A política dos últimos tempos tem sido um verdadeiro baile de máscaras. Para além das medidas sanitárias postas em prática em razão do COVID, desde há muito políticos e partidos políticos se valem deste adereço, para si, convencional.


É o caso da última cartada do congresso e da forma com que se comportaram os congressistas. Me refiro especificamente ao projeto de Lei/Emenda Constitucional que, em pleno tempo de crise econômica nacional, anistia dívidas tributárias bilionárias devidas pelas instituições religiosas que, para muito além de promover caridade e incentivar o bem, lucram bilhões em cima de seus fiéis ̶ seja pela contribuição direta, em dinheiro, ofertada pelos mesmos, seja porque imensos interesses políticos estão em jogo quando se trata de um povo em momento de dor e um camarada com um microfone na mão, falando (pretensamente) em nome de Deus.



Digo "baile de máscaras" porque, em pleno século XXI assistimos partidos pretensamente de esquerda orientar suas bancadas no sentido de avalizar o referido projeto, não obstante o mesmo seja de nítido caráter personalíssimo - O PROJETO FOI PROPOSTO PELO FILHO DE UM DOS REPRESENTANTES DA IGREJA QUE MAIS DEVE PARA O ERÁRIO PÚBLICO, LÊ-SE, RR SOARES!

Os candidatos igualmente não escapam. "Cumprimos nosso dever de votar conforme o partido", disseram. Visaram se isentar. Fizeram o contrário. Esquecem-se que maior que o dever para com o partido deveria ser o compromisso com o povo. Esqueceram ou, antes: tentaram nos ludibriar.


É a velha esquerda cirandeira de sempre... aposta nas causas identitárias não em razão de sua legitimidade intrínseca, mas pelo capital político por elas gerado, como espécie de antagonização do paradoxal "conservadorismo liberal" vigente em nossos tempos. São times de futebol. No popular: "o sujo falando do mal lavado".


O problema não é atual... vem desde os "finalmentes" da Segunda Guerra, com a derrocada do regime comunista russo e a "vitória" do capitalismo. Direitistas e Esquerdistas bradaram: "viu?! não tem saída ao Capital!"



Esquerda comprou o discurso do "ruim com ele, pior sem ele" e deixou de sonhar (e de implementar) uma alternativa. Subiu ao poder. Não acreditou. Não lutou. E derrocou. A esquerda não se apresentou como alternativa às maldades do Capital. Abriu, assim, espaço para "salvadores". Com efeito, se nem mesmo os partidos pretensamente de esquerda são capazes de nos salvar, só mesmo um Messias para nos tirar dessa!


Eis que aí estamos... Governo Bolsonaro para comprovar esta tese. E partidos de esquerda (como o assim autodenominado "Partido COMUNISTA do Brasil") votando à favor da Igreja, para confirmar.



Outro dia ainda ouvia à uma entrevista do líder do partido (PCdoB) no Congresso dizendo contrariamente ao Impeachment do indefensável e genocida DESgoverno que aí está. "Temos de respeitar a democracia", dizia ele.

Certamente não leu sequer o básico para compreender do que se fala quando se diz que se é Comunista, como o partido dele pretende se dizer.

"Aguardar 2022" é a solução do companheiro... esquece-se que enquanto a esquerda se divide entre seus próprios nichos, Bolsonaro segue com seu grupo de fiéis desesperados, cujo desespero, reconheçamos, não foi ele quem criou!

"Nós somos 70%" dizem eles. Com efeito. 70% que se dividem em milhares de muitos, raras vezes verdadeiramente revolucionários.

"União das esquerdas", diz-se. Mas de que "esquerdas" estamos falando se parte delas vota em favor do "Clero"?


Entre nós aqui, eu reforço: cogitar a saída definitiva de tudo isso através da política partidária é acreditar em Papai Noel. Brincamos, mas o fato é: não só existe uma parcela da esquerda que ainda crê neste tipo de mitologia infantil, como ainda há quem acredite que o bom velhinho já está aí e é aquele sem um dedo!



Não nos esqueçamos, meus amigos... o papai Noel, antes de bom, é garoto propaganda da Coca-Cola!


Não existem representantes do povo no Congresso e na política partidária como um todo, simplesmente porque nenhum deles ganha abaixo dos 35 mil reais!

Quando se ganha tudo isso, acredite: nada é tão urgente. Nada é "bem assim".

Neste sentido, a revolução deve vir do povo.


Telejornais que noticiam este tipo de questão devem ser levados como entretenimento. Ficção. Ninguém nunca foi "pró-povo" por lá, simplesmente porque não se pode ser "pró-povo" sem pertencer ao povo.

O povo por ora carece do básico, assistindo às suas condições serem depreciadas, "miserabilizadas" (R$600 -> R$300), ao passo que instituições religiosas recebem bilionários perdões.

Aos que ainda não morrem de fome, vale a luta. Primeiro alimentar. Depois de conscientização. E, por fim, de revolução!

[Fazer o que o PT não fez!]

Em suma, se a voz do povo é a voz de Deus e Deus disse "Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus"[1] então nos resta agir em prol deste postulado. Pelas próprias mãos!

P.S.: Mascarados à parte, usem máscaras! As de proteção, não as de fingimento. E, se puderem, fiquem em casa!

Até a próxima!



Sobre a coluna

A coluna Homo Juris é publicada sempre às quartas-feiras.

[1]A passagem onde consta que Jesus teria dito tais palavras encontra-se no Evangelho de Lucas, onde, no trecho em questão, indaga-se à Jesus sobre se acaso deveriam, os hebreus, pagarem tributo a Cesar (imperador Romano). Jesus então questiona de quem é o rosto estampado na moeda. Todos respondem que é de Cesar. Jesus então diz: " Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus." LUCAS 20:25.
Diga-se: o dinheiro não é para Deus! Deus não tem nada a ver com dinheiro!!! Dinheiro e Deus? NO WAY!!! Será que ficou claro??!!! Jesus quem disse, c*********!!! #TANABÍBLIA
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Guilherme Azevedo

Advogado e Filósofo, graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) com dupla titulação em Estudos Políticos pela Universidad de Caldas/Colômbia.

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