Bem, vamos dar início á nossa tradicional cobertura das Eleições, neste pleito de 2016 com o "Debatendo o Debate", que discute junto á população propostas e claro, avalia as propostas (ou a falta delas) e a postura dos candidatos durante os debates políticos.

Tradicionalmente a BAND abre os debates, o que configura o "marco zero" da cobertura eleitoral e não foi diferente este ano. A avaliação de todos na emissora está correta em parte apenas, Boris Casoy referiu ao término do debate que este havia sido de "alto nível". Depende do ponto de vista, houveram poucos ataques realmente e de uma sutileza ímpar. Porém o debate foi fraco no sentido propositivo, praticamente nada em termos de ideias para a cidade. Por isso antes de entrarmos na avaliação de cada candidato, vamos falar sobre algumas ideias em temas fundamentais, que não ficaram claras ou não foram colocadas pelos candidatos.



Educação - A "progressão continuada" é uma das razões pelo ensino público ser o que é. Acabar com ela é apenas um passo para a sua melhoria, é preciso investir firmemente na valorização e requalificação dos professores, sem isso, dificilmente a qualidade do ensino melhorará, por que o programa escolar seguirá sendo insuficiente, como hoje.

Os CEUs (que surgiram na gestão Marta) são uma ferramenta fundamental e podem ser peças chave em uma necessidade cada vez mais clara, que é a educação em período integral. Esse equipamento permite que o aluno faça cursos profissionalizantes, pratique esportes (inclusive se investido, os CEUs junto as unidades de CEL e CDMs podem formar atletas de alto rendimento), os CEUs podem ser uma ferramenta para que mesmo os alunos que não estudem em escolas compatíveis com o ensino em tempo integral, possam, após o período em sala, desenvolver essas atividades no CEU mais próximo. Para que com isso possa se focar na construção de novas escolas.


Segurança - A responsabilidade constitucional pela segurança pública é dos governos estaduais. Portanto, candidato á prefeito que referir "Tolerância Zero" no combate ao crime, brinca um pouco com o cidadão. Nossa Guarda Civil, porém tem estrutura para apoiar de forma mais assertiva a polícia militar. Sobretudo nos bairros da periferia, onde ela está instalada. Foi citada a questão dos tais "pancadões", mais uma situação na qual os CEUs, CELs e CDMs podem ser muito úteis. Se durante o dia esses equipamentos públicos podem funcionar fortemente em relação á cursos e ao esporte, á noite, sobretudo aos finais de semana podem e devem ser parte de atividades culturais. Toda manifestação artística é sim cultura, o que se pode questionar é se ela é ou não de bom gosto. Nas periferias, com o poder público abraçando esses jovens e promovendo atividades relacionadas não apenas á um ritmo musical, mas á todos, além de oficinas teatrais, sarau, enfim, atividades diversas que podem com o tempo, modificar a perspectiva desses jovens. Cresci na periferia e sei que é uma tarefa difícil, mas se muda culturalmente uma população oferecendo opções, sem ação, não há mudança.


Mobilidade Urbana - Por fim, tema que foi central na gestão Haddad, onde o atual prefeito cometeu erros e acertos. Muita coisa foi feita no impeto de mostrar um resultado, mas sem ser adequadamente planejada. As ciclovias são importantes sim, mas desde que melhor planejadas. Moro em Itaquera, o corredor nas avenidas Lider e Itaquera por exemplo é uma obra sem sentido. As pistas sempre deram conta do fluxo vindo da Av. Aricanduva e Rio das Pedras sem a necessidade de uma faixa, a obra causa transtornos á pedestres e motoristas e não terá um efeito transformador, já que os ônibus raramente sofreram com o trânsito nessa via, erro pela ação, como outros dessa gestão.

Sobre Indústria de multas não é um problema de hoje como muito se coloca, há mais de 20 anos (desde que tenho discernimento) ouço e leio sobre isso. E a redução de velocidade é uma medida sim, capaz de diminuir os acidentes e melhorar a fluidez, talvez o que precise mudar é que o monitoramento deva ser constante. Assim, a população se obrigará a seguir o tempo todo as regras de trânsito, ao invés de reclamar que "havia um radar escondido", não deu tempo de reduzir a velocidade", enfim. Sobre "Controlar", o método anterior estava errado, a Inspeção Veicular não deve ser cobrada e deve ocorrer em veículos já com algum tempo de uso (isso especialistas podem determinar melhor), afinal, o controle sobre emissão de poluentes de carros novos, deve ser uma tarefa do Estado Brasileiro.


Colocadas essas observações sobre o pouco que se debateu de prático, vamos a análise de cada candidato:


Fernando Haddad (PT) - Vejam, Haddad como já colocado, teve iniciativas interessantes, que pecaram pela falta de planejamento. Seu governo não é tão ruim quanto se pinta, mas foi prejudicado essencialmente por dois fatores: A tal "indústria da multa", que assim como a "Martaxa", acabou virando uma marca á ele associada e o momento difícil vivido por seu partido em âmbito nacional.

Em termos de desempenho o atual prefeito foi bem, dono de uma ótima didática, ele defendeu com unhas e dentes as ações de seu governo e saiu com elegâncias dos ataques que sofreu.

Porém, dificilmente Haddad avançará ao 2º turno, além da avaliação de seu governo ser cercada de estereótipos, novamente vale frisar que a situação de seu partido configura uma alta rejeição á ele, assim como todos lá. Mas há de se louvar a coragem de tentar a reeleição ante um cenário tão desfavorável, é um quadro político que o partido pode estudar para um renascimento no futuro.


Celso Russomanno (PRB) - O deputado Russomanno é um cara de TV, tem muita habilidade, sabe falar com a população. Pecou pela falta de objetividade em termos de propostas (como todos) e com algumas informações desencontradas.

Russomanno precisa tomar cuidado com propostas um tanto quanto "difíceis" de serem cumpridas, isso, aliado aos ataques, foram os fatores que o derrubaram na campanha anterior. Ele voltou a falar de "Creches verticais" por exemplo, seria ótimo. Mas será que funcionaria na prática, será que valeria o risco? Afinal, são crianças pequenas. Enfim, mesmo com o déficit educacional que temos, as pessoas já não caem em qualquer proposta.


Olímpio (SD) - Não coloco patente de "Major", por que ele não é "major" na essência, ele não nasceu major. Rechaço toda ordem de alcunhas, quem nos acompanhou na cobertura das eleições presidenciais sabe disso. A atuação desse candidato foi patética. Louvo sua emoção, mas não trouxe nenhuma ideia prática, ele usou jargões como "cumprirei a lei" e "farei o que está descrito no plano diretor e no plano educacional". Mas COMO cumprirá? O que está descrito na lei e no plano do que quer que seja, cara pálida? Não disse nada com nada, gritou, atrapalhou o andamento normal do debate, é uma pena que "isso" tenha vaga e Erundina, por exemplo não tenha, mas disso falaremos no fim.


João Dória (PSDB) - Vejam, eu pessoalmente admiro Dória como empresário e comunicador. Mas não consigo entender o por que de se lançar á política. O discurso de que se candidatou por que ama a cidade não convence. Ainda mais quando em entrevistas cita querer passar quase todo o serviço público para a iniciativa privada, que visa lucro. Esse neoliberalismo em um país com as carências que temos leva a população mais pobre onde? Além de declarações tolas sobre um plano de governo estranho, a falta de trato com a população é evidente, como no episódio em que fez cara de vômito ao experimentar um pingado (café com leite). É aquela velha imagem do político que aperta a mão do povo e lava as mãos em seguida, passa a mão na boca após beijar criança. Sinceramente eu achava que em 2016 isso tivesse sido superado, lerdo engano.

Porém, como já dito, é um comunicador, didaticamente foi o melhor, colocou "nada com nada" com uma convicção incrível e pode com isso angariar votos. Tem uma coligação enorme, pode chegar ao 2º turno, apesar de eu não apostar minhas fichas e desejos nisso.


Marta Suplicy (PMDB) - A polêmica ex-prefeita finalmente foi para um partido mais condizente com algumas posturas que teve no passado. Sua administração na cidade teve (assim como Haddad) erros crassos e também acertos, citamos aqui os CEUs. A candidata durante muito tempo ficou afastada das questões populares e durante a pré e agora candidatura fez de um tudo para recuperar esse "tempo perdido" de uma forma um tanto quanto artificial, mas vale a tentativa.

Ela se disse "relaxada" durante o debate, até demais, acabou sendo muito superficial nas suas colocações e não apresentando propostas efetivas. Apelou bastante para o emocional, no sentido de melhorias que fez em seu mandato e arrependimentos como a questão das "Taxas". Tem alta rejeição, mas é um nome forte sim, sobretudo nesse cenário que se apresenta. Faltou um pouco mais de veemência na colocação de ideias, se é que as tem.



Por fim, vale dizer que toda legislação tem erros e acertos, é um acerto impedir o financiamento empresarial de campanhas. Mas é um erro crasso o estabelecimento de um quociente parlamentar para a participação nos debates. O modelo anterior de presença legislativa era  mais adequado do ponto de vista do eleitor. Para a TV foi ótimo, pois o debate foi mais curto, mas isso diminui a qualidade, um nome como o de Luíza Erundina (PSOL) ficar de fora é um grande prejuízo, não só pelo lastro político que tem, mas por que está em 3º lugar nas pesquisas e tem sim, apesar disso, chances reais de avançar ao 2º turno, perdeu o espectador.

Mas regras são regras, se diz que em liberada Erundina, os demais também teriam de ser, aí está o erro na legislação. A força de uma representação parlamentar não deve ser medida por números e sim por sua qualidade, nem o mais franco opositor em termos de ideias, pode alegar que o PSOL não é combativo. Além dela, ficaram de fora Ricardo Young (REDE), Levy Fidelix (PRTB), Altino (PSTU), Henrique Áreas (PCO) e João Bico (PSDC). 


E numa falta de propositividade tão latente, evidentemente que é impossível eleger um vencedor para este debate, se você eleitor, tem, comente.



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Foto: Ag. Estado. 



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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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