Artigo atualizado às 13:26 de 05/08.

Candidato do PSL participa de sabatina na Globo News e evidencia a ausência de programa e propostas para o País

Enquanto Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB, participava de sabatina no canal de notícias Globo News, na quinta (02), o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) transmitia, em suas redes sociais – live no Facebook e Youtube, o programa batizado como “O Brasil Entrevista”, de Flávio Bolsonaro, filho do dito “mito”, encarnando o papel de mediador entre perguntas de espectadores e de influenciadores digitais, defensores confessos de ideias conservadoras e simpáticos à candidatura, e o assessor econômico bolsonarista, o “posto Ipiranga” e economista liberal Paulo Guedes, além, é claro, do tal “Messias” sem ideias ou projetos. Os youtubers acariciavam o candidato com perguntas de apelo entre os seus seguidores, como a preferência literária por Carlos Alberto Ustra e a simpatia por todo o regime militar. Em uma entrevista sem direito ao contraditório, Bolsonaro promoveu sua reunião do “Clube do Bolinha” para reafirmar a posição de combate às políticas de minorias e buscar se vender como algo semelhante ao presidente dos EUA, Donald Trump, por quem não se incomoda em elogiar.
Imagem: Charge de Renato Aroeira
Ainda em sua live, Bolsonaro disse que “se o Congresso aprovar o aborto, minha caneta vai vetar. Mas se o Congresso derrubar o veto, não posso fazer nada” e questionou seus seguidores: “há algum ministro do STF cristão de verdade? Por que tem 95% da população cristã e não temos 1 ministro cristão?”.  Sobre educação, o candidato, sempre muito generalista, disse que instalará escolas militarizadas em todos os estados e que daria um voucher para o estudante “que quiser ir pra aula privada, vai. Se quiser, vai pra pública”. Simples assim.

A entrevista com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao Central das Eleições 2018, programa de entrevistas com pré-candidatos e candidatos à Presidência, estava agendada para acontecer na noite de sexta-feira (03) e seria a última da série que sabatinou os cinco primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto, com exceção do ex-presidente Lula – preso em uma cela na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba desde o dia07/04(clique!). Na programação constava que Jair Bolsonaro (PSL) participaria na quinta-feira (02), portanto, no lugar do tucano. A assessoria do candidato do PSL o colocou no mesmo horário em que a sabatina da Globo News estava no ar, para rivalizar, ao menos nas redes, com Geraldo Alckmin (PSDB).
Imagem: Cartum de Gilmar, o "Cartunista das Trevas"
No mundo virtual, Jair Bolsonaro (PSL) carrega o título de presidenciável com maior índice de capilaridade entre os internautas, em alguns casos, à frente da maior figura política do País, Luiz Inácio Lula da Silva. “O Brasil Entrevista” de Bolsonaro foi transmitido por seu canal no Youtube e por contas no Facebook, e obteve audiência, na média, de 60 mil pessoas acompanhando ao vivo.

Assim como há trabalho estratégico na elaboração do discurso tosco do dito mito – difícil acreditar que não seja deliberado, que os comentários e os movimentos são sejam calculados –, houve também perspicácia nos bastidores do jogo eleitoral. Com a remarcação para sexta (03), o grupo de Bolsonaro criou duas datas para o candidato reinar entre as tags e falar ao seu público.
Imagem: Cartunista Claudio Mor
Se na quinta (02) o movimento da campanha do capitão da reserva não surtiu muito efeito, na sexta-feira (03) o candidato do PSL ocupou o primeiro lugar nas redes sociais durante toda a sua participação na Globo News. Diferente de segunda (30), no Roda Viva (clique!), os nove jornalistas do canal de notícias buscaram clarear o céu bolsonarista de muita nebulosidade e poucas ideias, e procuraram estabelecer uma entrevista de nível razoável, com questionamentos sobre as propostas de governo de Bolsonaro. Para tanto, as polêmicas envolvendo ele tiveram pouco tempo entre as perguntas e, desta vez, a intimidação e o grito não superam a incapacidade, o despreparo e o desconhecimento sobre tudo de Bolsonaro.

Por quase uma hora Bolsonaro teve de explicar por que se considera “novo”, apesar de estar na política desde o início da década de 1990 e ser o patrono de um clã em que todos brincam de políticos, e as conversas que manteve com o Partido da República, do condenando no Mensalão Valdemar Costa Neto. Bolsonaro é deputado federal pelo Rio de Janeiro, está no Congresso Nacional desde 1991 e tem todos os filhos em cargos eletivos – Carlos Bolsonaro, vereador na cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Bolsonaro, deputado federal por São Paulo, e Flavio Bolsonaro, deputado estadual no RJ. Quanto às negociações com o PR, Bolsonaro titubeou e disse que não se tratava de um acordo pelo tempo de TV dos “republicanos” – gentílico para partidários do PR – e sim pela liberação do senador Magno Malta (PR-ES) para ser seu vice – que ficará com o general Hamilton Mourão, do PRTB. A escolha foi confirmada na manhã de domingo (05) após negociações com Luiz Philippe de Orléans e Bragança, integrante do que ainda restou da monarquia brasileira e um decadente antipetista - criador do movimento “Acorda Brasil”,  e com a advogada Janaína Paschoal, que havia anunciado sua desistência no sábado (04).
Imagem: Cartum de Carol Andrade
Passada a primeira parte, o candidato se viu apertado por perguntas programáticas sobre economia. Sem poder recorrer ao “posto Ipiranga”, teve de responder sobre tabelamento de juros, reforma da previdência e comércio exterior. Bolsonaro enrolou com clichês como “livre comércio” – chamado por ele de “mercado livre” – e “livre concorrência”, e quando encurralado disse que privatizaria – venderia – estatais como os Correios e a Petrobras. No caso da petrolífera, o candidato não apresentou solução apesar de manter o discurso de crise na empresa. “Se não tiver uma solução [que ele parece não ter], eu sugiro a privatização da Petrobras. Acaba com esse monopólio estatal. Se não tiver solução, tem que privatizar", disse Bolsonaro que afirmou saber “o que o povo precisa”, mas não o caminho para se chegar lá.

"Sei o que o povo precisa: inflação baixa, taxa de juros menor, dólar menor que não atrapalhe quem quer importar ou exportar, pagar a dívida sem precisar aumentar imposto”, sem apresentar propostas para se consegui o “que o povo quer”. Aliás, o presidenciável falhou, e muito, em não demonstrar a que veio enquanto candidato à Presidência da República.
Imagem: Cartunista Claudio Mor
Quando cercado por perguntas sobre projetos, Bolsonaro bateu na tecla do senso ao comentar obviedades como, por exemplo, a necessidade de criar instrumentos para a recuperação da economia, mesmo sem conseguir citar o nome de, ao menos, um imposto que o seu assessor Paulo Guedes estuda extinguir. A propósito: ele chegou a dizer que ele é quem viaja pelo País em busca de votos e não o responsável pela “caneta que elabora o programa de governo”. É o fantoche ideal para incorporar a ideia de indignação política de alguns muitos e colocar no poder sabe-se lá quem e o quê.

Bolsonaro, que já não guarda simpatia entre as mulheres – maioria do eleitorado com 77,3 milhões de brasileiras votantes -, disse que estava brincando com sua filha quando da “fraquejada” na Hebraica carioca e defendeu a diferença de salário entre os gêneros, dizendo que, enquanto presidente, não poderia intervir no setor privado para regulamentar a remuneração de seus empregados.
Imagem: Cartunista Claudio Mor
No mesmo dia em que o noticiário repercutiu imagens de uma mulher sendo assassinada por seu companheiro no estado do Paraná, Bolsonaro afirmou que "para mim não tem que ter lei de feminicídio, se cometeu um crime tem que cumprir 30 anos de cadeia" e defendeu o porte de armas: "Pergunto se elas preferem a ‘Lei do Feminicídio’ no bolso ou a pistola na bolsa e elas são unanimes”.

A participação de Bolsonaro terminou com Miriam Leitão reproduzindo nota do jornal O Globo, ditada pelo ponto eletrônico, sobre o apoio editorial do grupo Globo à ditadura militar de 1964. O candidato havia citado trecho do editorial de Roberto Marinho reconhecendo que “participamos [grupo Globo] da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”.
Imagem: Cartum de Carol Andrade
Em nota lida pela jornalista Miram Leitão, O Globo justifica o apoio de Marinho à ditadura com trecho de um editorial publicado pelo jornal em 2013, onde faz mea-culpa e diz que “à luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma”.

Se no Roda Viva Bolsonaro não encontrou amparo para as suas colocações em defesa ao período 1964-1985, no Central das Eleições 2018 o candidato pôde “surfar” no passado institucional daquela emissora.

A história pune. A sexta-feira vexatória para Bolsonaro carrega o despreparo de um candidato que não poderia concorrer, nem mesmo, eleição para síndico e o fato de um meio de comunicação está no mesmo nível desse sujeito.

Próxima parada: primeiro debate entre os presidenciáveis no dia 09/08, na Band.

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Claudio Porto

Jornalista independente.

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