No vale tudo da atual política, delações premiadas de todos os tipos são consideradas, metodologias são alteradas e os direitos, estes ninguém sabe, todos fingem não ver o seu fim



Tim Maia e Sandra de Sá cantarolavam em Vale Tudo que “vale o que vier, vale o que quiser, só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher”, isso até certa hora do baile, depois realmente vale tudo no sentido pleno da expressão.  Em Brasília, Executivo, Parlamento e, agora, o Judiciário estão neste momento do baile, esta certa hora em que se vale tudo. O anuncio de que o julgamento da chapa Dilma-Temer será retomado no dia 6 de junho e contará com 4 sessões que determinarão se houve ou não irregularidades nas contas da campanha de Dilma e Temer em 2014, retomou o frisson da possibilidade de mais um impeachment e a convocação de eleições indiretas. O julgamento iniciou em 04 de abril, no TSE, e, pelo o que foi anunciado, voltará 2 meses e dois dias depois com mudanças no corpo de ministros: Henrique Neves e Luciana Lóssio deixaram o Tribunal para a entrada de Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira, escolhidos a dedo pelo presidente Temer que espera a “colaboração” dos novos ministros na separação da chapa e, consequentemente, julgamentos separados como deseja sua defesa. 

Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)



A ação que é um pedido do PSDB, partido derrotado em 2014, ganhou, nos últimos dias, alguns novos e saborosos ingredientes. O ministro relator da ação, Herman Benjamin, aceitou o pedido do MPF e incluirá nos “autos do processo” as delações do Casal 20, Monica Moura e João Santana, marqueteiros da campanha. Bom lembrar que este meio tempo de paralisação do julgamento foi um pedido das defesas. Resta saber quem o aproveitou melhor: as defesas ou o MPF e o ministro Herman Benjamin que conseguiram, neste mesmo tempo, encaixar as delações. Se não seguirem a tônica dos últimos tempos, a restrição em desrespeitar e, em vários casos, manipular os regulamentos, o presidente Temer deixará de ter o único pilar de sua existência enquanto presidente: a governabilidade.  

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Nos mesmos dias em que se anunciaram as datas do julgamento no TSE, divulgaram também números otimistas para a economia nacional. Se em outros tempos só ouvíamos discursos de “maior crise da história”, os últimos dias trouxeram, ao menos em números, um alento aos que já padeciam desmotivados, sem muitas esperanças. A divulgação de que o PIB voltou a subir (ou deixou de cair); abertura, em partes obscuras, de quase 60 mil postos de trabalho no ultimo mês e a recuperação, ainda lenta, da produção, alimentou portais de notícias e as manchetes dos jornais. Paralelo a estes números, muitos do IBGE que sofreu, recentemente, mudanças em sua metodologia, a veiculação exaustiva de campanhas publicitárias favoráveis às reformas Trabalhista e Previdenciária está, quase, ganhando um espaço como produção independente nas emissoras de TV e Rádio. Desde que Temer assumiu a frente na negociação de acordos de publicidade, especialmente com as emissoras de TV, inclusive indo se encontrar com o apresentador e empresário, Silvio Santos, a veiculação de campanhas, algumas com supostos populares preocupados com a Previdência ou felizes com a “modernização das leis trabalhistas”, intensificaram e, hoje, induzem com apoio de uma mídia nada esclarecedora, a opinião pública.      


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No ultimo dia 16 de maio, completou 29 anos desde que a memorável ultima cena da novela global, Vale Tudo, foi ao ar. É nesta dramaturgia que a vilã Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall, é assassinada pela personagem Leila, interpretada pela Cássia Kiss Magro, e se dá a mais valiosa e admirada pergunta deste País: “Quem matou Odete Roitman?”.  No fim, o autor, Gilberto Braga, explica que Leila matou Odete por engano, pensando que ela, Odete, fosse amante de seu marido Marco Aurélio, encenado pelo ator Reginaldo Faria. A novela, como boa parte das produções da TV Globo, foi um sucesso de audiência, além de ter sido comprada por emissoras de TV mundo afora. Após esse breve  resumo novelístico, o título dado à obra de Gilberto Braga, Vale Tudo, não deixou de estar na moda, entretanto ninguém se pergunta: “Quem matou ou está matando os direitos?”, por exemplo. Se outrora houve um clamor para se conhecer o assassino, hoje, ele é sabido: anda sempre engravatado e é o único a usar mesóclises, só não o questionam porque a vitima não é Odete Roitman e isso não se trata de novela.    

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Claudio Porto

Jornalista independente.

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