Imagem: Reprodução/Youtube
Documentário “Cidadão Boilesen”, de 2009, revela com ênfase a cruel aliança entre os militares e o setor empresarial do Brasil, que no fim da década de 60 e inicio dos anos 1970 financiaram ativamente as operações de repressão e tortura aos que se opunhavam a intervenção de 64. Na pessoa do dinamarquês, Henning Albert Boilesen, presidente da Ultragaz, o esquema não se restringia apenas no patrocínio de empresários as atrocidades cometidas pelos responsáveis da OBAN e DOI-CODI. As sessões de torturas, por muitas vezes, eram tratadas como apresentações que, de certa forma, permitiam extravasar a alegria dos espectadores, os empresários financiadores. Em resumo, não passava de entretenimento para os integrantes da OBAN e do setor empresarial. 


Ao contrário do que muitos pensam, o documentário mostra que o empresariado iniciou sua participação na intervenção por meio das torturas e não propriamente  no Golpe em março de 1964. De acordo com a produção, os empresários foram chamados pelos militares que, por volta de 1968, já se deparavam com a estrondosa ascensão dos militantes anti-intervenção, e assustados recorreram ao setor empresarial em busca de apoio. Sozinhos os militares não se sustentariam, diante disso houve a promulgação desesperada do AI-5, que retirou todos os direitos civis dos brasileiros e a instaurou a operação Bandeirante, a OBAN.  


O discurso era que a ascensão dos comunistas traria enormes problemas aos empresários. Com isso, Henning Boilesen que transitava livremente entre os generais e os empresários, assume o cargo de “tesoureiro” da aliança, além de se mostrar extremamente interessado pelas ações da OBAN. Era um assíduo espectador das torturas promovidas pelo delegado Sergio Fleury, no prédio do DOI-CODI em São Paulo, e o principal entusiasta do movimento que, na teoria, combatia o avanço comunista. 


O dinamarquês vivia na sede do DOI-CODI, era amigo intimo de Fleury e não tinha qualquer pudor em preservar sua imagem. Ele foi o responsável por importar dos EUA a “Pianola Boilesen”, um instrumento que emitia choques em correntes contínuas de energia nos prisioneiros da OBAN. 


Descuidado em não preservar sua intimidade, Boilesen foi pego em plena Alameda Casa Branca, Zona Central de SP, na manhã do dia 15 de abril de 1971. Oito militantes pararam o carro em que o empresário estava e disparam rajadas de metralhadora. O empresário foi condenado pelos revolucionários por ser o “responsável pela tortura no Brasil”


A famigerada expressão de que “dois raios não caem no mesmo lugar” não é válida para a curiosidade que envolve a morte de Boilesen. Cinco meses antes, Carlos Marighella, considerado inimigo número um de Boilesen, Fleury e seus amigos, também foi assassinado em meio a uma emboscada na Alameda Casa Branca, a mesma via em que o dinamarquês morrera. 


O período vivido por nós brasileiros entre 1964 e 1985, por mais que se conteste, está acima do duelo entre comunismo e capitalismo. Especialmente quando houve a imposição do AI-5 e o advento de ações como essas de Boilesen. Muitos pontos do período nos permitem refletir se esse tempo, de vinte e um anos, não serviu apenas para promover em alguns as realizações das vontades da natureza humana, que estritamente não passam de ter em mãos: o poder e a miséria daqueles que cercam.
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Claudio Porto

Jornalista independente.

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