avanços do governo do ex-presidente, como se não fosse Lula o realizador e sim o presidente do Banco Central - neste caso ele. Meirelles persiste em colocar-se como o candidato que representar aquele momento do Brasil e diz ser capaz de, novamente, gerar dez milhões de empregos. 

Quando o PT enfim passou a ter um candidato, as já latentes dificuldades de dialética de Meirelles tornaram-se irremediavelmente constrangedoras. O nome de Lula, que não saia mais de sua boca, agora perdeu lugar para a expressão "naquele tempo passado" e o candidato passou a seguir a cartilha dos economistas que dizem que "o excesso de intervencionismo e subsídios fizeram com que se criasse uma bolha de consumo que estourou e gerou a crise". Ora, se a tal bolha existiu, ela começou justamente na sua passagem pelo BC, no governo Lula, ou seja, se ele aceitar essa tese, ele mesmo tem grande responsabilidade do (segundo ele) fracasso, apesar de a fórmula ter dado certo no início. Como ele vai gerar os empregos que promete, com a mesma fórmula que julga ter gerado uma bolha? É definitivamente constrangedor, porém muito pouco significante. 

Por: Claudio Porto e Adriano Garcia.



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Redação

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