O Brasil vem registrando nos últimos anos índices de desemprego desoladores, são milhares de Marias, Franciscos e Josés em busca de meios legais para sobreviver e fazer viver seus familiares. Milhares se aventuram como autônomos, enfrentam o desafio de empreender, mesmo com os riscos e sem informações necessárias para manter o negócio aberto.


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último trimestre, registramos 12,9% de brasileiros desempregados, o percentual equivale a 12.7 milhões de brasileiros sem renda mensal. Os dados foram coletados pela Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua) e divulgado na última semana de junho. Obviamente que isso é reflexo da ausência de políticas públicas que fomentem a geração de empregos, ponto que precisa ser questionado junto aos agentes públicos.

São milhares de desempregados em busca de uma solução. Uma parte deles tem se aventurado como autônomos, mergulhando no desafio de empreender, mesmo sem apoio ou experiência necessária para iniciar o negócio.

Existe na grande mídia uma romantização do empreendedorismo. Da maneira como nos é colocado, ser um Micro Empreendedor Individual (MEI) é simples. Dezenas de mães e/ou pais de família se aventuram empreendendo de suas casas, usam o que já tem em suas cozinhas, adaptam espaços, investem suas rescisões ou suas economias e torcem para que tudo dê certo.

Quando falo que existe uma romantização, me refiro às dificuldades de empreender em um País que não valoriza o pequeno empreendedor, desde o agricultor familiar que tem papel importantíssimo na produção de alimentos, à Dona Maria que abriu um pequeno negócio buscando prover sustento para seus filhos. Uma luta sem trégua para que eles estudem, sejam pessoas decentes e não sejam sequestrados pelo mundo do crime. O empreendedor no Brasil é solitário, o Estado se ausenta covardemente e falha reiteradamente na garantia dos direitos fundamentais impostos em sua Carta Constituinte.

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE), formalmente já são mais de 10 milhões de cadastros MEI no Brasil, grande parte dos empreendedores (as) iniciam seu negócio sem informações técnicas acerca de fundo de caixa, capital de giro, plano de negócio, ficha técnica dos produtos, muito menos informações de mercado ou concorrentes. Eles(as) tocam o negócio com a cara e a coragem. Aprendem com os erros e acertos na busca pela sobrevivência. Muitos têm sucesso, outros fecham as portas no primeiro ano de funcionamento, conforme pesquisa do próprio SEBRAE.

Preciso esclarecer que não estou fazendo papel de “advogado do diabo”, mas se estamos tendo uma explosão de pais e mães de família se jogando de cabeça no empreendedorismo, precisamos divulgar as informações de como mitigar os problemas que eles irão enfrentar. Precisamos, por exemplo, reforçar o apoio que o SEBRAE oferece de maneira gratuita aos Micros Empreendedores cadastrados em seu sistema. Precisamos dizer ainda que haverão impostos a serem pagos, por mais que sejam convertidos em uma única taxa mensal. Esclarecer que um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) aberto recentemente não terá acesso ao crédito de maneira fácil, exatamente por não oferecer garantias ao banco, ou por não ter capacidade de liquidez.

Precisamos ajudar essas pessoas a contingenciar os fatores de risco do negócio, mostrar os cuidados em compor o preço do produto, separar o dinheiro da empresa, usar as redes sociais para divulgar, de maneira gratuita, seus produtos, criar receitas para não perder a qualidade vendendo um ou dez itens de sua produção. Tudo isso parece simples, mas esses cuidados básicos podem salvar um negócio.

Sabemos que muitas famílias buscam nesses empreendimentos uma esperança para melhorar sua condição de vida e é exatamente por isso que devemos desnudar essa mensagem poética de que basta abrir um MEI que tudo se resolverá.

Não há certezas absolutas, muito menos em situações como a que vivemos, onde famílias inteiras são expostas a vulnerabilidade. O Estado Brasileiro é expert em se omitir das responsabilidades com políticas públicas, sendo a geração de emprego uma dessas responsabilidades. Enquanto o cenário não muda, precisamos encontrar soluções para nos apoiarmos e apoiar os mais vulneráveis.

Sobre a Coluna

A coluna Brasilis é publicada sempre às quintas-feiras.
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Alexandre Pereira

Eu sou Alexandre Silva, natural de Alagoas, mas resido em Salvador – BA, terra que tem me dado “régua e compasso” para seguir firme e forte, na luta por uma sociedade mais igualitária. Ainda sobre mim, sou Graduando em Humanidades pela Universidade Federal da Bahia, curso que me desafia a enfrentar as problemáticas de uma sociedade multifacetada, segregada por uma profunda desigualdade social. Nossos textos buscarão provocá-los a problematizar questões que afetam nossas vidas, mesmo que pensemos que não, tudo está interligado, tudo nos diz respeito, se assim não fosse não seriamos uma sociedade. Obrigado pela companhia e vamos problematizar!

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