Olá fãs da velocidade! Voltamos nesse fim de semana para comentar o GP da Bélgica de 2020, sétima etapa do campeonato mundial de Fórmula 1 desse ano. No tradicionalíssimo traçado de Spa-Francorchamps, mais um capítulo da temporada tomou forma, e dessa vez sem grandes alterações no roteiro habitual. A Mercedes mostrou-se novamente a maior força do grid, e teve como único "adversário" a Red Bull de Max Verstappen. Com quase todas as estratégias condicionadas por um safety-car no início da prova, ficou mais difícil de vermos um desafio do holandês às superiores flechas negras, o que ocasionou uma prova sem alternativas na parte da frente do pelotão. Lewis Hamilton, que largou da pole e manteve a ponta na largada, venceu de ponta a ponta, aumentando ainda mais sua gigante vantagem no mundial de pilotos. O inglês foi seguido por seu companheiro Valtteri Bottas, com Verstappen completando o top-3. Destaque ainda para outra grande exibição da Renault em um circuito de alta, e holofotes para o pesadelo da Ferrari, que viveu um fim de semana pior que de equipe intermediária. Acompanhe abaixo a análise da corrida.

Foto: Getty Images
O fim de semana para o GP belga começou com alguns takes interessantes visando a corrida no domingo. Apesar de mais uma vez ter Hamilton na pole, o grid trazia Valtteri Bottas e Max Verstappen separados por menos de 1 décimo de segundo. O holandês já havia se mostrado capaz de ameaçar (e inclusive superar) Bottas em GPs passados, e com um ritmo de classificação virtualmente igual, tudo levava a crer que isso seria novamente possível nesse domingo. Além do mais, o excelente desempenho da Renault colocava a escuderia francesa em evidência. Como já citamos aqui, o time amarelo parece ter mão de ouro para acertar o carro em pistas de alta velocidade, colecionando grandes resultados em pistas com essas características. E mais uma vez os franceses demonstraram essa virtude: P6 para Ocon e uma fantástica P4 para Ricciardo, que chegou a flertar com um top-3 no grid de largada. Expectativa lá no alto para a equipe no domingo.

Hora da largada, sempre um momento de grande importância e especialmente para as características atuais da Fórmula 1. Com carros que abusam do downforce, a força de sucção do vácuo no trecho 1 de Spa é das maiores do calendário. E isso representava uma chance de ouro para Bottas, Verstappen ou até mesmo Riciardo, caso o australiano quisesse algo a mais na corrida. Contornar a curva 5 à frente dos adversários seria de extrema importância para qualquer piloto.

Hamilton não teve a melhor das largadas, e foi seguido de perto por Bottas. Tão de perto que o finlandês quase emparelhou lado a lado na subida da Eau Rouge. Sem querer arriscar nada, Valtteri levantou o pé, mantendo uma distância segura para o companheiro. Esse movimento evitou uma possível colisão, mas também minou as chances de Bottas atacar, deixando o piloto do carro #77 preocupado com Verstappen. Max não conseguiu colocar de lado com Bottas, ao contrário de Ricciardo, que se valeu da grande velocidade de reta de sua Renault para dividir a chicane da curva 5. Por alguns metros, o australiano conseguiu sustentar seu bico à frente da Red Bull #33, mas Max jogou duro, tirou tudo do seu carro e conseguiu manter a posição, num dos grandes momentos da corrida.

Um pouco mais atrás, Charles Leclerc chamava para as atenções nos primeiros giros da prova. Graças a uma largada voadora, o monegasco levou sua débil Ferrari ao oitavo lugar, 5 posições à frente de onde havia largado. Pelo menos com a boa posição de pista, a expectativa era que o carro #16 pudesse ao menos se segurar na zona de pontuação e não sair de mãos abanando. Ledo engano...
O que aconteceu nas voltas seguintes é a tradução em imagens do quão desapontante foi o fim de semana para a Scuderia Ferrari. Volta após volta, Leclerc foi ultrapassado por Norris, Stroll, Pérez, Gasly e Kvyat, até finalmente se estabelecer à frente de... seu companheiro, Sebastian Vettel. Sem ser páreo para a concorrência, principalmente nos setores 1 e 3, onde a potência do motor é de extrema importância, a Ferrari foi claramente a sétima equipe mais rápida desse fim de semana, à frente apenas de Haas, Alfa Romeo e Williams.

Foto: Motorsport.com
Independente de torcida ou quaisquer preferências, os fatos estão aí e não podem ser ignorados. A Ferrari tem em 2020 um grande déficit no quesito potência de motor, isso sem que tenha havido qualquer alteração no regulamento técnico do ano passado. A única justificativa para tal queda de rendimento são as restrições que a FIA implantou quanto ao fluxo de combustível do motor italiano, que extrapolava os limites do regulamento na temporada passada. Tendo que se readequar para 2020, a Ferrari perdeu seu principal trunfo, e para piorar não parece ter conseguido nenhum progresso na parte aerodinâmica de seu chassis. Juntando os dois fatores, temos os ingredientes que levaram ao desempenho horroroso nesse fim de semana em Spa.

Sim, a caminhada no mundo dos esportes é feita de altos e baixos. Todas as equipes tiveram anos de vacas magras, sejam Red Bull e Mercedes no início de suas caminhadas ou a McLaren no mais recente casamento com a Honda. A Ferrari, em 2020, vive exatamente esse momento. Por sorte, o time ainda pode se escorar na capacidade de seus pilotos, que conseguem arrancar resultados acima da média para o rendimento real do carro. Mas tem dias que nem o melhor santo faz milagre. Spa-2020 ficará marcada como o fim de semana que expôs de vez as maiores fraquezas do carro ferrarista, deixando a equipe numa situação até mesmo humilhante. Quem sabe o banimento dos "modos festa", que acontece a partir do GP da Itália no próximo fim de semana, ajude os italianos a diminuírem um pouco a distância para os demais. Porque a última coisa que Binotto e companhia querem é que as cenas desse domingo sejam vistas novamente.

Ainda nas primeiras voltas de prova, um lance importantíssimo para a corrida ganharia forma. Durante a volta 11, Antonio Giovinazzi, que corria próximo das posições finais do grid, perdeu controle de sua Alfa Romeo #99, rodou e acertou em cheio a barreira de pneus. O carro ricocheteou de volta para a pista, com um dos pneus traseiros se soltando do cockpit! George Russel, que vinha logo atrás, até tentou desviar da roda, mas acabou coletando-a no caminho. Por sorte, o choque com o pneu perdido foi na roda dianteira direita, e não em qualquer parte próxima da cabeça. De qualquer forma, é importante notar que esse não deveria ser um problema para as corridas de Fórmula 1. Já fazem muitos anos que os carros possuem cabos extras que prendem a roda e o braço de suspensão ao cockpit, impedindo que eles se soltem em eventuais batidas. Porque isso não funcionou nesse domingo? A pergunta é simples e precisa ser respondida pela FIA o mais rápido possível. Ainda que o halo ofereça uma importante proteção quanto à isso, segurança nunca é um tema que pode passar batido, sem explicações. Aprendemos isso dos jeitos mais dolorosos no passado...

Pulando as discussões sobre segurança, foi esse acidente de Giovinazzi que acabou condicionando toda a prova em Spa. A exemplo do que aconteceu em Silverstone algumas semanas atrás, o safety-car veio para a pista no primeiro quarto de prova, tornando dessa maneira a estratégia de uma parada para pneus duros a mais rápida. Por isso, entre as voltas 12 e 13, todos os pilotos restantes no grid (menos Gasly e Pérez) resolveram entrar nos boxes, fazendo aquela que seria sua única parada no fim de semana. Apenas Alex Albon, provavelmente por uma questão de adaptação ao carro, escolheu os pneus médios ao invés dos duros.

Foto: Motorsport.com
Com todo mundo igualado em termos de estratégia, a relargada após o SC ganhava ainda mais importância. Novamente, seria a grande chance de Bottas aproveitar o vácuo no setor 1 para ameaçar Hamilton, colocando um pouco mais de pimenta na prova. Mas, não foi o que aconteceu. Hamilton teve uma largada irrepreensível, abrindo uma distância segura já mesmo na aproximação para a chicane da Bus Stop. Bottas ficou longe demais para tentar qualquer manobra, e o mesmo se sucedeu a Verstappen, que vinha logo atrás. Sem alterações na ordem de classificação, a corrida entraria numa fase longa, baseada sobretudo na conservação dos pneus.

Um dos mais prejudicados por esse desdobramento foi Pierre Gasly. O francês da AlphaTauri vinha inicialmente numa estratégia distinta dos demais, tendo largado de pneus duros visando uma troca para um composto mais macio na segunda metade da corrida. O excelente ritmo de Pierre com os compostos de faixa branca o colocava numa ótima posição, especialmente pelo terreno que já havia ganho, aliado a provável perda de rendimento que seus adversários enfrentariam nas voltas seguintes. Com o SC, Pierre ganhou em posição de pista, mas viu todos os demais pilotos fazerem sua parada em bandeira amarela, recuperando assim todo o tempo que seria perdido no processo de pit-stop. Esse movimento poderia ter facilmente arruinado o domingo para Gasly... mas o piloto demonstrou porque vem merecendo elogios e fez a corrida tornar a render.

Levando seus pneus duros até além da metade da prova, Gasly se valeu de um stint veloz com os compostos médios para fazer boas ultrapassagens, remando por entre o grid e alcançando um valioso oitavo lugar, que poderia ser ainda melhor se a corrida tivesse mais algumas voltas. Como já mencionamos aqui no passado, o desempenho de Gasly depois do rebaixamento da Red Bull vem sendo muito elogiável. Mesmo com todo o furacão na vida pessoal e profissional, o jovem francês parece ter amadurecido, além de conseguir trabalhar melhor com a equipe e produzir acertos melhores para o seu carro. Por todas as circunstâncias, e também pela Fórmula 1 ser um mundo que envolve muito mais fatores do que apenas o simples e objetivo merecimento, é difícil planejar um futuro para Gasly. Mas ele vem demonstrando merecer mais carinho e confiança; e acredito que todos nós torcemos para que isso venha a acontecer.

Seguindo a prova, outro nome que não pode passar batido nesse fim de semana é o da Renault. Desde os treinos livres, a equipe francesa mostrou a sua foça, andando sempre dentro do top-10 e cm tempos competitivos, especialmente com Daniel Ricciardo. O bom treino no sábado manteve as expectativas altas para um bom resultado no domingo, e elas se confirmaram. Ricciardo, um dos grandes nomes da prova, fez uma exibição sólida, que culminou num quarto lugar inquestionável. O piloto do #3 chegou a andar mais de 20 segundos à frente de Albon enquanto este ocupava a quinta posição, e apresentou um ritmo velocíssimo nas voltas finais, com direito inclusive à melhor volta da corrida! No outro carro do time, Esteban Ocon teve dificuldades para acompanhar o ritmo de Daniel, porém no final acabou entregando o resultado. Depois de perder o quinto lugar nos boxes, Ocon se valeu de um melhor manejo dos pneus para atacar Albon nas últimas voltas, conseguindo a ultrapassagem exatamente no último giro. P4 e P5 para os gauleses!

Foto: Motorsport.com
Novamente, um bom resultado da Renault em pistas de alta. O time amarelo parece gostar dessas características, e seus fãs podem comemorar: a próxima corrida será em Monza! O momento é de otimismo para os comandados de Cyril Abiteboul, que podem aproveitar a ocasião para inclusive assumirem a terceira posição no mundial de construtores, posto que está completamente em aberto. Esse deve ser o objetivo máximo da escuderia francesa na temporada, apesar de que conquistá-lo será um tanto quanto difícil. Não se pode subestimar o chassis da Racing Point, além claro da excelente dupla de pilotos da Ferrari, que pode fazer de suas mágicas. De qualquer forma, resta a Renault aproveitar o momento, otimizar seus resultados e torcer para que os adversários tropecem pelo caminho. Todos sabem que a hora da verdade será mesmo em 2022, com Alonso no volante e regulamento novo para chacoalhar as coisas.

Bem, vocês notaram que falamos pouco do transcorrer da corrida, não é mesmo? É que ele acabou sendo bem previsível, com pouca ação roda com roda. Apesar disso, a corrida nos apresentou várias histórias interessantes, e o top-3 não poderia nos deixar em branco. Sim, o script foi seguido à risca mais uma vez: Hamilton venceu, confortável, dominante; com seu companheiro Bottas em segundo e Verstappen logo atrás. Até aí nada de novo, mas chamo atenção para a repercussão pós-corrida. Nas entrevistas antes do pódio, Martin Brundle comentou com Hamilton o quanto ele parece "invencível" nesse momento, e isso nos leva a recordar mais uma vez o peso do momento que estamos vivenciando. Lewis Hamilton, o garoto que era considerado uma "ameaça" aos pilotos nos seus primeiros anos de carreira, constrói hoje uma dinastia colossal, que será a maior de todos os tempos em termos de números, e além disso provando ser realmente um piloto extremamente rápido, consistente e perfeito em sua tocada.

A vitória de Hamilton em Spa mais uma vez no recorda do valor histórico da época em que estamos vivendo, e tudo isso ficará ainda mais a flor da pele quando o inglês inevitavelmente ultrapassar o recorde de 91 vitórias de Michael Schumacher. Aproveitem, meus amigos. Aproveitem, porque o próximo casamento do nível de Hamilton-Mercedes pode demorar décadas e décadas para acontecer...

Uma rápida olhada final da tabela de classificação: no mundial de pilotos, Hamilton abre agora 47 pontos de vantagem sobre o vice-líder, que segue sendo Max Verstappen (placar de 157 a 110). Na terceira popsição, Valtteri Bottas aparece com 107 pontos conquistados. Nos construtores, a Mercedes domina com 264, seguida pela Red Bull com 158 e pela McLaren, com 68 pontos.


Confira o resultado do GP da Bélgica: 
Resultado final do GP da Bélgica de F1 — Foto: Reprodução/FOM

Por hoje é só pessoas! Voltaremos na semana que vem, com o Grande Prêmio da Itália. Abraço a todos e até lá!


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Ricardo Machado

Um sonhador, que anseia por deixar sua marca no mundo. Apaixonado por automobilismo, futebol, letras e pelas tardes frias e chuvosas de inverno.

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