Vamos acompanhar semanalmente o mandato do prefeito tucano João Dória à frente da Prefeitura de São Paulo. O Gestor, como ele bem frisa, terá muito trabalho no comando da maior cidade da América do Sul, e estaremos atentos a todas as suas ações. Portanto, todo sábado, traremos aqui um compilado do que o mandatário realizou em suas atribuições.



52ª Semana "Fechada para balanço"


Na última semana útil de 2017, Doria saiu em férias com a família. Avisou apenas que estará de volta para a “virada”. 

Sem as polêmicas de Dória, a Mais SP reservou a 52° Semana para um balanço do primeiro ano do prefeito “gestor”. Sendo mais claro: reviveremos algumas, das muitas, “metidas de pés pelas mãos” de Dória.

Logo no primeiro mês, melhor, no primeiro dia útil de trabalho, ele mostrou à que veio. Em poucas horas, Dória, trajado de gari, promoveu a primeira etapa de seu xodó, o Cidade Linda, na região da praça XIV Bis, na Bela Vista. Ali, Doria mandava a mensagem de que fantasias e operações higienistas, capazes de esconder moradores em situação de rua com tapumes embaixo de viaduto, seria a tônica desta administração.

Ainda no início do ano, o prefeito se envolveu no imbróglio mais desnecessário e bestial que a centenária Prefeitura da Capital poderia enfrentar: seu fascínio por Romero Britto o fez desconsiderar tudo, inclusive os grafites que nem dele eram, mas de propriedade dos paulistanos. Contra-atacando, Doria foi ainda mais longe no campo da bestialidade e enviou à Câmara o projeto, hoje Lei, que criminaliza a comercialização de sprays na cidade. Além de ter pintado tudo o que era parede pública na cor cinza. 

À época, as ações de combate à pichação, que resumia em apagar painéis grafitados e apreender adolescentes pela GCM, pegaram mal para o prefeito. Doria enfrentava ali a primeira crise de sua administração. Rapidamente, ele anunciou a instalação de um jardim vertical com unhas-de-gato nos painéis cobertos por tinta cinza, na Av. 23 de Maio, local em que, inexplicavelmente, Doria focou suas ações higienistas – houve comentários de que a avenida é caminho para a casa do prefeito, e ele já não suportara mais aquelas intervenções artísticas coloridas. O prefeito ainda prometeu “museus a céu aberto” com grafites e outras expressões artísticas em muros, mas apenas oito unidades foram entregues por Doria neste ano.

Passada a onda do “combate à pichação”, que não vingou, o prefeito se uniu aos seus parceiros empresários e as tais doações prometidas em campanha. Tanto Doria como boa parte dos empresários que assumiram alianças com a Prefeitura já residiam na cidade antes desta administração, porém, aparentemente, nunca houve interesse em “ajudar a cidade”. Ou melhor, talvez nunca tivesse sido interessante colaborar com a Prefeitura, já que agora o administrador da cidade é um empresário bem sucedido em arranjar encontros entre as classes empresarial e política, por isso as parcerias promovidas a exaustão neste ano. 

Através das redes sociais, as primeiras doações eram anunciadas quase que diariamente por um Doria empolgado em falar números que nem sempre reais. Para tanto, o prefeito estampou a Folha de S. Paulo com uma reportagem mostrando que as doações anunciadas por Doria não condiziam com as publicadas no Portal da Transparência. Enquanto Doria dizia ter recebido 255 milhões de reais em doações, no portal constava apenas a soma de 5,5 milhões de reais. À época, o prefeito atacou o repórter da Folha e, acredite, deixou de ler o jornal por um tempo. 

Das parcerias nasceram inclusive “animais”. As “corujas”, da saúde e cirurgia, em um primeiro momento desafogaram o sistema de saúde da cidade, mas não deu conta. Neste primeiro ano, a parceria da Prefeitura e hospitais particulares, base dos “corujões”, diminuiu a fila por exames, que estava na casa de 607 mil pessoas, para 497 mil pacientes, mas todas as fases posteriores a checagem dos exames pioraram. As filas por consultas e cirurgia, por exemplo, cresceram substancialmente. Enquanto o número de pacientes solicitando algum tipo de consulta saltou de 439 mil para 497 mil pessoas, enquanto o número por cirurgias passou de 91 mil para 113 mil pacientes. 

O prefeito, ciente destes números, implementou medidas que vão na contramão. Primeiro, contando com “doações”, envolveu a Prefeitura num rolo de repasses de medicamentos próximos do vencimento em troca de publicidade para uma empresa farmacêutica: a Ultrafarma. Depois, após ter prometido a contratação imediata de 800 profissionais de medicina, não cumpriu a promessa, e a cidade encerra o ano com 400 médicos a menos – segundo a secretaria municipal de saúde, eram 12.953 médicos no início do ano, hoje, permanecem 12.529 profissionais. 


Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

Aparentemente, Dória não “se deu muito bem” com a transparência, exigência no serviço público. Quando afrontado,  o prefeito agiu sempre de duas formas: avançando contra a imprensa, desconsiderando seu trabalho, ou, quando os seus subordinados despontam algo que o contradiz,  recorre a exoneração, mesmo quando o assunto é  investigação contra esquemas de corrupção na administração.

Assim foi quando atacou o repórter da Folha pelo levantamento revelando a verdade sobre as tais doações; quando ridicularizou e depois retaliou o trabalho da repórter da rádio CBN, que viu funcionários de limpeza da Prefeitura jogando água fria em moradores em situação de rua, na Praça da Sé; ou, mais recentemente, quando rechaçou qualquer tipo de estudo pela Prefeitura sobre a relação das muitas mortes nas Marginais e o aumento da velocidade proposto pelo jornal Folha de S. Paulo

Em meio a isso, o Prefeito fez alterações, no mínimo, suspeitas no secretariado. Iniciou com a troca de uma psicóloga e jornalista, eterna vereadora Soninha Francine (PPS), por um empresário, Filipe Sabará, para a pasta de Assistência e Desenvolvimento Social; e passou pela alteração do status da Controladoria-Geral do Município, órgão criado pela administração passada para ser independente e investigar qualquer indício de irregularidades do executivo municipal, deixou de ser autônomo e, sob a gestão Dória, passou a ser subordinado a Secretaria de Justiça do município. Ainda na CGM, Doria viu parte de seus escolhidos envolvidos no esquema de afrouxamento da Lei Cidade Limpa mediante pagamento de propinas. O prefeito reagiu exonerando a controladora-geral, Laura Mendes, responsável pelas investigações. 

Laura Mendes fazia um bom trabalho à frente da CGM. Ela foi uma das responsáveis por implantar um programa de parcerias entre o órgão, e as secretarias e instituições públicas do município. Com o objetivo em dar mais transparência, secretarias e algumas prefeituras regionais aderiram a parceria com a CGM. 

A Secretaria de Verde e Meio Ambiente foi uma das pastas a aderir o programa. Em parceria com a CGM o então secretário de Verde e Meio Ambiente, vereador Gilberto Natalini (PV), iniciaram investigações e descobriram mais esquema de facilitação, agora com as normas ambientais, em troca de ilícitos. O prefeito rapidamente agiu, e exonerou Natalini, substituído por Eduardo de Castro, advogado ligado ao PR com 4 vereadores na Câmara.

Mais recentemente, a falta de transparência e a implantação de obstáculos para dificultar o acesso à informações pôde ser ouvido, em áudio, através do ex-chefe de gabinete, Lucas Tavares, exonerado após o jornal O Estado de S. Paulo reproduzir a transcrição de uma gravação em que comentava dificultar o acesso de jornalistas à informações oficiais da Prefeitura. 

O prefeito agiu rapidamente como “bombeiro” e exonerou Lucas. Mas, curiosamente, não fez o mesmo com André Sturm, secretário de cultura, e Bruno Covas, vice-prefeito e secretário da Casa-Civil, que foram processados pelo Ministério Público por fraude na concorrência para o carnaval de rua. Tanto Dória como a imprensa, estranhamente, se calaram com os escândalos de corrupção. Agiram como se tudo estivesse em ordem. E está, a corrupção no Brasil é seletiva. Geralmente só é tratada com “escândalo” quando está do “lado vermelho da força”.

Dória programou com sua equipe de comunicação a divulgação de publicações, como de “balanço”, mostrando os feitos desta administração, nestes dias em que esteve fora do gabinete. 


Vídeo: Reprodução/ Canal "João Doria News" no Youtube

Sua equipe de comunicação iniciou a “série de realizações” com o número, inexplicável, pouco detalhado e insustentável até mesmo pela secretaria competente, de vagas criadas no sistema de creches da cidade. Divulgado em suas redes sociais, o “post” de fundo nas cores de seu partido, o PSDB, e com o próprio prefeito no canto inferior direito gesticulando o “acelera” com o indicador e o dedo médio, ambos da mão direita, apresenta em letras garrafais “recorde de matrículas em creches”,  e um pouco abaixo, “mais de 26 mil novas vagas em 12 meses.”


Imagem: Reprodução/Redes Sociais de João Dória 

Segundo a Secretaria Municipal de Educação – SME -, a administração Haddad teria deixado uma fila de 65 mil crianças a espera de uma vaga nas creches da Capital. 0 Na 37° Semana, a Mais SP apresentou tabelas, da SME, com números diferentes dos divulgados pelo prefeito. Vale conferir ( o convite é para todos, mas especialmente ao prefeito, fiel leitor desta Coluna).

A Prefeitura e o Governo do Estado aproveitaram a semana para reajustar as tarifas de ônibus, Metrô e CPTM para o ano de 2018. A tarifa passa de 3,80 reais para 4,00 reais a partir de janeiro. Este foi o segundo reajuste de Dória desde que assumiu a Prefeitura. Na 2° Semana, Doria sacrificou moradores da região metropolitana  e trabalhadores da Capital, quando recebeu de presente do governador Geraldo Alckmin o reajuste na tarifa das linhas intermunicipais, e alterou a metodologia do serviço de Bilhete Único.  

O prefeito, em férias com a família, encerra o ano com mais uma denúncia protocolada contra ele no MP. Desta feita, Ariel de Castro, coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana, entrou com pedido no Ministério Público para que cobre do prefeito políticas públicas voltadas às crianças em situação de rua, no Centro. Segundo o relatório inédito da ONG Visão Mundial, com ações focadas na região Central, 895 crianças e adolescentes vivem pelas ruas e avenidas do Centro, sendo que, em toda a cidade, 77.290 crianças e adolescentes estão em situação de risco como vítimas diárias de abuso e exploração, e negligência.

Aos leitores desta coluna, a Mais SP agradece por este 2017 de acompanhamento semanal da administração Dória, e deseja um ótimo 2018, com menos polêmicas e mais políticas afirmativas para o povo paulistano. Saiba que sem você, sem sua leitura, tenha a certeza, não estaríamos aqui. 

Que 2018 seja mais justo e igual para todos nós. E estes temas, justiça e igualdade, são caros as nós. Por isso nosso posicionamento contrário a gestão de João Dória. Não vemos nesta administração, princípios de justiça e igualdade, ou até mesmo uma agenda que defenda esses pilares. Não é oposição por mera picuinha. Espero que entendam.

Feliz Ano Novo! 


Aceitamos críticas e sugestões. Para isso, deixe sua opinião na seção "comentários" logo abaixo. Pedimos também que compartilhe, retweete, republique nosso material pelas redes sociais!







Compartilhe:

Claudio Porto

Jornalista independente.

Deixe seu comentário:

1 comments so far,Add yours

  1. Parabéns Claudio pelo grande trabalho a frente dessa seção além de seus editoriais. Orgulho enorme.

    ResponderExcluir