Olá fãs da velocidade! Voltamos nesse domingo para comentar o Grande Prêmio da Hungria, que fechou a primeira sequência de três provas consecutivas dessa temporada. Na pista, a etapa foi mais agitada do que de costume, especialmente no pelotão intermediário. Isso porque nas primeiras posições, um homem foi novamente imbatível. Lewis Hamilton teve hoje mais uma de suas exibições irrepreensíveis, liderando praticamente todas as voltas da corrida e não tendo sua posição ameaçada de fato em nenhum momento do GP. É o casamento perfeito entre melhor carro e melhor piloto, que ao que tudo indica, está pertíssimo de alcançar marcas históricas. Logo atrás, Max Verstappen faturou o segundo lugar para a Red Bull-Honda, depois de começar o domingo com uma falha digna de Os Trapalhões, enquanto apenas na terceira posição, Valtteri Bottas tem motivos para encerrar o fim de semana de cabeça baixa, com preocupações reais sobre sua posição na luta pelo título mundial. Confira a partir de agora a análise do GP húngaro:

Foto: Reuters


Após mais um sábado dominante da Mercedes, a expectativa para o domingo se concentrava essencialmente nas brigas do meio do pelotão. A Racing Point consolidara um bom final de semana ao colocar seus dois carros na segunda fila do grid, com Lance Stroll à frente de Sergio Pérez! Logo atrás, a Ferrari fazia uma exibição um pouco mais digna, fechando quinta e sexta posições, mas ainda assim a milhas de distância do topo; enquanto Max Verstappen amargava um péssimo sétimo lugar. O holandês não conseguiu um bom rendimento em todas as sessões do sábado, com sua Red Bull decepcionando em todas as partes do qualifying. Mas o que já estava ruim ficaria ainda pior, e de um jeito muito vergonhoso para Max.
Em seu caminho para o grid, o holandês resolveu testar os pneus intermediários na pista úmida de Hungaroring. O excesso de confiança teve seu preço quando, ao entrar no setor 3, Verstappen travou os pneus e deslizou rumo à barreira de pneus. Lance digno de Grosjean em Interlagos - 2016. Para a sorte de Max, a batida foi leve, com o piloto conseguindo levar o carro para sua posição no grid. Lá, os mecânicos da Red Bull fizeram um trabalho excelente, recolocando o bico do carro e consertando a suspensão danificada em tempo recorde, o que deixou a Red Bull #33 novinha em folha para a largada. E pelo menos dessa vez, Verstappen não decepcionaria.

Com o asfalto úmido pela chuva que caíra mais cedo, a possibilidade de mudanças e escaladas pelo pelotão crescia bastante. Ao apagar das luzes, Hamilton partiu bem do grid, ao contrário de seu companheiro Valtteri Bottas, que depois se justificou dizendo ter se confundido com o painel luminoso de seu volante. O fato é que o finlandês perdeu ao menos quatro posições, algo que no traçado sinuoso de Hungaroring faria bastante diferença. O mesmo aconteceu com a Racing Point #11 de Sergio Pérez, que perdeu ainda mais posições ao final do primeiro giro. Quem aproveitou os vacilos foram Lance Stroll e Max Verstappen, que completaram a primeira volta em segundo e terceiro lugares respectivamente.

Foto: Motorsport.com
As condições de pista estavam traiçoeiras, e isso favoreceu os pilotos mais habilidosos do grid. Ao fim da segunda volta, Hamilton tinha quase 5 segundos de vantagem para o vice-líder Stroll, que na sequência foi ultrapassado sem maiores dificuldades por Max Verstappen. Com o carro inteiro, o holandês apresentava um ritmo parecido com o do líder Hamilton, que aquela altura já havia construído sua segura margem de 8-10 segundos de vantagem. Mais atrás, Valtteri Bottas vinha refazendo seu caminho rumo aos pontos, alcançando rapidamente a quarta posição, mas com dificuldades para acompanhar de perto a Racing Point de Stroll.

Com pouco mais de 10 voltas e nada de chuva a cair, a pista formou o tradicional trilho, onde os pneus slicks funcionavam perfeitamente. Aí fez efeito a aposta da Haas, que no maior estilo Markus Winkelhock chamou os pilotos para os boxes já na volta de apresentação, colocando pneus de seco tanto para Grosjean como para Magnussen. Mais tarde, a manobra seria punida pela FIA devido a uma interpretação do regulamento, que afirma que os pilotos 'não podem ser instruídos pelos engenheiros durante a volta de apresentação'. Mais uma vez, o texto foi levado muito ao pé da letra, e a punição acabou sendo, ao meu ver, muito desnecessária. Mas, vamos tentar superar essa discussão um tanto infrutífera e seguir no andamento da prova. Após todos os pilotos na pista trocarem para pneus de seco, K-Mag saltou para terceiro na classificação, enquanto Grosjean o seguiu em quarto! Um momento de brilhantismo, justamente num começo de temporada muito difícil para o time estadunidense. Não conseguindo passar para o Q2 em nenhuma das etapas até aqui, as ambições da Haas são pra lá de modestas nessa temporada, com alguns boatos que colocam em xeque até mesmo a manutenção das operações na F1 para o ano que vem.
Mesmo com um carro que é de longe inferior aos demais, ambos os pilotos conseguiram manter suas posições por algum período, ajudados também pelas características mais travadas do circuito húngaro. Depois de um toque com Albon, Grosjean caiu pelas tabelas e acabou fora da zona de pontuação, enquanto Magnussen seguiu resistindo aos ataques, em mais uma exibição de valor do piloto dinamarquês.

Enquanto a pista secava, algumas equipes detectaram a possibilidade de mais chuva no radar, o que atrasou alguns pit stops, como o da Racing Point de Lance Stroll. O canadense, que estava a frente de Bottas naquele momento, perdeu alguns segundos nas voltas subsequentes. Quando finalmente parou nos boxes, não tinha a vantagem necessária para retornar à frente do finlandês, deixando o terceiro lugar nas mãos de Valtteri. Com caminho livre, o próximo alvo de Bottas era agora Max Verstappen, que continuava com um ritmo forte na pista traiçoeira, e seria um desafio e tanto para a flecha negra número #77.

Um pouco mais atrás, outro capítulo do calvário ferrarista estava prestes a acontecer. Depois de andar constantemente mais lento que o companheiro Sebastian Vettel, Charles Leclerc escolheu pelos pneus macios, indo contra a maioria dos outros pilotos, que calçavam pneus médios. O composto não rendeu no carro vermelho, e Leclerc começou a formar um 'trem' de carros de diversas equipes medianas, presos atrás da Ferrari do monegasco.
É uma cena que pode inclusive se tornar comum na temporada 2020 da Fórmula 1. Na teoria, o GP da Hungria seria uma chance de sucesso para os italianos, já que o traçado não exige muito do motor, a principal deficiência da Scuderia para essa temporada. Isso ficou provado nos treinos, quando ambos os carros classificaram à frente da Red Bull, porém na corrida o ritmo simplesmente nunca esteve lá. A estratégia de pneus se mostrou desastrosa para Leclerc, que precisou parar cedo e passou todo o resto da corrida na segunda metade do pelotão. Vettel ainda conseguiu se segurar com seus pneus médios, andando boa parte do tempo em P5, mas muito longe do ritmo dos demais carros, tendo apenas que se defender volta após volta.

Foto: Motorsport.com
Se numa pista onde o prognóstico era positivo as coisas andaram desse jeito, a tendência é que os italianos devam ficar ainda mais longe do top-5 nas próximas etapas. Considerando a pressão característica do 'Mundo Ferrari', não seria grande surpresa se houvessem mudanças no comando interno da equipe, especialmente no cargo de chefe de equipe, já que muitos já questionam a autoridade de Mattia Binotto dentro do time. A resolução é certamente muito mais complexa que isso, e passa muito pelo projeto para 2022, quando haverão mudanças drásticas quanto ao conceito dos carros. Até lá, a expectativa é de muita sofrência para os tiffosi mundo a fora.

Seguindo a prova, Bottas finalmente se aproximava de Max Verstappen após sua segunda troca para pneus médios, porém em sua parada o holandês havia colocado os pneus duros, dando a clara intenção de não parar mais até o fim da prova. Sabendo que os pneus médios não aguentariam o tempo necessário, a equipe Mercedes orientou Valtteri a forçar o ritmo, e com 20 voltas para o final parou novamente, agora para um jogo de pneus duros novos. A ideia era tentar replicar a estratégia vencedora de Lewis Hamilton em 2019, curiosamente sobre o próprio Max Verstappen, dessa vez com o composto mais duro do fim de semana. Inicialmente, Bottas entregou o esperado, tirando mais de um segundo por volta. Mas o caminho ainda era longo, e Valtteri precisaria se superar se quisesse conquistar a segunda posição.

Um pouco mais atrás, Alex Albon fazia o que se espera de um piloto da Red Bull. Depois de um sábado horrível, ficando ainda no Q2, o tailandês conseguiu escalar o pelotão, e se viu atrás de Sebastian Vettel com menos de 10 voltas para o final. Se aproveitando da falta de ritmo do alemão, Albon conseguiu a manobra a poucas voltas do fim, garantindo o quinto lugar no bolso. Nada de fantástico, mas é pelo menos uma exibição digna do assento que possui. A 13a posição no grid na sessão de classificação foi um grande passo atrás de Alex, que mostrou resiliência para fazer uma corrida sólida no domingo. Ao menos, terminou o fim de semana numa nota alta.

Chegamos então ao ponto de maior tensão no top-3 da prova. Com menos de 5 voltas para o final, Bottas tornou a tirar muito de Verstappen, dando pinta que poderia rolar uma briga. Porém, Valtteri só só conseguiu usar o DRS na última volt da corrida, e na única oportunidade que teve na reta de chegada, não conseguiu colocar lado a lado. Max segurou a P2, garantindo seu segundo pódio seguido na temporada, depois de um fim de semana em que tudo parecia dar errado.
E esse tipo de resultado é que destrói a moral de um piloto como Bottas ter um carro nitidamente dominante em mãos, cometer um erro já na largada, e depois não conseguir se recuperar e minimizar o prejuízo são erros que podem custar o campeonato. Em todas as corridas até aqui, o ritmo de corrida de Bottas se mostrou inferior ao Hamilton, e de maneira muito enfática. A decepção no rosto de Bottas na entrevista pós-corrida era notória, e é justo dizer que o finlandês pode estar sentindo o momento ruim da temporada. É hora de virar o jogo, se não será tarde demais.
Foto: Motorsport.com
Falando um pouquinho do outro lado da moeda, Verstappen conseguiu transformar radicalmente o que poderia ser um final de semana ridículo para sua carreira. Sim, as condições estavam desafiadoras e ninguém havia sequer andado pela pista, mas bater antes mesmo da corrida começar é muito embaraçoso, especialmente para alguém do talento que Max tem. Talento esse que ficou provado durante o GP: o holandês, mais uma vez, se aproveitou da pista molhada para se colocar numa posição de ataque, e após isso extraiu o máximo que pode de seu carro, segurando uma Mercedes claramente superior de Valtteri Bottas na terceira posição. Max tem seus grandes méritos pelo P2, mas só imagina se o carro não largasse hoje...

E essa dominância da Mercedes, como podemos ter certeza do tamanho dela? Pelo trabalho impecável de Lewis Hamilton na liderança da prova. O inglês acelerou no início, controlou a corrida de ponta a ponta, abriu quase 30 segundos no segundo colocado, deu volta em ambas as Ferrari (e em determinado momento até em Stroll, quarto colocado da prova), e ainda se deu o luxo de fazer o pit-extra, pra garantir a melhor volta da corrida. Simplesmente irrepreensível novamente.
Nesse momento, é justo olhar para o futuro e fazer projeções de marcas históricas. Hamilton está a apenas 6 vitórias de igualar Schumacher como o maior vencedor de todos os tempos da categoria, numa temporada que deve ter pelo menos mais 9 corridas (Bahrein e Abu Dhabi dificilmente ficam de fora do calendário). Com a Red Bull tão longe e nenhum outro carro próximo dos alemães, dá pra imaginar que Hamilton derrota Bottas em mais da metade dos confrontos diretos, e com isso, tenha uma chance real de chegar à marca das 91 vitórias ainda esse ano! Sim, é uma previsão otimista, porém a superioridade da Mercedes sobre a concorrência parece clara como nunca, bem como a De Hamilton sobre Bottas. Sim, é hora de admitir que estamos vendo a história sendo reescrita diante de nossos olhos.
Ah, e não é só esse recorde não. O carro da Mercedes deu um banho na concorrência numa pista de alta como a de Red Bull Ring, e numa pista de baixa como a de Hungaroring. É absurdo ver as flechas negras vencendo todas as corridas dessa temporada, que será inclusive menor do que as demais? Pra mim não. Com um equipamento notoriamente confiável, como vimos nas temporadas passadas, e um carro que parece um degrau acima das concorrentes diretas, a tempestade perfeita parece se desenhar para a Mercedes, uma equipe que não se cansa de quebrar os seus próprios limites, e impressionar o mundo com uma supremacia inquestionável.

Confira a classificação do GP da Hungria: 

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*Magnussen foi punido e caiu para a 10a posição 

É isso pessoal. Uma semaninha de folga para as equipes e para o redator, voltamos daqui a duas semanas com o Grande Prêmio da Grã-Bretanha em Silverstone, abraços e até lá! 
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Ricardo Machado

Um sonhador, que anseia por deixar sua marca no mundo. Apaixonado por automobilismo, futebol, letras e pelas tardes frias e chuvosas de inverno.

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