Meus amigos, o que assistimos neste 5 de Outubro de 2014, foi um marco histórico na política Brasileira, uma das viradas mais acachapantes, e arrisco-me a dizer que a mais acachapante de nossa jovem democracia, Aécio tomou fôlego na semana final e atropelou Marina, que foi enfraquecida pelos duros golpes aplicados pela campanha de Dilma. Vamos aqui falar principalmente sobre o cenário Federal, o quadro Paulista, e comentar rapidamente as eleições nos demais estados.

A Virada Presidencial

É inevitável iniciar falando de Aécio Neves, e da leitura que tive em relação á essa virada, que repito, é a mais esmagadora da história da nossa jovem democracia. Pra começar é preciso dizer que o PSDB nunca investiu até a semana final, o máximo de seu potencial na candidatura de Aécio, até pelas inúmeras divergências internas que os Militantes Tucanos conhecem bem melhor do que eu. Pleitearam-se dentro do partido outros nomes, nomes Paulistas, até em FHC se pensou, ele mesmo teve de rechaçar a hipótese de voltar. Aécio foi o escolhido por conta da estratégia, após Serra perder feio para Haddad na capital Paulista, e Alckmin se colocar como franco favorito para seguir a "dinastia" do PSDB no estado de SP. Então, Aécio Neves foi o candidato, mas sem tanta força da militância á seu lado, até que veio o Debate da Globo (Clique), onde dentre os candidatos G3, Aécio claramente se sobressaiu, mais sóbrio, mais tranquilo, sabendo tirar vantagem dos duelos que travou contra suas duas principais adversárias. Assim como em 89 (sem referências negativas), o Debate Global teria papel decisivo no resultado final, desta vez definindo o adversário da atual Presidente no 2º Turno. 

Evidente que o Debate não decidiu o destino do 1º Turno sozinho, e nisso eu preciso fazer um mea-culpa, se considerarmos que a Militância Tucana foi determinante para que Aécio saísse em 9 dias de 18% para 34%, evidente que o trabalho nas ruas foi fenomenal, mas os MAVs (Militantes Virtuais) foram também fundamentais na construção dessa "euforia" que tomou conta do eleitorado que era "Anti-Dilma", em torno da ideia de que a candidatura mudancista, a candidatura de ruptura do atual modelo é a de Aécio, portanto, os méritos nisso devem ser divididos entre Aécio, e todo o aparato de militância Tucana, inclusive o virtual (apesar de eu seguir achando Militância Virtual algo pedante e constrangedor) basta analisarmos o fato de Aécio ter saído de 23% para 45% em SP, uma vitória por 21% sobre Dilma Rousseff, número assustador que pega carona com as vitórias de Alckmin e Serra sobre o PT, no maior colégio eleitoral do país.


Vamos agora falar de Marina Silva; Realmente, deve ter sido muito dolorido para a candidata, que se mostrou durante boa parte da campanha uma ameaça real para Dilma, e isso nada tem a ver com a morte de Eduardo Campos, é tolice atribuir à tragédia o crescimento eleitoral da candidata, o discurso de nova política, aliado á bandeiras das manifestações como o Passe livre, além da tese (dificilmente cabível) de integração nacional supra-partidária, foram o que elevaram a margem real de votos de Marina, que é desses 20% com os quais ela saiu deste pleito. Porém, Marina quis passar uma imagem de que teria cumprido a missão, de que alcançou o patamar máximo, não penso que isso proceda, Marina não teve uma base forte, seja em matéria de militância, seja de tempo de TV, foi presa fácil dos ataques de seus rivais (dos dois, é importante que se diga), e ainda conviveu com contradições, contrariou sua face progressiva quando cedeu á pressões de setores conservadores em suas propostas, não conseguiu explicar em nenhum momento a autonomia do BC que propôs, nem na tentativa desesperada que fez no Debate Final, aliás, ela que (dentre os grandes) venceu os debates anteriores, esteve completamente perdida neste final, e o que o eleitorado mais conservador busca é a segurança, segurança que viu em Aécio, e acabou trocando de votos na reta final, levando-a de volta para o patamar de 4 anos atrás, quando era ainda uma novidade, e quando no PV, não tinha um compromisso com a competitividade como tinha neste pleito.

A situação em relação ao futuro de Marina é muito difícil, ela que não tinha rejeição adquiriu com ataques rivais e falhas pessoais neste pleito, terá de assumir uma posição de apoio à candidaturas que a atacaram duramente, prejudicando fortemente também a tese da tal "Nova Política", que nunca ficou claro ao eleitor mais esclarecido o que era de fato, e se realmente era representada por Marina, visto que ela uniu-se com uma oligarquia Pernambucana, além evidente, da constatação de que não se sai ileso de uma queda Russomaniana como ela teve nesta eleição, o futuro de Marina Silva é incerto, mesmo com 20% de base de eleitorado.

Já para Dilma Rousseff, todos os analistas, e este mero cronista, tinham a ideia de que em tese, um duelo contra Aécio Neves seria "mais fácil" para ela, do que contra Marina, visto que o eleitorado de Marina se divide, enquanto o de Aécio iria quase que na sua totalidade para a candidatura mudancista. Porém, a força com que Aécio chegou ao 2º turno, inclusive percentualmente tirando 7 pontos de Dilma, que deveria ter tido 48 e ficou com 41, enquanto Aécio deveria ter parado nos 30 e foi á 33, é um cenário que inspira cuidados, e cada voto do eleitorado de Marina, que deve nominalmente apoiar o Tucano será disputado como um tesouro pela candidata oficial.


O que fica claro, resumindo, é que não temos uma "nova eleição" no 2º turno, e sim uma eleição aberta, onde há sim a chance de vitória para ambos os lados, cenário pouco provável até o início do pleito, mesmo com as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobrás, afinal o PT já sobreviveu fortemente á semelhante crise que derrubou nomes históricos de seu partido, diferente desta que atinge "executivos". 

Só uma coisa que eu deixaria de esclarecer, essa coisa que a militância Tucana conseguiu, de colocar o PT como "Partido da Corrupção". Enquanto o PSDB seria o "Paladino da Ética", foi algo bastante efetivo, porém muito perturbador. A ética, ou a falta dela, não tem cor, as duas principais oligarquias políticas do Brasil já tiveram escândalos de corrupção sobre suas costas, o voto no PSDB não é um voto de protesto, diferente da ideia que se fomentou pelo país, sobretudo nessa reta final.

O cenário Paulista

Impressionante, porém muito menos surpreendente que o desempenho no nível federal, foi o desempenho Tucano em SP, nas figuras de Geraldo Alckmin e José Serra, que venceram de forma absoluta, com 57 e 58% respectivamente, as disputas por Governo e Senado.

No caso de Alckmin, há muitas lacunas em sua administração como sempre colocamos, lentidão dos investimentos em todas as áreas, sobretudo nos Transportes, e na passividade como foi encarada a questão de abastecimento até culminar na grave crise que temos que não é apenas culpa da ausência de chuvas, dentre outros tantos problemas, que tem como razão central a lentidão da gestão, os avanços sim acontecem, mas muito mais na prancheta do que na prática. O que empolga" o eleitorado em relação à Alckmin é sempre essa "serenidade" que ele passa, temos um eleitorado essencialmente conservador, e a postura nesse aspecto é fundamental, a construção no imaginário do eleitor da ideia de que é preciso haver o progresso continuo (o que é correto), não importando a sua velocidade (o que na minha concepção é incorreto). 

O Governador tem uma força política muito grande, e não viu em seus principais adversários Skaf e Padilha, candidatos que pudessem bater de frente. Skaf errou ao desafiar o eleitor como se ele fosse inerte, o eleitorado Paulista é conservador, é orgulhoso, não aceita ser afrontado, e o desabafo soou agressivo, mas ele foi um bom candidato, espero que ele não entenda novamente que o problema está no partido, ele saiu de uma corrente mais neutra para ir para uma oligárquica que é o PMDB, que arque com as consequências. dessa mudança. Já para o petista, que demonstrou falta de desportividade em seu discurso de derrota (reclamando das pesquisas, que apesar de erros retrataram a pontuação de Alckmin não podemos brigar com os números) ficaram claras em minha visão duas situações, uma delas até que se refletiu em outras praças, não é sempre que se farão "postes", Gleisi Hoffman por exemplo comeu poeira no PR, e outros casos houveram pelo Brasil, o outro exemplo citado é aqui mesmo da capital, Haddad tem tido uma administração que não é bem avaliada, sobretudo em setores específicos, como projetos criados lá atrás na gestão Marta, que perderam fomento nesta, além de algumas bandeiras como o Transporte 24 Horas que foram abandonadas, e especificamente para a Zona Leste, houve o inverso, o arrocho das opções de transporte, prejudicando a população que se locomove do centro até o extremo leste, então criou-se uma rejeição à administração petista na capital, que somada ao domínio Tucano no interior fortaleceu o resultado dos Tucanos, as experiências bem-sucedidas em cidades da grande SP como Guarulhos, não foram suficientes para alavancar a candidatura de Padilha.

Eu creio que na administração estadual, é preciso acelerar o ritmo dos avanços. Quem acompanhou nossa cobertura sabe que a forma com que Natalini se colocou nos agradou bastante, e acho que como o PV tem bom trânsito junto ao PSDB, seria importante o Governador ouvir um pouco mais o que o PV tem á dizer, o mesmo vale para o plano Federal.


Senado - Não se pode duvidar jamais de uma liderança política como José Serra, independente do buraco em que tenha se metido, confesso que eu mesmo cometi esse erro quando da derrota diante de Haddad, mas a vitória de Serra toma ares épicos, uma vez que foi conseguida em cima de um nome do calibre de Eduardo Suplicy, outra liderança histórica, emblemática, e que transcende barreiras, Suplicy é respeitado desde os setores mais Socialistas, até os mais conservadores da política e das relações econômicas e sociais Brasileiras. Dois fatores importantes de serem observados em relação ao Senador que deixa após 24 anos o seu posto; A campanha de Suplicy foi um tanto fantasiosa, ser "do Bem", não é argumento de voto, é algo intrínseco, (em tese) quem se dispõe á servir a população através da política tem de ser do bem, acho que o PT nesse aspecto cometeu o mesmo erro que eu, de ver o Serra como morto politicamente. O outro aspecto, é que talvez o eleitorado de Suplicy tenha "o premiado" com o direito de descansar após tantos serviços prestados, e após tanto desgaste de sua imagem nos últimos anos, por ter de conviver com situações que sempre combateu, no seio de seu partido. Rapidamente sobre Kassab, quem me conhece sabe as inúmeras divergências que tenho em relação à ele, mas ele fez a campanha mais propositiva do Senado paulista, com amplo leque de propostas, que se seriam cumpridas ou não, não se sabe, mas de todo modo, trazer á tona um debate propositivo é sempre importante e fundamental, e apesar de ter tido apenas 5% dos votos, Kassab sai desta eleição mais respeitado do que entrou.

A cadeira de Serra no Senado é estratégica para o PSDB, Álvaro Dias, que foi eleito no PR com esmagadores 77% dos votos sempre reclamou de ser "uma voz isolada da oposição no Senado", agora ganha um companheiro craque na articulação política, cujo não sabemos se cumprirá os oito anos de mandato, ou se virá para o Governo ou até mesmo a prefeitura visto essa lacuna atual de gestão, mas tem um suplente também extremamente habilidoso e que conseguiu se desvincular (até aqui) do escândalo do Cartel do Metrô, que é José Anibal, portanto, independente se ocupada por Serra ou não, essa é uma cadeira estratégica para o PSDB no Senado.

Demais destaques

RJ - Quero parabenizar ao Rio por ter derrotado através de Crivella (PRB) e Romário (PSB), duas das oligarquias políticas mais nocivas que já se viram na política Brasileira, Garotinho (PR) e César Maia (DEM). As pesquisas erraram feio no RJ, Crivella teve força para vencer por alguns milhares de votos o ex-Governador, e agora deve angariar votos de dois candidatos mais á esquerda, Randolfe e Motta que rendeu expressiva votação ao PSOL neste pleito, além de alguma parte do eleitorado de Garotinho. Pezão parece ter atingido seu "Teto-Eleitoral", o candidato do PRB, que apesar de ter história na IURD, não tem viés fundamentalista, tem sim chances de vencer a dinastia PMDBista no Estado do Rio. 

Vale parabenizar também o PSOL no Rio no aspecto de bancada, é a bancada mais forte do partido no país, com 3 Federais, e 4 estaduais.

RS - No Rio Grande as pesquisas também falharam feio, o conservadorismo representado por Ana Amélia (PP) que esteve sempre colocada no 2º turno, foi ultrapassada nas urnas por Sartori (PMDB) e Tarso Genro, o que mostra um movimento de rompimento com o conservadorismo encrostado no Sul, Yeda Crusius não se elegeu para a câmara Federal, vale também esse registro.


Outras oligarquias políticas foram derrotadas pelo Brasil, como a dos Sarney e a dos Magalhães, algo que traz um leve cheiro positivo á este pleito.


Para encerrar, duas reflexões; Eduardo Jorge que na minha visão deu show em todo esse processo no bom sentido, não escondo de ninguém esse posicionamento disse: "Não entendo a razão de haver Lei Seca nas eleições, se mesmo sóbrios, votam errado". 

A outra reflexão é; De que serviram os protestos que (quando pacíficos) mobilizaram o país em torno da melhoria dos serviços públicos? Essa eleição realmente refletiu a indignação do cidadão Brasileiro? Fica a pergunta no ar.

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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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