Olá a todos, todas e todes!


Na coluna anterior tratei da risco bolsonaro e de uma demonstração de como pensa o senso-comum da classe média, Ficou curioso(a/e)? Clique aqui  Mas, como Bolsonaro e sua turma insistem em nos dar pautas vou tratar de outro assunto. Talvez um pouco mais sutil.

George Orwell  publicou em 1949 um de seus clássicos:"1984". Neste livro, o escritor inglês apresenta ao leitor uma sociedade comandada por um governo autoritário que tudo sabe e tudo vê. O governo Bolsonaro nos apresenta uma realidade que muito se aproxima da retratada nas páginas do romance de Orwell. No livro, por exemplo, temos um governo que modifica o significado das palavras para justificar sua prática, o que é definido na história por Novilíngua. Arrisco-me a dizer que estamos vivenciando uma nova etapa em se tratando da Novilíngua orwelliana.

Se ainda temos aqueles lutam, manifestam-se contra a realidade imposta, por outro lado, aos poucos começamos a aceitar uma realidade na qual tudo é relativizado. Aquilo que anteriormente era considerado ultrajante em um  código mínimo de civilidade, agora é tolerado e vai, aos poucos, sendo aceito. No romance do escritor britânico havia um enorme dicionário com os novos significados, na realidade brasileira parece que superamos esta característica não sendo mais necessário apresentar o termo com sua nova definição. Na prática bolsonariana, a novidade é a ausência do verbete no discurso da maioria daqueles que analisam algum fato polêmico envolvendo o governo bolsonaro e sua base de apoio, como será demonstrado neste texto. Todo este cenário começa numa eleição influenciada, pra dizer o mínimo, por um fenômeno típico destes dias virtuais: o disparo em massa de fake news.  Este simples fato, se não tivesse sido tão morosamente investigado, já serviria para impugnar o pleito. Para entenderem melhoro o que foi a eleição de 2018, assistam ao documentário Privacidade Hackeada.

Mas, nada foi feito, tudo foi dado como normal e a vida seguiu.

Em um outro momento, o presidente Bolsonaro passa a considerar a hipótese de normear seu filho Eduardo Bolsonaro, o 02, embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Em outros tempos, a simples sugestão de um presidente da república de nomear um filho como embaixador já seria motivo para os mais agressivos editoriais em jornais e tevês. Mas, no governo Bolsonaro, não foi o que se viu. Tivemos vozes discordantes, sim tivemos, mas é bom que se diga,  muito tímidas. A imprensa, especialmente a grande , a tradicional pareceu fazer uma "ginástica" para justificar a ideia do presidente. Em momento algum chamou-se a coisa pelo nome dela:  Nepotismo.

É claro que, muito provavelmente, deve ter pesado no imaginário daqueles que defenderam esta idéia esdrúxula, o curriculum vitae do moço, a sua experiência: ter sido chapista numa lancheria, ter feito intercâmbio de 6 meses.. Deixo aqui meu respeito a todos e todas chapistas que exercem dignamente esta função. E ficamos por aí. É muita qualificação.

Neste ambiente político em que tudo parece ser possível, e raramente, se dá o nome às coisas, outro fenômeno aconteceu semana passada. O deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) distribuiu anéis de prata, à colegas parlamentares para, segundo suas palavras, trazer seus colegas para a bancada que pretende criar "a bancada dos colecionadores de armas". Ao ser confrontado com a perspectiva de ser candidato a presidência da casa legislativa, não negou a ideia, porém disse que os mimos não tinha este propósito. No mandato anterior, os anéis - semelhantes aos distribuídos aos vencedores das ligas estadunidense de baseball e basquete- era de material mais nobre: ouro.

O que impressiona é que o nobre deputado é costumaz em distribuir presentes, todos de gosto duvidoso, aos nobres colegas. Em outras situações foram distribuídos canetas e prendedores de gravatas em forma de arma. Sim., o bom gosto chegou ali e parou. Mais uma vez não vi ninguém chamar isso pelo nome: corrupção. Porque alguém jóias como essas se não quisesse algo de volta mais adiante? Assim, através destes gestos que não são nominados vai-se criando um hábito, uma nova cultura, quase um novo idioma, através do qual o gestos e as coisas mudam de significado.

Livro da Semana: "1984", George Orwell

Filme da Semana: "1984"

Até semana que vem.

Saudações,

Ulisses B. dos Santos.

Twitter e Instagram: @prof_colorado
PodCast SobreTudo: by Ulisses Santos

Sobre a Coluna

A coluna SobreTudo é publicada sempre às terças-feiras. (sim, eu sei, hoje é quinta-feira)




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Ulisses Santos

Sou um cara solidário e humanista. Procuro ser empático com o outro. As relações humanas fazem com que cada um de nós seja alguém que ao acordar é uma pessoa e ao dormir seja outra. Sou professor da rede pública estadual do RS desde 2002 e escritor desde sempre. Tenho livros escritos sobre a história de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Sou também jornalista que transita em áreas como o jornalismo esportivo e cultural. Portanto, se precisar dos meus serviços estou à disposição. Entre em contato.

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