Quem foi Henry Wickham? Wickham é inglês, foi considerado por muito brasileiros, e, até mesmo, alguns historiadores, como o destruidor de um desenvolvimento econômico que aconteceu em nosso país. Aprendemos que foi Wickham que destruiu o ciclo da borracha na Amazônia, quando roubou sementes de seringueira para levá-las às colônias inglesas.


É verdade que Wickham tenha roubado 7 mil sementes de seringueira. Embora, ele tenha feito tal atitude inescrupulosa, é errado atribuir ao estrangeiro à culpa total do fim do boom da borracha no Brasil. Não devemos livrar a culpa dos latifundiários da borracha, que, com seus lucros, levaram a economia a um patamar de algazarra e gastos supérfluos, sem perceberem que poderiam acontecer crises dentro do sistema.


É importante ressaltar, também, o motivo que levou o governo britânico a incentivar a atitude de Wichham. Nesta época existia um forte movimento de repúdio a escravidão, dentro da Inglaterra. Em determinado momento, chegou a notícia de que a produção de borracha era movida por mão de obra escrava no Brasil, estes movimentos anti-escravidão ameaçaram boicotar produtos de procedência escrava. Isso era verdade, porém, a mão de obra não se caracterizava na sua totalidade como escrava, mas chegava a ser trabalho análogo a escravidão. A Inglaterra chegou a comunicar o Brasil sobre as ameaças de boicote, entretanto, a burguesia nacional, nefelibata, não deu atenção aos avisos. Sendo assim, para proteger seus interesses comerciais, a Inglaterra decidiu transferir a produção da borracha para uma região com melhores “condições” de trabalho, sudeste da Ásia. Foi ai que entrou Wickham.

Podemos observar vários períodos históricos em que nos leva a analisar como nossa burguesia possui, até hoje, resquícios estruturais das capitanias hereditárias. O latifúndio feudal não conseguiu assimilar o desenvolvimento financeiro. Quando cito que a nossa classe dominante não conseguiu adquirir tal desenvolvimento, não quer dizer que temos uma burguesia independente economicamente, muito pelo contrário, temos em nosso território uma classe burguesa altamente dependente do capital estrangeiro, mas retrógrada no âmbito do desenvolvimento nacional.

Ao longo da história mundial, tanto a Inglaterra quanto os EUA, agiram com o discurso de restauradores da liberdade, mas todos nos sabemos que por trás desse discurso existe o interesse em concentrar renda. Com isso, devemos analisar que os fatos históricos como: a luta contra a escravidão e a ocasião relatada aqui, não exonera o imperialismo dos maléficos resultados finais de cada ciclo histórico, que na conclusão tinha como interesse o ganho de riquezas, mesmo que, para isso, seja necessário elaborar guerras. No entanto, o fato de que existe uma burguesia atrasada e empacada economicamente, nos diferencia de qualquer axioma revolucionário mundial.

Sobre a coluna

A coluna Notas do Cotidiano é publicada sempre às sextas-feiras.
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Jonas Carreira

Historiador -- Insta: @profjonascarreira -- Twitter: @jonasmcarreira

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