O circo projetado por Niemeyer no século passado é o mesmo, mas a trupe com muito custo às vezes muda


Falta pouco para eles voltarem. O recesso parlamentar acaba no próximo dia 02 de fevereiro e os agitadores da Republica estarão de volta as suas cadeiras e gabinetes no Parlamento brasileiro. Câmara Federal e Senado Federal voltam aos trabalhos depois de um ano em que eles foram os protagonistas. Certamente não houve ano em que os poderes Legislativo e Judiciário ganharam tanta notoriedade como o ano passado. De afunilamento da Operação Lava Jato ao segundo Impeachment desde a redemocratização em 1985, os poderes fiscalizadores do executivo, mesmo que por muitas vezes em causa própria, trabalharam intensamente. Enquanto o inicio de 2017 não permite o presidente, nem mesmo, pentear sua vasta cabeleira branca, o ano para os senadores e deputados federais promete ser, não igualmente o ano passado, mas semelhante. E os trabalhos já começam para valer na própria quinta-feira (02). Na Câmara Federal, a expectativa da eleição para presidente da casa não tem deixado o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os deputados Jovair Arantes (PTB-GO), André Figueiredo (PDT-CE), Júlio Delgado (PSB-MG) e Rogério Rosso (PSD-DF) dormirem. Ambos anunciaram oficialmente suas candidaturas e correm atrás de votos para o cargo que é uma espécie de 2 em 1, por garantir, além do comando da casa, o posto de “vice-presidente” da Republica, cargo mais importante depois de Temer.
 Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram)

Cada um com as suas ideias e, principalmente, representando alas diferentes do Plenário Ulisses Guimarães, os presidenciáveis encontrarão uma Câmara de imagem bem desgastada com a opinião pública. Até a ultima quarta (25), o deputado que foi presidente da Comissão de admissibilidade do processo de Impeachment da ex-presidente Dilma, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), também era candidato à cadeira principal da mesa diretora, mas depois que seu partido resolveu apoiar Rodrigo Maia (DEM-RJ), o candidato do PSD suspendeu sua candidatura e saiu do pleito. Mas, na ultima segunda (30), o deputado voltou atrás e, durante entrevista coletiva no Salão Verde da Câmara, anunciou o retorno de sua candidatura. Bom lembrar que o Rogério foi o candidato do ex-deputado e ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, quando ele teve o mandato cassado e convocaram eleições que levaram Rodrigo Maia à presidência, no ano passado. Fato é que todos são figuras bem antigas em Brasília.

O candidato que conta com o apoio de seu partido e dos partidos de oposição, PT e PC do B, o deputado André Figueiredo (PDT-CE), está no 3º mandato como deputado federal e é uma figura bem simbólica, já que em agosto de 2015 ele foi o porta-voz do rompimento da legenda com a presidente Dilma Rousseff, mas dois meses depois aceitou o pedido da então presidente para assumir a pasta da Comunicação no governo petista. 

Outro candidato, e esse briga sozinho, é o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG). Assim como Figueiredo, deputado Júlio Delgado lançou sua candidatura sem nem mesmo contar com o apoio do partido que, por sua vez, faz parte da base aliada e, mesmo Maia duvidoso, decidiu reunir forças para a eleição do atual presidente. Júlio Delgado está na Câmara Federal há cinco mandatos e, por enquanto, foi o ultimo a lançar candidatura, nessa segunda (30), três dias antes da votação.

Jovair Arantes (PTB-GO) está na Casa há mais de vinte anos e somando seis mandatos é outro que tenta ser o representante do famigerado Centrão – grupo de partidos conservadores que acompanham os ventos do Governo -, assim fez Eduardo Cunha há dois anos. Diferente de hoje em que temos Jovair como mais um candidato solitário, abandonado até mesmo por seu partido, na época Eduardo Cunha contou com a força de um Centrão unido e conseguiu se eleger em primeiro turno, com 267 votos.  Arantes, talvez seja conhecido por ter ocupado a relatoria na comissão de admissibilidade do processo de Impeachment de Dilma. 

Já o atual presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), depois de muitos conflitos sobre a legitimidade de sua candidatura à reeleição, que ainda passará por julgamento do STF sobre a moralidade da matéria, quer manter as regalias de um presidente da Câmara. O chileno naturalizado brasileiro está no seu 5º mandato e assumiu a presidência da Casa ao ganhar as eleições promovidas assim que o ex-deputado Eduardo Cunha foi cassado, em julho do ano passado. Na época foi o nome preferido da aliança dos partidos da base de Temer. Não diferente, hoje continua sendo o braço do Governo na Câmara e além de contar com o apoio do presidente da Republica e de partidos como PSDB, PMDB, PPS, PSB e DEM, conta também com aqueles que deixaram seus candidatos, casos de PT e PC do B e dos partidos do Centrão (PP, PRB, entre outros). Com isso, se a decisão do STF for favorável à Maia, o atual deve se reeleger e a farra com a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap), que durante o segundo semestre de 2015, sob a gestão de Cunha chegou a R$ 116,8 milhões, e com Maia, os cofres da Câmara tiveram que desembolsar R$103 milhões, devem continuar. O Ceap é um cheque em branco disponibilizado para os parlamentares usarem como quiser. Talvez seja essa a motivação para a aliança pró Maia. 
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No Senado Federal, o coronel Renan Calheiros sai para descansar e o senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE), que até ano passado era o líder do partido no Senado deve assumir. O senador é um dos autores daquela lei que obrigava o uso de faróis acesos também durante o dia e o autor do passe livre para todo o país, em 2013. Eunício, assim como boa parte do PMDB, também é um citado na Operação Lava Jato. Ele foi “lembrado” em depoimentos do senador cassado Delcidio do Amaral (PT-MS). O senador Raimundo Lira (PMDB-PB) é outra peça fundamental para a nova composição do Senado. Ele que foi o presidente da Comissão Especial que julgou o Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, deve assumir a Comissão de Constituição e Justiça, que até ano passado era do correligionário, senador José Maranhão (PMDB-PB). A comissão é a porta de entrada do Senado Federal. São eles quem pautam as atividades dos parlamentares e também os responsáveis pela sabatina a ser realizada com ministro do STF que o presidente deve anunciar. Tudo, necessariamente, tem que passar pela CCJ e se aprovado, segue para a tramitação dos senadores no plenário. Lá encontrarão Renan Calheiros que deve ser o líder do PMDB no plenário. 

Com enorme respeito aos circenses, mas não podemos deixar de pontuar que o picadeiro, infelizmente, está montado e a partir da próxima quinta já devemos ter apresentações. Temer que se cuide, o ano enfim começará.
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Claudio Porto

Jornalista independente.

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1 comments so far,Add yours

  1. Muito bem colocado o post, antes mesmo da volta oficial, as NEGOCIATAS pela presidência da câmara já rolam soltas. É o CIRCO de Brasília, que não tem, definitivamente graça alguma, apesar de ter muita MARMELADA e PALHAÇADA..

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