O equilíbrio emocional salva vidas, mas acima de tudo nos possibilita enxergar as cobranças em que somos submetidos diariamente com outro olhar, com outra perspectiva. Certamente o desafio maior pode está nessa maneira de olhar nosso contexto, seja ele gerado por questões familiares, religiosas, educacionais, amorosas ou profissionais. As cobranças que somos submetidos diariamente pode nos adoecer de várias maneiras e aqui quero pontuar algumas que, inclusive, pode ser um passo ao abismo de desequilíbrios emocionais graves.


Primeiro vamos falar dos conflitos familiares (alguns na verdade). Eles podem envolver questões diversas, mas como estamos falando em cobranças, vamos exemplificar de duas maneiras. Uma tem relação com nosso futuro. Somos ensinados a ir para escola, para tirar boas notas e arrumar um bom emprego. A universidade é o segmento para essa cobrança e um ambiente que adoece muito os estudantes. Dezenas de pesquisadores se debruçam sobre o fenômeno do suicídio de universitários.

Alguns estudantes, por não suportarem o ambiente meritocrático tóxico, desistem da universidade e muitas vezes da própria vida. Nós somos transformados em uma nota de uma avaliação, como se uma nota conseguisse expressar todas as nossas competências e capacidades. Dezenas de universitários que não eram os melhores da turma estrelam casos de sucesso na vida profissional. O fato é que precisamos “ser alguém na vida”. O problema é que tantas vezes esse “ser alguém” vai além do que de fato queremos para nós. A escolha profissional, por exemplo, tantas vezes é decidida à nossa revelia. Dezenas tem seus sonhos e desejos anulados em nome de uma certeza anacrônica que vê o sucesso em uma profissão tradicional imposta pela família. 

A segunda questão envolve a sexualidade. A orientação sexual que, diga-se de passagem, tem a ver com a privacidade de cada um, portanto não deveria ser motivo para espancamentos, abandono e assassinatos. É um outro fator grave de desequilíbrio emocional, o que acontece inúmeras vezes dentro do ambiente familiar. 

Temos ainda em nosso país uma esquizofrenia continuada, em que famílias medem os seus pela orientação sexual e não pelo caráter, pelas qualidades, muito menos pelo amor fraterno. Uma violência que marca de maneira profunda, principalmente porque quem agride deveria dar amor e proteção - o pai ou a mãe. O cenário se agrava quando envolve dogmas e certezas religiosas. O fundamentalismo religioso expõe as crianças e os adolescentes a violências sem precedentes. 

Um terceiro pilar que desequilibra vem das questões amorosas e tem relação com nossas subjetividades, tudo que nos constrói ao longo da vida. Construir uma rede de proteção familiar e de amizade é fundamental para enfrentar situações que podem dilacerar nosso emocional. Dezenas de mulheres que sofrem violência doméstica se veem sozinhas, sem amparo ou perspectivas. Essa solidão é construída nesse lugar de servidão em que a mulher é submetida socialmente, um lugar que lhes é ensinado desde cedo (a mulher precisa saber lavar, passar, cozinhar, cuidar da casa e do marido) e se ela não souber o que acontece? Se essa posição lhes é ensinada, ela pode ser desconstruída e “re-ensinada” de maneira salutar. 

Quem está dentro do ambiente de violência nem sempre consegue enxergar uma solução. Essa rede de apoio precisa ser tecida por toda a vida. Para que a mulher consiga falar sobre o assunto, ela precisa ser ensinada, por exemplo, que a violência verbal é a porta de entrada para violências mais graves e que é no silêncio que o agressor se fortalece. Claro que esse é apenas um exemplo, mas o caminho para liberdade se faz da mesma maneira. O ambiente profissional é outro responsável por casos de depressão, de angústias sem fim.

Lembra que falei no início em termos que tirar boas notas e arrumar um bom emprego? Então, para isso tantas vezes nos submetemos a ambientes deploráveis, com empregadores amorais que humilham, pagam péssimos salários, são antiéticos e incapazes de liderar alguém. Mas, nossas capacidades são tão podadas que nos submetemos e adoecemos. O medo de não ser parte dessa cultura de consumo, de ostentação, de não ter a carteira assinada é cruel, até porque não somos ensinados a construir soluções partindo de nossas potencialidades. Nos ensinam a ser o empregado e não o dono do negócio. Seguir os caminhos que nós mesmos escolhermos tem relação com autoconhecimento, com evolução, a consequência é viver mais feliz, disposto a novos desafios e a novas possibilidades, no contrário continuaremos a adoecer, a cometer atos extremos contra nossa própria vida, sendo peça submissa de um tabuleiro maior. 

No ambiente familiar, no profissional ou no educacional, precisamos sentir amor por tudo, precisamos nos fazer presentes em ambientes que sejamos desejados, amados com nossas qualidades totais, do contrário, tudo se desequilibra.

Sobre a Coluna

A coluna Brasilis é publicada sempre às quintas-feiras.
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Alexandre Pereira

Eu sou Alexandre Silva, natural de Alagoas, mas resido em Salvador – BA, terra que tem me dado “régua e compasso” para seguir firme e forte, na luta por uma sociedade mais igualitária. Ainda sobre mim, sou Graduando em Humanidades pela Universidade Federal da Bahia, curso que me desafia a enfrentar as problemáticas de uma sociedade multifacetada, segregada por uma profunda desigualdade social. Nossos textos buscarão provocá-los a problematizar questões que afetam nossas vidas, mesmo que pensemos que não, tudo está interligado, tudo nos diz respeito, se assim não fosse não seriamos uma sociedade. Obrigado pela companhia e vamos problematizar!

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