Em 2019 foram 189 negativas das 691 notificações para possíveis transplantes no Estado. No primeiro quadrimestre de 2020 já somam 44 negativas
No hospital, duas pessoas. Uma com a possibilidade de viver muitos momentos.
A outra infelizmente não mais. Uma família sofre, a outra também. Duas pessoas que viveram dores e amores até a chagada da doença. Uma família em sentimento pela perda, a outra tentando sorri e ter esperança. Os órgãos que ocupavam o corpo de uma podem passar a pulsar e ocupar o corpo da outra. Basta uma autorização familiar e os órgãos do doador não vivo pode salvar uma outra vida, uma outra família.
O ato de salvar uma vida é uma das maiores gentilezas e a boa ação que o ser humano pode realizar. A doação de órgãos é o caminho para que isso ocorra, permitindo fazer a diferença e possibilitando que outra pessoa desfrute do bem que é viver. O processo funciona dentro de um sistema baseado em uma série de regras, desde uma causa de morte específica até a autorização de familiares, etapa muito importante para o início do processo de transplante. No entanto, durante o processo pode ocorrer uma complicação que serve como empecilho tanto burocrático quanto pessoal, a negativa familiar, pois está classificada como a principal causa da não-efetivação da doação de órgãos em potenciais doadores. Em 2018, foram 195 e em 2019 ,189 negativas. Já no primeiro quadrimestre de 2020 já somam 44 negativas território gaúcho.
A rotina diária, o fato de não ser natural do Rio Grande do Sul e surpresas agradáveis pelo caminho, muitas vezes, fazem com que a pessoa desconsidere seus hábitos e seus sintomas. “Eu vivia um período muito estressante. Eu lecionava numa escola de inglês e saí para trabalhar com o meu namorado, hoje meu esposo, na gráfica que ele adquiriu. Aquilo começou a me estressar muito mais por ter mudado, saído da minha área, atendendo outro público, talvez fazendo algo que não estivesse muito afim de fazer. Em 2018 os sintomas pioraram. Eu tinha dor de cabeça diariamente, achava que era enxaqueca e eu tomava muito analgésico. Também tinha o fato de eu estar com o casamento marcado para agosto. Além de tudo isso, eu não sou de Porto Alegre, eu sou de Cuiabá. Eu vim para a Capital para trabalhar numa escola de inglês, me envolvi com alguém e eu estava longe da família. Eu tinha que providenciar tudo e fui esquecendo um pouco os sintomas, achando que aquela dor de cabeça ia passar. O período entre o final de 2018 e o início do ano seguinte foi o mais dramático para a confirmação do quadro.”, conta Alessandra.
Alessandra Barreto, recuperada do transplante/Acervo próprio |
A professora aposentada da faculdade de Biblioteconomia da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Glória Isabel Sattamini Ferreira de 74 anos, tinha outra impressão a respeito da sua saúde e soube de uma forma também inesperada: “No período da menopausa, comecei a fazer exames de imagens e, nesta época, descobriram que eu tinha os rins menores que os normais. Fui na nefrologista e ela me indicou um certo controle alimentar. Por anos tive uma vida normal, não sabendo o motivo da origem da anomalia. Talvez pelo fato de eu ter nascido de 7 meses, houve uma má formação do rim. Aos 72 anos o rim parou.
Na verdade não sentia nada, tinha feito alguns exames e em um sábado o médico me ligou e disse para eu vir para o hospital, visto que os resultados dos exames estavam péssimos com o potássio altíssimo e que poderia ocasionar uma parada cardíaca. Peguei um táxi e fui para a emergência do Moinho de Vento onde fiquei 2 semanas e sai de lá fazendo hemodiálise”.
A professora Glória Ferreira, por sua vez, sempre enfrentou o tratamento de modo a tentar superar cada fase ao seu tempo. “Antes de entrar na fila para transplante tive que operar a paratireóide. Fiz uma bateria de exames de quase todos os órgãos e meu nefrologista me orientou a consultar com o Coordenador de Transplante do Hospital de Clinicas que me explicou todo o processo e me tirou as dúvidas. Eu consultava com ele pelo menos uma vez a cada dois meses, com ele observando meus exames e eu dissipando as dúvidas. Fiquei dois anos na fila do transplante e neste período fui chamada sete vezes, mas ficava em jejum em casa esperando o resultado dos exames do rim e no final me ligavam para dizer que o rim já havia sido aproveitado ou que tinha surgido um problema”, relata Glória Sattamini.
As restrições ocorrem nos menores detalhes da vida diária, coisa que as pessoas normalmente não dão importância, para um paciente renal é o sonho de consumo, como um singelo copo de água. A reação no corpo dos pacientes nem sempre é satisfatória, podendo resultar em um constante sofrimento para ele (a) e também para a família. Apesar de ter ficado um período menor na lista de espera, para Alessandra pareceu interminável. “Eu fiquei só nove meses que pareceram uma eternidade. Tem pessoas que estão há três, oito, nove, vinte anos esperando”.
Hoje, na condição de transplantadas e gratas pela nova oportunidade de viver, tanto Alessandra Barreto quanto Glória Sattamini, relatam que suas famílias mudaram a forma de ver e destaca a importância acerca da questão da doação de órgãos. Em um período regido pela tecnologia, com informações imediatas em poucos cliques, a desinformação é um fator que deverá deixar de existir com o tempo. No entanto, é importante assimilar essas informações e alinhar os interesses, de forma que a porcentagem da negativa familiar diminua e o número de vidas salvas aumente. Nem todo herói usa capa e se colocar no lugar de outra pessoa com necessidade é a melhor iniciativa para começar a fazer a diferença.
Glória Sattamini: período após o transplante/Acervo próprio |
A professora Glória Ferreira, por sua vez, sempre enfrentou o tratamento de modo a tentar superar cada fase ao seu tempo. “Antes de entrar na fila para transplante tive que operar a paratireóide. Fiz uma bateria de exames de quase todos os órgãos e meu nefrologista me orientou a consultar com o Coordenador de Transplante do Hospital de Clinicas que me explicou todo o processo e me tirou as dúvidas. Eu consultava com ele pelo menos uma vez a cada dois meses, com ele observando meus exames e eu dissipando as dúvidas. Fiquei dois anos na fila do transplante e neste período fui chamada sete vezes, mas ficava em jejum em casa esperando o resultado dos exames do rim e no final me ligavam para dizer que o rim já havia sido aproveitado ou que tinha surgido um problema”, relata Glória Sattamini.
Um doador pode salvar oito pessoas. A informação é a melhor aliada nesta causa. Quem tiver desejo de ser um doador informe a seus familiares e amigos sua vontade, porque é ela quem decide sobre a doação. A família sabendo do desejo do doador, menos negativas familiares podem ocorrer e mais pessoas podem ser salvas.
Até semana que vem.
Saudações,
Ulisses B. dos Santos.
*Reportagem em conjunto com Jessica Cardoso e Matheus Lima.
Twitter e Instagram: @prof_colorado
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Saudações,
Ulisses B. dos Santos.
*Reportagem em conjunto com Jessica Cardoso e Matheus Lima.
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