O Brasil encontra-se à deriva. Já faz mais de dois anos que entramos numa tempestade sombria de destruição de nossos direitos e conquistas. As chuvas rapidamente transformam-se em tempestades e as tempestades em tsunamis, os tsunamis, por sua vez, são traduzidos em mortes de milhares de brasileiros.

Essa catástrofe me fez pensar em colheita, como o que plantamos germina, cresce e enche nossos celeiros, tudo a partir da cultura que escolhemos semear. Engraçado é ver milhares de pessoas que plantaram o bolsonarismo querendo colher amor, empatia, respeito, crescimento econômico, vacina, defesa da coisa pública, cuidados com saúde e educação. Sinto desapontá-los, mas nada disso germinará no bolsonarismo, que veio para desconstruir o crescimento coletivo, em detrimento da defesa de seus interesses particulares.


Estamos vivendo os piores anos de nossa geração, revivendo dores causadas pela ditadura militar de 1964. Colhemos o que a maioria dos brasileiros plantou em 2018. Há um contexto perverso por detrás do processo eleitoral, é verdade, mas como diz um ditado popular: “agora não adianta chorar pelo leite derramado”, a hora é de ação, de indignação, de pressionar o sistema para frear a barbárie desse governo.

O grande problema dessa colheita maldita é que a morte e a miséria estão sendo normalizadas. O Brasil voltou para o mapa da fome e não há nenhuma movimentação para mudar isso. A pandemia do novo coronavírus voltou a matar mais de mil pessoas por dia e nós continuamos inertes em relação às cobranças pela vacinação em massa. Queremos festas, comércio aberto, cobramos dos gestores locais, mas do governo federal nada.

Há ampla defesa dos interesses próprios do homem que atua como presidente, omissão do poder judiciário e da sociedade civil, esta última surfando nessa onda pagando para ver o que acontecerá de pior.
 


Recentemente veio à tona, mais uma vez, a mensagem do ex-comandante do exército brasileiro, Eduardo Villas Bôas, dando um ultimato ao Supremo tribunal Federal - STF à época que seria julgado pela corte um pedido de habeas corpus para o ex-presidente Lula. A declaração do ex-general foi postada em uma rede social, não era segredo de justiça, mas só agora o Supremo reagiu, após publicação de um livro, em que Villas Bôas relata o fato.

Diante do exposto evidencio como nosso judiciário tem sido omisso, assim como a declaração citada, diversos outros agentes envolvidos na cena política brasileira cometem absurdos, verdadeiros atentados contra ordem democrática, os pedidos por intervenção militar e uma nova edição do AI5 são corriqueiros. O bolsonarismo sempre testa os limites da democracia brasileira. O episódio mais recente envolveu o deputado federal Daniel Silveira (PSL/RJ), preso por ordem do Supremo Tribunal Federal, após publicação de um vídeo repleto de ameaças aos membros do supremo e a ordem democrática. No vídeo, sobra ódio nas palavras ensaiadas, ataque homofóbico a um dos membros da Corte e afirmações de que os ministros são corruptos. A prisão foi ratificada pelo plenário do STF. Nos próximos dias caberá a Câmara dos Deputados analisar se cassa o mandato do deputado ou se endossa mais uma ruptura à linha democrática.

Episódios como este reforçam a tese da oposição ao defender a existência de um golpe de estado em andamento, principalmente se o atual presidente for rejeitado nas urnas em 2022. Obviamente que as ações autoritárias, as mentiras constantes e a defesa de uma única verdade que o beneficie contribuem para essa tese. Além disso a oposição vê na facilidade de acesso à compra de armas de fogo algo contundente para formação de uma milícia, um grupo paramilitar defensor de um possível golpe. O presidente da república já editou diversas medidas provisórias facilitando a compra e ampliando a quantidade de armas de fogo compradas por civis.
 

Armar a população é prioridade para o presidente da república, ação que revela muito sobre para aonde nosso País caminha. No mundo real já são quase 300 mil vidas perdidas para a Covid-19; a fome e a miséria voltaram com força às manchetes de jornal; o gás de cozinha está sendo dividido no cartão de crédito devido ao preço abusivo; o desemprego bate números recordes a cada período (são mais de 14 milhões de desempregados); e o serviço público é tratado como propriedade privada. As ações e prioridades esclarecem o que vem por aí. A prioridade desse governo é continuar no poder, sob qualquer circunstância, mas será que isso pode mudar?

Bolsonaro se ancora no apoio do exército brasileiro e na elite que domina o poder econômico, podemos afirmar que ele aposta todas as suas fichas que o exército ficará do seu lado se ele encabeçar um golpe de Estado. A pergunta que tantos se fazem é se o exército brasileiro sairá em defesa de um homem que está presidente, ou em defesa da soberania democrática do País.

Assim como em outras instituições, no exército existem forças obscuras fechadas com Bolsonaro, uma parcela que vive de privilégios, apoia quem pagar mais, quem garantir mais leite condensado, mais picanha para o churrasco, cerveja importada e mais goma de mascar capaz de mascarar o hálito fétido da corrupção e da vergonha. Por sorte, ainda há quem queira devolver ao exército brasileiro o lugar de prestígio e de respeito, há quem acredite que seja possível.

Nossa torcida é que seja breve e antes de 2022, uma vez que o presidente se apoia nesse braço do Estado para fazer as barbáries que vem fazendo com o povo brasileiro.

Sobre a Coluna

A coluna Brasilis é publicada sempre às quintas-feiras.
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Alexandre Pereira

Eu sou Alexandre Silva, natural de Alagoas, mas resido em Salvador – BA, terra que tem me dado “régua e compasso” para seguir firme e forte, na luta por uma sociedade mais igualitária. Ainda sobre mim, sou Graduando em Humanidades pela Universidade Federal da Bahia, curso que me desafia a enfrentar as problemáticas de uma sociedade multifacetada, segregada por uma profunda desigualdade social. Nossos textos buscarão provocá-los a problematizar questões que afetam nossas vidas, mesmo que pensemos que não, tudo está interligado, tudo nos diz respeito, se assim não fosse não seriamos uma sociedade. Obrigado pela companhia e vamos problematizar!

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