Em 18 de Agosto de 2004, após uma Eurocopa miserável, a seleção principal da Itália foi disputar um amistoso com a Islândia. Neste dia estreava o técnico Marcello Lippi, que foi incapaz de conduzir seus comandados à vitória – Gudjohnssen e Einarsson deram a vitória aos islandeses.

Em 09 de Julho de 2006, o técnico recebia das mãos de Fabio Cannavaro a taça da Copa do Mundo da Fifa, conquistada a trancos, barrancos e cabeçadas (recebidas) nos campos alemães. Menos de dois anos após o resultado adverso em Reykjavik, Lippi falou sobre o assunto:

        – Quando perdi no primeiro jogo como técnico da Itália, me tranquilizei por lembrar que [Enzo] Bearzot [técnico campeão do mundo com a Itália em 1982] também perdeu o dele. Ele tinha a teoria que é importante perder amistosos. A derrota é um dos segredos para construir um time e entender seus limites.

Foi com essas sábias palavras em mente que tentei absorver o choque da exibição deplorável do time do Santos que resultou em sua primeira derrota na Vila para o São Paulo desde 2009. De maneira nenhuma pretendo tirar os méritos tricolores, que aderiram com maestria a seu plano tático e nos executaram com contragolpes eficientes. Mas o que mais incomodou aos santistas como um todo foi: como jogamos mal. MUITO mal. Como fomos batidos em tática e aplicação pelo time de Rogério, que de maneira alguma era mais qualificado que nossos jogadores – mesmo com os desfalques.

Uma apresentação tão medonha só pode servir pra uma coisa: tirar lições. E rápido. O campeonato Paulista pode não valer muito, mas vale mais do que amistosos, e seria legal chegar à nona final seguida – sem falar que não podemos jogar tão mal na Libertadores. Para isso, seguem cinco lições que espero que tenhamos aprendido:




1) Um zagueiro de 7 milhões de reais não pode ser banco do Lucas Veríssimo

Assim, sem querer queimar o pobre do Veríssimo, que ainda é jovem, mas não faz sentido você gastar um bom dinheiro num bom zagueiro e deixá-lo de reserva da sua quarta e sexta opções de zaga do ano passado – ainda mais porque a quarta opção é um VOLANTE improvisado. Por sinal, um volante que substituiria o Renato muito melhor que o Donizete (mais sobre isso à frente). A cobertura aos laterais estava péssima, a defesa não achou Gilberto nem Cueva muito menos Luiz Araújo, que tecnicamente é o reserva do Neílton (lembra do Neílton? Pois é. Lucas Veríssimo e Yuri é uma zaga que foi fatiada pelo reserva dele), e o fato é que 3 a 1 foi muito, mas muito pouco. Ficamos muito mais próximos de tomar 4 ou 5 a 1 do que fazer 3 a 2.

Eu entendo que o Dorival, assim como todos nós, deve chorar em posição fetal de saudade de Luiz Felipe e Gustavo Henrique, mas isso não serve de desculpa pra desistir de tentar. Na pior das hipóteses, põe o Noguera. A defesa continua uma peneira com ele, mas pelo menos ele arranja uns gols em escanteio.


Pelo menos os jornalistas ele consegue intimidar.


2) Donizete é um substituto hediondo pro Renato.

Eu realmente não queria pegar no pé do Donizete, mas... eu também queria que não precisássemos jogar com um a menos por causa dele. E não é que ele tenha dado pancada e sido expulso (pelo menos estaria suspenso pro próximo jogo), mas que o jogo passou por ele no meio campo como se ele fosse um bull terrier perdido. Aliás, é uma imagem bem parecida. Uma criatura baixa e atarracada, sem nenhuma inteligência futebolística, passe terrível e zero capacidade de antecipação, correndo atrás dos jogadores adversários até cansar (o que acontece até bem rápido).

Por mais que Dorival goste dele e de suas táticas de guerrilha, não dá pra contar com um volante que não cobre os laterais, que está sempre atrás dos meias adversários (ao invés de estar na frente) e que NÃO CORRE ATRÁS DO ADVERSÁRIO (olhem a velocidade negativa dele no 2º gol são-paulino).

Substituir Renato com Donizete é tipo trocar um forno por um saco de carvão e uma caixa de fósforos. Se o nosso volante-doutor continuar lesionado, que entrem Jean Motta, Cittadini ou Yuri. Donizete só pra gastar tempo no final dos jogos da libertadores.


Antes e depois da roubada de bola que resultaria no gol. Fonte: ESPNFC.


3) Rodrigão só faz gol em defesa “mãe”.

Dois gols no São Paulo ano passado (numa defesa com DieGroot Lugano) e mais dois no Linense parecem ter deixado alguns membros da comissão técnica com a impressão que Podrigão Rodrigão consegue fazer gol em uma defesa que não seja um bando desorganizado. Ninguém parece ter dado atenção que ele tenha passado em branco contra times com defesas minimamente bem postadas. O Santos trouxe Kayke, um atacante mais móvel, que apesar do gol ilegal, parece se entender melhor com Lucas Lima, Bueno e Copete. Rodrigão nunca demonstrou uma fração dessa capacidade.

Já é difícil ficar sem um atacante da qualidade de Ricardo Oliveira, e até consigo entender escalar Rodrigão quando a outra opção era o camaronês Joel. Mas o fato é que o Santos foi ao mercado e se reforçou – ou deveria. Se Kayke não é melhor do que Rodrigão, então seja lá quem o comprou não sabe o que está fazendo.



4) Pré-temporada tem que servir pra alguma coisa.

O jogo contra o Red Bull já foi preocupante pelo número de vezes que os adversários saíram sozinhos na cara do nosso goleiro, e também da “canseira” demonstrada pelos atletas. OK, o jogo era naquele horário inaceitável para seres humanos praticarem atividade física – às 11h do verão brasileiro. Mas o clássico foi numa quarta à noite. E o São Paulo estava no mínimo tão cansado quanto o Santos, isso desconsiderando o fato de que a pré temporada são paulina foi no outro hemisfério. Não tem justificativa para o time estar se arrastando em campo daquele jeito. Parecia o exército das árvores do Senhor dos Anéis. Em particular, como já dito acima, Donizete estava menos móvel do que o juiz. Não era o “general” que chegou pra recuperar bolas e dar tapa na cara? Pelo menos o Alison Pitbull corria, além de dar botinadas. O time não tem nem aquela justificativa de “pré temporada incompleta”, teve tempo o bastante (mas aproveitou muito menos do que o São Paulo, que pôs a cara a tapa contra adversários qualificados e ainda aproveitou pra conhecer o Mickey.


Enquanto isso, nós ficamos aqui e contratamos o Pateta.


5) Sérgio Dimas aparentemente é o melhor jogador do Santos


OK, essa não é bem uma lição, é mais um pedido singelo: Modesto, querido, eu não faço ideia da função que Sergio Dimas executava no clube. Mas aparentemente os jogadores estão mais preocupados com o paradeiro dele do que com o dos atacantes adversários, o que é muito ruim, considerando o quanto de gols eles podem fazer na gente. Só o reserva do Neilton fez dois. Então chama a galera e ou põe na mesa ou pede desculpas. Só não dá pra continuar com esse time que tem mais sorte que juízo...


A título de curiosidade, esse com o Matheus Ribeiro é o Sérgio Dimas, o homem que aparentemente motiva o elenco a saber o que está fazendo em campo.

Até a próxima!
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Victor Martins

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  1. Muito bom seu comentário, sóbrio e sem figuras! Parabéns, a ESPN ou a FOX estão precisando urgente de profissionais do seu quilate.

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