Tudo está interligado e o (des)governo Temer é a união de desastres  

Quando o presidente-nosferatu Michel Temer baixou decreto para a intervenção das forças armadas na área de segurança pública do Rio deJaneiro, em fevereiro passado (clique!), parte da opinião pública comemorou a chegada dos militares e parte observou que, peladificuldade em se aprovar a contrarreforma da previdência no Congresso (clique!), o presidente orquestrava uma manobra política descabida, pela ausência de plano estratégico para as forças de segurança, e eleitoreira já que, à época, discutia-se uma candidatura à reeleição. Hoje, cinco meses depois, a impotência reflete-se na variação dos indicadores que, seja para melhora ou piora, é sensível, quase imperceptível diante do caos carioca que tem vitimado, com indiferença assustadora, crianças em gestação e em fase escolar, e vereadora ativista dos Direitos Humanos. Vitimado sem preocupação alguma com a resolução dos casos; o último, de Marielle, está há 129 dias (no sábado 21/07) sem resposta.
Imagem: Charge de Laerte Coutinho

A intervenção no estado do Rio é a demonstração do fim político de Temer e de seus apoiadores, e ela tem relação direta com as gravações no porão do Jaburu, em maio de 2017, e com a “quitanda” entreguista da atual agenda político-econômica do País. Neste caso, a ordem dos fatores altera, sim, o produto. Apesar de o “santo bater” na relação do (des)governo com o mercado financeiro, Temer ter evitado sua deposição empenhando emendasparlamentares à rodo(clique!) não agradou a turma da Bolsa, que, à época, não escondia a vontade em ter o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), na Presidência. Após ter sido gravado, por Joesley Batista, da JBS, negociando um suposto “cala boca” ao ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) e ter assistido seu assessor Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR) correr pelas ruas badaladas de São Paulo com uma mala recheada com 500 mil reais, Temer escapou de punição por conveniência política ao arquivar as denúncias na Câmara. E, claro, contou com a colaboração do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, que, tomando para si o status justiceiro do judiciário segundo Moro e cia, fechou uma das piores contribuições premiadas, a dos irmãos Batista.

O arquivo MP3 de Joesley seguiu a mesma linha de “com o STF, com tudo” do senador Romero Jucá (MDB-RR), presidente do MDB, em gravação com Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro. E as imagens de Loures um avanço para os incrédulos. Você ouve e vê, mas, em nome da estabilidade do País, para personagens como a ministra Cármen Lúcia, não se ouve ou vê desde que em casos como os de Temer e de Jucá. Não se compara um “a solução mais fácil era botar o Michel” a um “bessias”.
Imagem: Cartunista Renato Machado

Temer manteve-se, as contrarreformas agravaram ainda mais a condição social do Brasil e a economia segue em frangalhos. Havia expectativa de crescimento na casa de 3% do PIB para este ano. Mas, segundo o (des)governo, deve ficar apenas em 1,6%. As filas em busca de vagas de emprego, no país de 13,2 milhões de pessoas desocupadas e 26,3 milhões de subempregadas, exalam desalento e desesperança de brasileiros que estão à procura de uma ocupação, em alguns casos, há anos. Enquanto isso, a “emissora de 100 milhões de uns” pede pela comercialização do patrimônio brasileiro, da matriz energética a campos de exploração de petróleo, quando não está falando da prisão da maior figura política do País, de acordo com pesquisas de intenção de voto.

Na aclamação pela atual agenda, o presidente não precisa ser popular e nem a mídia tradicional coerente. Temer conseguiu aprovar no Congresso a Emenda 95 e um regime fiscal rigoroso com investimentos públicos, porém brando com a dívida pública, avaliada R$ 5.045 trilhões, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, e os jornais não esconderam a felicidade com a austeridade sobre os mais pobres. O (des)governo, sem muita discussão, colocou em prática a terceirização irrestrita e a contrarreforma trabalhista, e parte da imprensa tratou de vesti-la com sentenças do tipo “modernização das leis trabalhistas”. Recentemente, firmou-se a investida da Boeing, empresa aeroespacial estadunidense, sobre a Embraer, principal corporação do setor de aviação do Brasil. O acordo, criticado por técnicos da Embraer, cria uma joint-venture – nova empresa - com controle majoritário dos estadunidenses e entrega 80% da divisão de jatos brasileiros a Boeing por pouco mais de R$ 3,8 bilhões, preço da soberania nacional sob os (des)cuidados de Temer. A imprensa exultou a iniciativa, que, agora, é em nome de um suposto avanço tecnológico com a parceria de apenas um lado: o deles.
Imagem: Cartunista Gilmar

Mesmo com a venda do patrimônio público brasileiro e a existência da Emenda 95, o Brasil segue parado. Remaneja-se recursos por falta de investimento público, como, por exemplo, na recente votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO para o próximo ano, quando congressistas, inclusive alguns que haviam avalizados o limite para investimentos, tiveram de fazer a chamada “escolha de Sofia” na aprovação de um repasse de R$ 1 bilhão, destinados a obras em rodovias, para o Sistema Único de Saúde. Paralelo a isso, as notícias de que a taxa de mortalidade infantil aumentou em 2016, após 26 anos em queda e estagnação, e de que 1,5 milhão de brasileiros(as) adentrou a pobreza extrema, com renda de 5,50 dólares por dia – quase R$ 19,00 -, em 2017. Segundo o IBGE, são 14,83 milhões de pessoas vivendo na pobreza extrema.
Imagem: Cartunista Carlos Latuff

A agenda entreguista norteia as decisões do Poder Federal gravado em situações que, no mínimo, levantam suspeitas. O estado fluminense, hoje ocupado por tal poder, assassinou quatro crianças e 36 militares, e “sediou” 173 tiroteios, de acordo com o Instituto de Segurança Pública, do Rio de Janeiro. Tudo está interligado e o (des)governo Temer é a união de desastres.

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Claudio Porto

Jornalista independente.

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