Três pesquisas de intenções de votos dão a liderança para Lula; embolado, Ciro pergunta se “pode morrer?” em um eventual 2º turno entre PT e Bolsonaro

É favas contadas a estratégia do Partido dos Trabalhadores – PT em levar a candidatura do ex-presidente Lula às últimas consequências, mesmo que já se saiba que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, vice na chapa petista, será o candidato da sigla à Presidência ao lado da jovem deputada estadual pelo PCdoB do Rio Grande do Sul, Manuela D’Ávila, apelidada de “vice do vice”, na “chapa tríplex” da coligação O Povo feliz de novo (clique!).  
Imagem: Charge de Renato Aroeira
Se por um lado Geraldo Alckmin (PSDB) é o candidato de fato na defesa da agenda programática do (des)governo Temer, enquanto Henrique Meirelles (MDB) é o de direito, Fernando Haddad (PT) é o presidenciável de fato  apesar da legenda carregar a narrativa de que o ex-presidente, preso desde 7 de abril, estará nas urnas.

Respaldado pelas pesquisas de intenções de voto, que dão a liderança – com ampla vantagem - ao ex-presidente, o movimento petista é tão pragmática quanto consciente. Na segunda-feira (20) o instituto de pesquisa MDA divulgou o primeiro levantamento feito após o encerramento do prazo para os pedidos de registro de candidaturas, no último dia 15/08. Encomendado pela Confederação Nacional do Transporte, a pesquisa CNT/MDA reafirmou a condição de líder para o ex-presidente Lula (PT), com 37,3%, e a segunda colocação de Jair Bolsonaro (PSL), escolhido por 18,8%. Após o levantamento, duas outras sondagens foram divulgadas ratificando a ampla vantagem de Lula frente aos outros candidatos. No IBOPE o ex-presidente apareceu com os mesmos 37%, e no Datafolha o índice vai a 39% da preferência dos entrevistados, enquanto Jair Bolsonaro (PSL) varia entre 18% e 19%, respectivamente.
Imagem: Chargista Laerte Coutinho
Além da liderança de Lula, o plano do PT leva em conta o indicador de preferência partidária. De acordo com a última pesquisa IBOPE, o PT reúne a simpatia de 29% dos entrevistados e segue como o partido político de maior preferência entre o eleitorado. No Datafolha a sigla é a mais preferida desde 1999, com 24%.

Com ativo político tão valioso como Lula e dono de capilaridade invejável entre os setores mais populares da sociedade, por meio da vasta rede de movimentos sociais, o PT parece saber o que está fazendo.  Dada às circunstâncias, o partido usa de recursos jurídicos para garantir o ex-presidente no pleito. Se não for possível, como é a tendência, a sigla espera contar com Lula ao menos nos primeiros programas de campanha na Rádio e TV.

A depender do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, onde o pedido de registro da candidatura de Lula recebeu 16 contestações, o PT deve obter êxito quanto à segunda opção. O ministro Luís Roberto Barroso, responsável por analisar as contestações e deferir ou não o pedido de candidatura, deve cumprir os prazos e definir a situação da chapa petista no início de setembro. A data limite é 17/09.
Até lá o ex-presidente é candidato e, segundo as pesquisas, o presidenciável da maioria.

Ciro como herdeiro dos votos de Lula?

A indefinição envolvendo a candidatura do ex-presidente parece incomodar mais pessoas do que apenas a colunista Eliane Cantanhêde, do jornal Estado. de S. Paulo e comentarista do canal Globo News. Se em coluna intitulada de “O diabo está solto!”, de 3/08, a jornalista escreve que “enquanto Lula insistir em ser uma (falsa) peça para outubro, o tabuleiro não se mexe”, há candidato, do mesmo espectro político do PT, que defensa a linha de raciocínio. Ainda ressentido com as negociações de pré-campanha, Ciro Gomes (PDT) não retira o PT de seu discurso desde que o partido do ex-presidente Lula, ao seu comando, retirou a candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco em troca daneutralidade do PSB, naquela que foi,de longe, a pior articulação petista nesta eleição (clique!). O combinado entre PT e PSB esvaziou a campanha de Ciro, que ficou sem aliança partidária e alguns poucos palanques estaduais.  

Apesar de ruim, o acordo firmado entre as siglas para isolar a candidatura de Ciro Gomes faz parte do jogo eleitoral do qual o candidato pedetista diz conhecer.
Imagem: Cartum de Gilmar, o "Cartunista das Trevas"
Hoje, Ciro define a estratégia do PT, de lançar Lula mesmo que venha a trocar por Haddad, como “fraude” e, quando perguntado sobre os levantamentos de intenções de voto, diz que “pesquisa é retrato de momento, mas a vida é filme, não retrato”. A título de recordação, no início do ano Ciro e Fernando Haddad – parte da “fraude” – conversaram sobre aliança, mas não vingou.

De acordo com a pesquisa CNT/MDA, Ciro seria o terceiro no ranking de herdeiros dos eleitores do ex-presidente Lula. Ao lado de Fernando Haddad, que ficaria com 17,3% das intenções, e de Marina Silva (REDE), com 12% dos votos, o pedetista amealharia 9,6% na preferência dos eleitores de Lula.

Embolado com Geraldo Alckmin (PSDB) e, a depender do cenário, com Marina Silva (REDE) e Alvaro Dias (PODEMOS), Ciro Gomes varia, respectivamente na presença e ausência do ex-presidente, de 4% a 10% das intenções de voto enquanto o candidato de Lula, o ex-prefeito Fernando Haddad, aparece com 4% e, caso se confirme o que especula, por exemplo, o Datafolha, consegue até 60% dos votos de Lula, mais do que suficiente para estar em um eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL). Neste cenário, Ciro, em campanha pelo centro da cidade de Osasco, na Grande SP, perguntou se “pode morrer?” a fazer tal escolha.

PS: Cairia como uma luva um acordo de não agressão entre PT e Ciro. Ao menos nos moldes daquele que ambos firmaram com o presidenciável Guilherme Boulos (PSOL).


Para críticas, sugestões ou dúvidas, deixe sua opinião na seção "comentários" logo abaixo ou envie e-mail para: cons.editorialjc@gmail.com

Pedimos também que compartilhe nosso conteúdo pelas redes sociais!

Compartilhe:

Claudio Porto

Jornalista independente.

Deixe seu comentário:

0 comments so far,add yours