Ex-presidente luta contra tudo enquanto Haddad sai a campo em seu nome

Santinhos mal editados. Cartazes com cores, fontes e tamanhos desproporcionais. Adesivos, panfletos, camisetas, bonés e jingles toscos e bregas. A campanha eleitoral está oficialmente aberta para os 27.800 candidatos aos cargos do Poder Legislativo e Executivo. O número é superior ao da eleição passada: em 2014 o Tribunal Superior Eleitoral – TSE recebeu 26.162 protocolamentos de candidaturas para os assentos nas Assembleias Legislativas de 26 Unidades Federativas – no DF é Câmara Legislativa –, Câmara dos Deputados e Senado Federal, e para o comando dos Executivos Estadual e, principalmente, Nacional.
Imagem: Cartunista Carlos Latuff

Com o fim do prazo para a solicitação de registro de candidatura junto ao TSE, no dia 15/08, os postulantes estão autorizados a fazer o típico corpo-a-corpo com o eleitor e promover publicações pedindo votos nas redes sociais, ainda que o processo de deferimento ou indeferimento do registro esteja em curso. Em outras palavras, o protocolo de registro permite que candidatos iniciem suas campanhas, com exceção da propaganda em rádio e TV, que se inicia em 31/08, mesmo que não venham a estar nas urnas, por cassação do pedido pelos ministros da Corte eleitoral. Sob este aspecto, o protocolo que pede a candidatura de Lula tem repercutido como se a prática estivesse no campo do ineditismo e o ex-presidente fosse o único candidato a ter o pedido negado, já que se trata de um presidenciável condenado em um processo controverso (clique!), ou seja, e em tese, enquadrado na chamada Lei da Ficha Limpa.

Lançada pelas legendas PT, PCdoB e PROS, a candidatura supera o óbvio caráter eleitoral provocado por um forte partido político que busca a 5ª vitória em pleitos presidenciais. Ela, a princípio, cumpre papel importante na luta, defendida por militantes e não militantes do PT, pela libertação de um cidadão brasileiro condenado de maneira arbitrária.
Imagem: Cartunista Renato Machado

O movimento que pede a candidatura de Lula está nas pesquisas de intenção de voto, onde ao menos 1/4 do eleitorado diz votar no petista; nas 50 mil pessoas que estiveram em Brasília no dia 15/08 – número divulgado pela organização; segundo a PM do DF, 10 mil pessoas acompanharam o registro dele no TSE; e também na corrida maluca, protagonizada por figuras inexpressivas para o campo das boas ideias, que se deu na esteira do registro, com os pedidos de impugnação à chapa presidencial da coligação O Povo feliz de Novo. 

De candidatos a deputado federal, como Kim Kataguiri e o ex-ator pornô Alexandre Frota, passando pelos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL) e o milionário João Amoêdo (NOVO) (clique!), até chegar à Procuradora-geral da República, Raquel Dodge, os autores dos sete pedidos de impugnação aguardam a análise do ministro do Supremo e do TSE, Luís Roberto Barroso, e torcem para que ele o faça cumprindo os prazos. Se em outras oportunidades o canto da arquibancada pedia a entrada em campo do denominado Estado de Exceção e da chincalha jurídica em nome de um abstrato combate à corrupção, agora o grito é outro: que Lula tenha todos os direitos assegurados junto à Corte eleitoral, já que o contrário faria sua candidatura voar ainda mais e por antecipação.
Foto: Reprodução / Instagram de Lula

Se Barroso decidir antes de 17/09, data limite para as deliberações do TSE sobre as candidaturas, o PT usará da estranha celeridade na tramitação de casos envolvendo o ex-presidente, para fundamentar, ainda mais, a retórica de perseguição a Lula que, na mesma semana do registro, assistiu ao Judiciário descumprir um pedido da Comitê de Direitos Humanos da ONU para que o Estado brasileiro garanta o direito à candidatura do ex-presidente, independente de estar preso em Curitiba desde 7 de abril. Uma decisão contrária e célere no caso do ex-presidente cairia como luva na campanha, agora, pelo fortalecimento da imagem de Fernando Haddad (PT), vice na chapa e cotado para substituir Lula.

No campo do desejo e da vontade, busca-se impedir que o ex-presidente figure nos programas do PT a partir de 31/08, quando inicia-se a campanha eleitoral em cadeia de Rádio e TV. Para isso, Dodge, em seu pedido, argumenta  que Lula está inelegível aos olhos da Lei da Ficha Limpa e, por tanto, não poderia usar de dinheiro público, do fundo partidário, para financiar sua candidatura ainda que por alguns dias. Já no campo pragmático, há indicações de que ao menos os primeiros programas petistas devem trazer o ex-presidente como candidato.
Foto: Reprodução / Instagram de Lula
O Partido dos Trabalhadores segue com Lula por um lado enquanto promove Fernando Haddad (PT), ainda que timidamente, como o “enviado” de sua maior figura política. Apenas o termo “enviado” e a contextualização de “Haddad é Lula e Lula é Haddad” levou o ex-prefeito à segunda colocação do último levantamento eleitoral da consultora econômica XP Investimentos. Atrás somente de Bolsonaro, que oscila entre 21% e 23%, Fernando Haddad aparece com 15% dos votos quando apresentado como candidato de Lula. Isso, sem participar dos dois primeiros debates, realizados pela Bandeirantes (clique!) e pela RedeTV! (clique!), respectivamente. 
Foto: Reprodução / Instagram de Fernando Haddad
Para os petistas a luta por Lula carrega a importância do tempo político atípico pelo qual passa o País. A observar por este lado, a vitória está atrelada às urnas em 7/10, seja com a eleição e volta do ex-presidente ou com a estreia de seu ungido Haddad.

A título de explicação: este artigo abre seu primeiro parágrafo com críticas aos materiais partidários em época de eleição. Bem, apesar do mau trabalho de comunicação visual se tratar de uma regra neste período, sempre há exceções. Vide o jingle (vídeo abaixo) da campanha petista. 

                                                               Vídeo: Reprodução / Canal "Partido dos Trabalhadores" no Youtube


Para críticas, sugestões ou dúvidas, deixe sua opinião na seção "comentários" logo abaixo ou envie e-mail para: cons.editorialjc@gmail.com

Pedimos também que compartilhe nosso conteúdo pelas redes sociais!

Compartilhe:

Claudio Porto

Jornalista independente.

Deixe seu comentário:

0 comments so far,add yours