Muitas mulheres descobrem a gravidez quando sentem enjoo. Logo nos primeiros meses, e eles podem aumentar de frequência e intensidade, tornando-se insuportáveis em alguns períodos.


A grávida que ‘’engorda muito’’ tem por trás de si mil vozes a reprovando, já que “não se deve comer por dois”, e tal atitude é relacionada à gula. Mas é bastante comum a fome aumentar exponencialmente, e a gestante ter um apetite triplicado, vontades de ingerir calorias que antes não tinha e não raro sentir-se mal antes das refeições, da chamada ‘’fraqueza’’. A moça que durante a gravidez engorda apenas quinze por cento do peso pode até comemorar, mas pense você, homem de 80Kg, chegar aos 92Kg em apenas nove meses.

Além do amor pela chegada do pequeno e da sensibilidade aumentada, a mulher pode ter muita dor nas costas, desconforto para caminhar com sua barrigona, pés inchados, azia pelo esmagamento do esôfago, gastrite e uma secura brutal nas narinas, que ardem e podem sangrar.

Durante esse período sente-se muita sonolência, e parece um tanto óbvio, que em geral, em sua maioria, "excetuando exceções", as grávidas sintam mais dificuldade, cansaço e falta de disposição para trabalhar.

Acordar cedo, locomover-se, estar longe de seu chuveiro, cama, geladeira e sofá, passam a ser tarefas mais penosas, além do fato dessa mulher estar com a cabeça no neném que vai chegar e possivelmente preocupada com o parto e como ele será.

Com quatro meses de vida do recém nascido o capitalismo o desmama, porque sua mãe deve trabalhar. Reparemos aqui que um ano de amamentação, é o mínimo razoável em opiniões gerais sobre o tema. Mas não é só isso, a volta ao trabalho priva o direito da mãe de estar com seu bebê e priva o bebê do direito de estar amparado e protegido por sua mãe, que ele ainda nem bem entendeu ser um ente diferente dele, achando serem uma coisa só, imaginem.

Mas a turma é mesmo sem noção, e ao primeiro atestado médico, à primeira indisposição, vem um infeliz e diz a “linda” frase: ‘’gravidez não é doença’’. Condenando a gestante, em sua tal situação, a postar-se como os outros trabalhadores, ou como ela mesma, antes da gestação.

Empregado comportando-se como patrão fosse, revelando um machismo conveniente, importando-se pessoalmente com um problema que não há, para ele não há. Notemos, a moça está "de atestado", e ainda que não estivesse, pronto, acabou. Mais contraditório e cruel, ou fruto de notória falta de informação, é o fato dessa frase muitas vezes vir de outra mulher, uma companheira de trabalho, de gênero. Ora, companheira, você não sabe a besteira que está falando.

Embora gravidez não seja doença, aliás, é bem o oposto disso, a gestante está em condições especiais, tem toda razão, infelizmente não direito, de indisposição ao trabalho e outras tarefas, incluindo as domésticas, pelas quais intimamente ela também se culpa.

O capital quer a mulher no trabalho, que seja com auxílio maternidade suficiente, creches nas fábricas e locais de trabalho e encontrando solidariedade entre os trabalhadores, pelos direitos e pela luta da mulher trabalhadora!

Sobre a coluna

A coluna Tripalium (conheça: http://tripalium.com.br/) é publicada a cada 15 dias.
Compartilhe:

Cauê Borges

Cauê estuda o mundo do trabalho, do ponto de vista do trabalhador, e as contradições da forma capitalista de produção. Foi operário no ABC Paulista, e cursou Economia na Fundação Santo André. Tem dois livros publicados, “Jean-Jacques Rousseau” – 2013 (Coleção Filosofinhos – Tomo Editorial), e “Contos de Trabalho, Capital e Cotidiano” – 2015 (Tripalium).

Deixe seu comentário:

0 comments so far,add yours