Bem, como é tradição em nosso projeto desde 2014, damos início a nossa análise dos debates eleitorais á princípio no que corresponde a eleição Presidencial e no âmbito paulista (sede do projeto) das Eleições, em uma ampla cobertura (clique), onde conto com a parceria de Claudio Porto, sempre brilhante.

O tradicional primeiro debate realizado pela BAND na noite desta quinta (9) marcou como sempre o grande start da campanha eleitoral, que claro, para o eleitor mais comprometido com o processo já rolava, para os candidatos também há muito, com alianças sendo costuradas desde o ano passado, pra não dizer em seguida ao último pleito de âmbito municipal. Em linhas gerais foi um debate abaixo do esperado, mas que deu pra definir o estilo de cada candidato, isso ficou claro e representa o marco inicial para o grande público, da campanha, ainda que não houvesse a participação do PT no debate, visto que a presença de Lula (mantido como candidato mesmo em cenário desfavorável) foi vetada pela justiça federal.


Houve um aprofundamento quase nulo nas questões, a estratégia de Mitre e da emissora de privilegiar a quantidade de confrontos fez com que a qualidade destes fosse baixa, tentou-se até falar de propostas, mas o curto tempo fez com que tudo fosse muito superficial, além disso, o número elevado de candidatos e com algumas gracinhas por parte de uns e com outros importantes com pouco espaço, acabou contribuindo ainda mais para a prolixidade do encontro. Ainda assim, cabe falar sobre alguns dos temas abordados.


No campo da Educação, pouco abordado no debate, o que fica claro é que um Estado (nacional) que congela os investimentos por 20 anos inclusive nesse campo, é um Estado comandado por quem tem zero comprometimento com a Educação das nossas crianças e jovens e posterior profissionalização destes, ou seja, os tons de Temer e seu (des)governo (como diz o companheiro Claudio) são a representação do atraso, do recuo de dois séculos em dois anos, é preciso modificar toda essa lógica.

Nisso é engraçado ouvir Geraldo Alckmin da progressão continuada, da subvalorização e cacetada nos professores e da merenda, falar em melhora da qualidade do ensino, baseado no que "fez em SP", ora governador, nos poupe, aliás, toda a retórica (de bela dialética, discordâncias a parte) dele é baseada nisso, o eleitor , sobretudo o que não é de SP tem de ficar de olho, o estado será vendido como uma "ilha da fantasia" e definitivamente não é.

A retórica de Bolsonaro ao dizer que o modelo militar é a solução e apontar UM COLÉGIO por capital nestes moldes como solução para a baixa qualidade do atual ensino é medonha, parece que o candidato parou em 1964.


Passando á Saúde, se falou o básico, que é preciso recuperar o SUS, o de sempre, o difícil é fazer e mais difícil ainda (impossível diria eu) é fazê-lo com os investimentos congelados, Meirelles até gaguejou quando perguntado sobre. Gostaria então de aplaudir o candidato Boulos que ao responder sobre a questão do aborto o fez duramente em relação aos que em pleno 2018, ainda criminalizam a mulher que precisam recorrer ao procedimento (inclusive no texto - clique aqui - que o nosso Claudio fez brilhantemente sobre o tema, li no facebook comentários odiosos de ultraconservadores) relacionando esta criminalização canalha, com o fato de que o homem que abandona a mãe após engravidar praticamente não é cobrado.

Eu ainda acrescento, caso vire um cheque de pensão, em nada é cobrado, depois que a criança desassistida cresce e acaba entregue á criminalidade, aqueles que diziam que apenas "Deus" poderia "tirar a vida" (vida esta não plenamente concebida) acabam por clamar pela pena de morte, isso quando não pensam em executar eles mesmos, num bang-bang de armas irrestritas onde acham, que serão mais rápidos no gatilho que os bandidos, é uma insensatez. Diante de tudo isso, a resposta de Boulos foi perfeita e revelou todo o machismo mascarado de teísmo que há sobre a questão.


Chegando por fim ao campo da Economia, onde Meirelles passou vergonha ao dizer que não se ajusta a economia no grito, mas que com sua chegada ao Planalto, a "confiança é instantânea", fora a tentativa de desvinculação de Temer e vinculação a Lula, mas disso a gente fala na avaliação individual. Teve candidato que falou em "quebrar o stablishment" (detalhe para a pronúncia), outro crê que apenas com "Deus pondo a mão" podemos nos tornar a primeira economia do mundo, enfim, difícil.

Ciro neste campo foi bem ao falar o quão a tresloucada "Reforma" Trabalhista de Temer gerou insegurança ao trabalhador e que este modelo de subjulgar o trabalho é ultrapassado, que se produz melhor valorizando o trabalhador. Já Alckmin tergiversou pateticamente, ao referir a tal "reforma" como compreendesse apenas o "fim dos Sindicatos", o que no final nem é o que acontece na prática e nem é útil que aconteça, afinal, livre negociação entre patrão e empregado numa colônia de exploração como a nossa é conversa fiada.


Em resumo, o debate acabou por ser fraco no campo propositivo e não teve um vencedor (se teve, foi Boechat), mas ao menos teve pouca gritaria, pouca picuinha e isso foi positivo. Pareceu aquelas partidas de mata-mata de futebol na ida, onde os times ficam se estudando, Marina e o próprio Ciro tiveram pouquíssimo espaço, sendo pouco perguntados. Evitou-se também confrontar com Bolsonaro, o que certamente agradou o carreirista no Congresso. A expectativa é de que os próximos debates mesmo com o elevado número de candidatos possam ser um pouco mais propositivos e profundos, elevar um pouco o tempo de resposta é um caminho, fica a dica para as emissoras. Abaixo as avaliações individuais, por ordem de posicionamento no estúdio.


Álvaro Dias (Podemos ex-PTN) 

Álvaro Dias se mostrou um tanto prolixo e enferrujado no debate, apelou muito para uma eventual parceria com Sergio Moro, insistindo sempre na mesma tecla da "moralização", isto ocasionaria um dilema para o juiz, afinal, sua aproximação é com o PSDB, ah, mas Dias é um "plano B" de seu ex-partido, "tá tudo em casa". 


Em outras entrevistas que vi do Senador o desempenho dele foi melhor que este, é inegável que ele tem grande popularidade (sem entrar no mérito de razão para tal) no Paraná e em toda região Sul, mas ele teve tempo e espaço no confronto e usou mal, a impressão que fica é que sai menor do que entrou na última noite. 


Daciolo (Patriotas) 

É complicado fazer qualquer avaliação sobre uma participação como esta. Fico com a frase de Ciro, que foi muito feliz ao colocar que a "Democracia tem disso". 

É um candidato que desconhece o fato de que o Estado é LAICO. Lembrando que o fato de ser Laico não significa que seja laicista, mas que seja laico justamente para garantir o respeito a todas as religiões e a quem não as tem. Portanto, é impossível governar o Estado Brasileiro "para honra e glória do Senhor Jesus", visto que há budistas, hinduistas, judeus, muçulmanos, ateus e tudo mais no Brasil, não somos um Estado Pentecostal, temos espaço pra todos e para todo modelo de família, ainda bem. 

No entanto, o surgimento dessa figuraça gera um cenário interessante, perto dele Bolsonaro até parece moderado, a meninada ultra da internet e os demais ranzinzas podem adotar esse discurso ainda mais radical, o que pode tomar um ou dois pontos do candidato do PSL, pontos que podem sim ser decisivos para tirá-lo do segundo turno, visto que a eleição vai embolar certamente. 


Geraldo Alckmin (PSDB) 

Como disse antes, o ex-governador de São Paulo (e que não volte mais) tem uma retórica fantástica (discordância a parte), ele tem o dom da palavra, sabe se portar num debate, envolver o eleitor. Com todo mundo fugindo de Ciro e evitando também Marina e Bolsonaro, o Tucano foi alvo de muitas perguntas, na maioria delas se comunicou bem, apesar de tentar enganar o eleitor, como na questão da Reforma Trabalhista e pintando São Paulo como tendo tido grandes realizações sob seu mandato, o mais patético foi ele falar de combate ao crime organizado na terra onde o PCC opera abaixo de seu grande nariz, é engraçado. 

Talvez tenha sido o candidato com o saldo mais positivo (dentre os competitivos) no debate, pois teve a chance de falar bastante e sabe falar. Penso que a estratégia dos candidatos em bombardeá-lo foi um tiro pela culatra, ele não lidera as pesquisas, deu-se a ele mais exposição, que sem gafe, pode ter efeito positivo, sobretudo ao mais desavisado. 


Marina Silva (Rede)

Agora "dando uma de Cabo", o que dizer de Marina, há tantos anos ela tenta ser o "novo", acaba ficando cada vez mais prolixa e ultrapassada, teve pouco tempo no debate, sendo pouco perguntada e pouco aproveitou o tempo que teve. 

Tentou ainda subir o tom contra o soneca a seu lado e saiu por baixo, não foi uma participação feliz, com pouco tempo de TV e a repetir participações como essa, mesmo em uma eleição apertada fica cada vez mais distante do segundo turno. 


Jair Bolsonaro (PSL) 

A participação do candidato do PSL não foi ruim se imaginado que poderia ter sido muito pior, a avaliação de que ele foi poupado pelos candidatos procede, poucos assuntos espinhosos e poucos confrontos duros, como contra Ciro e Alckmin foram vistos, o candidato trocou figurinhas com Álvaro Dias que não lhe ofereceu qualquer dificuldade e saiu até em vantagem contra Boulos, conseguindo se colocar em posição de vítima e abrindo mão de seu tempo, a estratégia foi bem traçada, inegavelmente. 

Claro que os clichês de família, romper com o "stablishment" (o que ele parece não saber do que se trata) armamentismo e a patética frase: "Para termos mais empregos, temos que escolher menos direitos" foram vistas e a a galerinha que o prefere até sentiria falta disso, mas poderia ter sido bem mais constrangedor, como foram suas entrevistas anteriores. 


Guilherme Boulos (PSOL) 

Mais uma boa participação de Boulos, que pecou apenas no ponto da agressividade (que creiam, assusta o eleitor médio) onde Bolsonaro acabou se vitimizando, mas no mais foi muito bem. 

Soube se posicionar, teve ótima dialética como já percebido em entrevistas, usou muito bem o pouco tempo que teve, muito ligado, sabendo dosar o efeito e a argumentação, foi uma boa participação que gerou grande engajamento do eleitor médio (aquele que não tem uma ideologia definida) em torno de seu nome, é outro que a meu ver sai fortalecido do debate. 




Henrique Meirelles ("P"MDB) 

Meirelles é uma figura totalmente aleatória, mesmo candidato pelo partido de Temer, rechaça o quanto pode se colocar como candidato dele, até aí a gente "entende", mas sistematicamente Meirelles citou sua participação no governo Lula, como se o ex-presidente e "candidato" que não estava lá para se defender, referendasse sua candidatura, bizarro. 

Entre um delay de pensamento e outro, o candidato buscava dar "aulas" de economia aos demais, aulas de um professor bem chato, com certeza, o desejo ao ouvi-las seria "descer para o Bar" e mostrou-se a síntese dos tons de Temer ao gesticular incessantemente, é um grande economista inegavelmente, candidato dos banqueiros, não dialoga com a população, não terá competitividade, por mais que seu partido tenha marketing e tempo de TV. 


Ciro Gomes (PDT)

Ciro acima de ser um candidato é uma mente e um homem público do qual eu tenho a maior admiração, vem dando ótimas entrevistas, tem um conhecimento muito amplo e capacidade para fazer cumprir suas propostas, inclusive as que parecem absurdas sem o tempo para explicação, como a de refinanciar as dívidas dos cidadãos. Porém claramente os candidatos não quiseram dar a ele o espaço, deixá-lo mostrar isso, a estratégia foi muito bem feita. 

Ciro teve muito pouco tempo, no embate com Alckmin foi brilhante, mas Marina no jogo de comadres o atrapalhou com a questão do São Francisco, que mais serviu como "aula" do que como algo nacional que fizesse o eleitor refletir (apesar da importância do tema, que é inegável) e uma pergunta aleatória de um jornalista, em um debate com Meirelles que poderia ser no campo econômico. Portanto, a avaliação é de que este debate não contribuiu para a campanha de Ciro. 




E para vocês, houve algum "vencedor"? 




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Imagens: Estadão e Reuters. 


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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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