A figura clássica de um Museu remete aos grandes palácios e prédios monumentais. Em Porto Alegre não é diferente, assim como em outras grandes metrópoles temos a concentração majoritária dos museus no centro da cidade, além de em boa parte dos casos são prédios imponentes para os que passam. Antes da pandemia o centro da capital do Rio Grande do Sul era lotado, porém não se via a mesma procura nos museus que lá estão. O tema sobre como os museus podem mudar suas ações eu abordei na semana passada (Leia aqui). Entretanto, o que faz uma pessoa não se sentir convidada a entrar em um museu?


A imagem de museus com portas fechadas já é um dos principais empecilhos, e também um ato de selecionar aqueles que entram em uma instituição. Outra questão que me incomoda é o fato de os museus serem concentrados em locais específicos, a grande concentração dos museus tende a ser na região central ou arredores. Eu sou um morador da extrema zona norte de Porto Alegre, de ônibus um trajeto até o centro vai além dos 30 minutos, algo que para outras regiões, tanto da zona norte, como da zona sul é ainda maior, levando uma hora ou mais dependendo do caso para chegar na região central de Porto Alegre. Contudo, em menos de cinco minutos eu tenho um shopping center próximo de mim. No caso, imagine uma pessoa que não tem costume de visitar um museu, em que momento ela iria gastar com passagens ou pagar um alto custo com estacionamentos, para ir até um local que esteja com as portas fechadas?

Outro ponto importante para se discutir é quem está representado em um museu? Quantos mediadores ou textos de apoio estão disponíveis para que uma pessoa entenda o que está vendo? Ou ainda pior, quantas pessoas com deficiências tem recursos para visitar um museu? Quantos museus tem rampas de acesso? Interpretes de libras? Acervo tátil? Eu respondo, são poucos. Claro que entendo que faltam recursos, que faltam opções. Mas também entendo que temos profissionais com grande capacidade para realizar essas ações e pensar alternativas. Mas então, onde que estão esses profissionais?

A representatividade também é um problema dentro dos museus. Quantos artistas negros, indígenas ou mulheres são vistos? Fora isso, esbarramos em um problema que é uma grande taxa intolerante e ignorante que não consome museus, como o leitor pode lembrar da exposição “Queermuseu” de 2017 no Santander Cultural que foi bombardeada por uma camada tóxica da sociedade. Pessoas que se enquadram em uma minoria em boa parte dos museus não se sentem representadas, principalmente em grandes instituições. As instituições vestem de arquétipos do inocente, sendo um local apenas para lazer, mas museus não são apenas lazer, são parte de uma rede de entretenimento, mas não apenas.

O professor Mário de Souza Chagas, diretor do Museu da República, tem um livro que o título traduz o que são os museus, o título é: “Há uma gota de sangue em cada museu”. Essa frase é emblemática, museus são locais, infelizmente, de exclusão, e isso tem origem em derramamento de sangue, em preconceitos e roubos que até hoje não foram reparados. Após um crescimento do número de profissionais museólogos e de discussões importantes na nossa sociedade isso aos poucos tem mudado, mas ainda longe do ideal.

MARCELO G. RIBEIRO/JORNAL DO COMÉRCIO

Abram as portas dos museus, deixem o povo entrar. Só com pessoas que faremos os museus maiores, não será um prédio antigo ou um quadro bicentenário que vai fazer o povo frequentar museu. Precisamos de diálogo, de troca, de representatividade e acessibilidade. Museu não deve ser apenas um local para passeio escolar, ele deve ser parte da vida das pessoas que se veem lá, longe de estereótipos. O museu é seu, é nosso, vamos usá-lo.

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Grande abraço e até a próxima!

Sobre a Coluna

A coluna O Mundo é um Museu é publicada sempre às sextas-feiras.
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Pablo Barbosa de Oliveira

Sou Museólogo e Escritor. Escrevo sobre cultura na Revista Pauta e no Portal Jovens Cronistas. Criador do Museu de Instagram do IAPI. Fã de Fantasia e Sci-fi.

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