Acompanhamento semanal do mandato de João Dória à frente da Prefeitura de São Paulo. O Gestor, como ele bem frisa, tem muito trabalho no comando da maior cidade da América do Sul, e estamos atentos a suas ações. Portanto, todo sábado, trazemos aqui um compilado da semana de Dória.


55ª Semana de secretário polêmico à sem pânico com a Febre Amarela
Quando tudo aparenta estar calmo e sereno, estranhe, e tenha a certeza de que alguém te engana. Nesta semana, Doria certamente percebeu que tem feito escolhas erradas, que tem se equivocado, mas, por ter força sobre a mídia tradicional, não permitiu que outros – aqui, a população paulistana – percebessem também que esta administração é falha, especialmente em seu secretariado: salvo algumas exceções, sem força e muito polêmico.

O secretário da vez? Bem, não é muito da vez. Autor da frase “não vou quebrar a sua cara, porque vou sujar minha mão”, quando ameaçou um agente cultural da Zona Leste, no ano passado, o secretário de Cultura, André Sturm teve áudio em que assedia a assessora de dança da Secretaria, Lara Pinheiro (vídeo abaixo), vazado pela imprensa - alternativa. 


Vídeo: Reprodução / canal "Brasil 247", do YouTube

Condenado ao lado do vice-prefeito, Bruno Covas, e do secretário de Governo, Júlio Semeghini, pelo MP-SP por terem favorecido a empresa patrocinadora do carnaval de rua deste ano, a Dream Factory, em licitação, André Sturm desta vez teria armado para abusar sexualmente da assessora em uma viagem a trabalho, feita pelos dois, ao Canadá. Lá, Sturm fez reserva de apenas um quarto de hotel. Em um trecho da gravação, o secretário diz “só não 'comi', porque não quis” referindo-se a manter relações com Lara, a assessora.


Da esquerda para a direita: André Sturm, Bruno Covas e Júlio Semeghini; Foto: Folha de S. Paulo

O áudio foi gravado pela assessora, após saber que seria demitida por não ter mantido relações com o secretário de Dória. Lara disse à Revista Fórum que conhece outras funcionárias da pasta também assediadas por Sturm.

Coincidentemente, o vazamento do áudio deu-se no mesmo dia em que as manchetes dos jornais que circulam pela cidade estampavam o indiciamento, pela PF, do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) por supostas irregularidades nas contas da campanha de 2012. 

Fernando Haddad (PT) é aquele que durante todo o mandato contava com pouco espaço na mídia tradicional – para não dizer que nenhum - para promover suas políticas, algumas contestáveis outras inovadoras e, se houvesse continuidade, boas para a cidade, com direito a bate-boca com professor de história na rádio e editoriais semanais pedindo sua saída. Agora, além de ser uma espécie de bode-expiatório, um álibi no qual se esconde o prefeito Dória e suas poucas políticas públicas, com o suposto rombo de 7,5 bilhões de reais no orçamento do ano passado, nesta semana, o petista serviu também como cortina de fumaça para uma das maiores, das muitas, polêmicas desta administração. 

Assim como nos episódios do agente cultural da ZL e à época do pedido do MP-SP pela condenação e afastamento do cargo dos três secretários, o prefeito calado estava, calado ficou. Não soltou nota, e muito menos comentou oficialmente a denúncia por assédio. Em entrevista à Rádio Capital, na quarta (17), o prefeito se permitiu dizer que o caso é de “questão de ordem íntima, pessoal” e que foi um “pequeno desentendimento”, um “assunto encerrado”. 


Imagem: Charge de Bira Dantas / blog "Altamiro Borges" (altamiroborges.blogspot.com.br)

Aliás, tanto Dória, que mostra-se um exímio “político e não gestor” – o tempo mostrou que o slogan verdadeiro é este, invertido -, como a mídia tradicional, que não mede esforços para mostrar sua seletividade, a corrupção ou os erros só devem ser levados à tona e ganhar notoriedade, ou melhor, devem ser alardeados quando estão relacionados ao “lado vermelho da força”. E mais, quando não estão, vale invencionices políticas e jurídicas para tal.


Além de ter sido uma belíssima “cortina de fumaça” para a polêmica envolvendo o secretário de Cultura na terça (16), a exposição do indiciamento de Haddad é a primeira de muitas tentativas da mídia tradicional com o objetivo, não diferente de outras oportunidades, de decidir o pleito de outubro, já que, caso Lula seja impedido de se candidatar, o ex-prefeito é um dos cotados a substituir o candidato do PT à Presidência da República. A grande mídia brasileira tem a tradição de produzir cabrestos para o eleitorado brasileiro baseados na seletividade com que elas divulgam os fatos. E esta coluna não é conivente com isso. Queremos todos no pleito, inclusive o dito “mito”. Ele, acredite, é bem-vindo ao debate. Se ele sabe o que é isso? Acredito que não.

Ainda na semana, o prefeito anunciou que seu programa de recapeamento, o “Asfalto Novo” de muitas campanhas publicitárias, terá orçamento de 600 milhões para este ano. Curiosamente, o valor expressivo de orçamento vem em ano eleitoral, e Dória sabe disso. 

Não somente Dória, mas também a ala jovem tucana que, nesta semana, voltou a defender o nome do prefeito na corrida pelo Planalto. Os ditos “jovens” do PSDB estão descontentes com os números pífios do governador nas pesquisas de intenção de voto, e estão com dificuldade de enxergar em Alckmin o presidente conciliador que somente o próprio Alckmin enxerga nele. Aliás, tanto Alckmin, como a ala jovem do PSDB e Doria parecem precisar de exames oftalmológicos. Alckmin acredita nele vencendo as eleições; Dória vê em si, o tipo de político que o País precisa; e a ala jovem do PSDB diz observar nos dois, ótimos quadros políticos: estão todos cegos.

Dória tem de contentar-se com o cargo que ele resiste aceitar: o de prefeito. Mal chegou e, parece, já quer sair. Como não será mais o Planalto, o prefeito tenta viabilizar seu nome na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes e para isso tem investido em comunicação, naquilo que ele define como transparência. Se na semana passada, esta coluna veiculou o balanço de 2017 feito por Doria, nesta semana, a Agência Lupa averiguou as informações passadas por Dória, no vídeo, e mostrou que o prefeito é um pouco exagerado. 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)
O levantamento da Agência Lupa apontou que Doria valorizou, ou melhor, exagerou na divulgação dos feitos de sua administração no ano passado. Um dos quesitos em que o prefeito deu aquela valorizada, e que tem sido pauta para alguns jornais da cidade, é a criação de vagas em creches baseada em matrículas de crianças em centros ainda em construção. E nesta semana, a 3° consecutiva, a Secretaria Municipal de Educação teve de voltar a dar explicações para matrículas de crianças, entre 3 e 5 anos, em instalações ainda em construção, desta feita num canteiro de obras da Cidade Ademar. 

Por falar em crianças, a semana foi de protestos de perueiros contra a portaria, publicada no Diário Oficial, que modifica a concessão do TEG, o Transporte Escolar Gratuito, à motoristas.  Entre os pontos da portaria está  a ideia de um sorteio para determinar os profissionais que prestarão serviço à Prefeitura. Outros pontos são a redução de 2800 para 1200 motoristas, que terão de assinar um contrato de exclusividade junto à Prefeitura. Os motoristas chegaram a ocupar o prédio da Secretaria de Educação, por considerarem a medida da Prefeitura prejudicial a estabilidade do serviço. É Dória, e seus secretários, precarizando os já poucos serviços públicos municipais.

O prefeito deu início as tratativas de uma Parceria Público-Privado para a construção de 34 mil habitações, sendo 4 mil com entrega prevista até 2020. A medida, inovadora tratando-se de moradias, prevê ainda que o consórcio vencedor, que pode incluir empresas tanto brasileiras como estrangeiras, entregue todas as 34 mil habitações em até seis anos após 2020, último ano desta gestão – até o pleito municipal de 2020, quero acreditar que o eleitorado paulistano não vai renovar esta administração por mais quatro anos.

A semana ainda foi de “anticlímax”, uma estremecida na relação do prefeito com sua espécie de tropa de choque, o dito Movimento Brasil LivreMBL

Os garotos do movimento estão fazendo dura oposição a decisão da Prefeitura em regular o serviço de carros por aplicativo na cidade. Esta semana, houve a manifestação de motoristas por aplicativo em frente ao Edifício Matarazzo – como mencionado no início deste artigo – contra as novas regras, que prevê a exigência de curso preparatório, obediência a regras de vestuário e etiqueta, inspeção veicular, além de restringir a permissão de funcionamento apenas aos carros com placas de São Paulo.


Vídeo: Reprodução / canal "MBL", do YouTube

A turma do MBL publicou vídeos em seus canais nas redes sociais renomeando o prefeito de “João Trabalhador” para “João ‘Desempregador’”, e zombando  do slogan da Prefeitura – também considerado de muito mau gosto pelo cronista- de “Trabalho, Trabalho e Trabalho” para “Desemprego, Desemprego e Desemprego”, já que, de acordo com a turma do Kim, 50 mil profissionais – precarizados e sem nenhum tipo de seguridade – seriam prejudicados com as novas medidas.

Enquanto as críticas partiam apenas das redes sociais, a administração Dória não demonstrou  nenhuma reação, fez como a maioria da população brasileira: desconsiderou o dito movimento. 


Imagem: Reprodução / Twitter de "Glauber Macario"

A relação foi posta em risco quando o MBL resolveu colar cartazes com “João Desempregador”, e isso não pegou bem na administração, que rapidamente solicitou à equipe de limpeza a retirada dos manifestos, e prometeu multa ao movimento. 

Pelas redes sociais, o prefeito regional de Pinheiros, Paulo Mathias, que é integrante do grupo, escreveu um “textão” criticando a decisão de seus parceiros de movimento. A situação sofrida, agora, pelo MBL, tem sido denunciada por movimentos sociais progressistas desde o início desta administração. A São Paulo desta gestão é uma cidade em que colar cartazes é proibido, leva à delegacia, pune com multa, ferindo o direito constitucional de Liberdade de Expressão.

Para a sorte do MBL, o lado que eles defendem ideologicamente não os deixa à mercê de serem apanhados – e surrados – por policiais militares, como tem ocorrido com movimentos sociais e sindicais quando estão praticando a “ilegalidade” de colar cartazes pelas paredes da cidade.

Dória encerrou a semana escondendo-se do pânico e desorientação de paulistanos com o aumento dos casos de Febre Amarela, principalmente em cidades vizinhas a capital. Filas e muita confusão puderam ser vistas em UBS e prontos-atendimentos da cidade nesta semana. Isso, porque não há vacina para todos.

É bom alertar que, ao menos por enquanto, o aumento exponencial dos casos de Febre Amarela tem sido observado em áreas de mata, por ser a versão silvestre, e não urbana, do mal-estar. Por isso, esta coluna pede aos seus leitores que evitem áreas consideradas de risco, mesmo que seja em busca da vacina. O risco aumenta quando há o deslocamento de uma área que não oferece riscos para uma em que há o risco.

O (des)governo Temer, através de seu Ministério da Saúde, determinou o fracionamento da vacina – explicável por um orçamento miserável de 20 milhões de reais e cortes drásticos na área de pesquisas – e, na Capital, a campanha de vacinação está prevista para iniciar na próxima sexta (26). 

Até lá, pedimos aos leitores que não residem nas zonas Norte, Sudoeste e Sul da cidade, áreas em que a Prefeitura tem recomendado a vacinação por ter muitos bairros que fazem limites com municípios da Grande SP, que evitem as UBS, em busca de vacina, até o início da campanha. A preocupação com a imunização é justa, mas, ao menos por enquanto, não há motivo para pânico. 


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Em parceria com o projeto cultural Cine Favela, lá da Rua do Pacificador Nº 288 (clique!), em Heliópolis, região do Sacomã, na Zona Sul da cidade, a Coluna Mais SP exibe 13 anos de produções, de trabalho intenso do grupo. Linkaremos curtas, documentários e reproduções de peças teatrais com os nossos artigos. As produções são autorais e desenvolvidas com a colaboração, maciça, de moradores daquela comunidade. Clique aqui e curta a página do projeto no Facebook.






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Claudio Porto

Jornalista independente.

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