Em viagem recente aos Estados
Unidos, o presidente Jaír Bolsonaro soltou mais um de seus impropérios. Mais do
que apenas mais uma sandice do presidente da república ou mais uma fala
contrária ao que se espera de um chefe de Estado republicano, a declaração de
Bolsonaro é um aviso para o futuro: Jair não vai aceitar perder a eleição de
2022.
O governo Bolsonaro vem
derretendo e isso já ficou nítido até mesmo para os terraplanistas do planalto.
A falta de projetos de governo e de ações concretas para conter a crise e
recolocar o país nos trilhos, os escândalos de corrupção e os rompantes do
presidente vão minando sua imagem perante a opinião pública.
Até mesmo a economia, o argumento
chefe daqueles que ainda defendiam seu governo, alegando que a bolsa subia, a
inflação estava controlado e era questão de tempo até o dólar começar à cair,
desandou. A fuga de capital internacional nunca foi tão grande na bolsa de
valores de São Paulo. Dinamitada pelo pânico global por conta do COVID-19 e
pelo desastre do governo Bolsonaro, que afugenta investidores, viu a bolsa de
valores despencar quatro vezes em uma semana, tendo que acionar o circuit break
em todas essas vezes. O dólar, por sua vez, dispara e chega, pela primeira vez
na história do Real, à cotação de 5 Reais.
A incompetência do governo em
sanar a crise e sua imensa disposição em apontar culpados ao invés de pensar em
soluções parece ir cada vez mais minando o governo diante da opinião pública.
Tirando seus apoiadores mais fanáticos, aqueles bolsonaristas que são
bolsonaristas desde sempre e apoiam o governo não por suas soluções ou medidas
criadas mas sim por concordar com o pensamento fascista do atual presidente,
seguem tentando defender o indefensável. E o número de bolsonaristas não é o
suficiente para eleger nenhum presidente. Em primeiro ou em segundo turno.
Exatamente por isso a frase de
Jair é um alerta. Ele deixa bastante claro que não vai aceitar resultado
diferente de sua vitória. Gera dúvidas sobre o processo eleitoral brasileiro,
um dos mais exemplares do mundo e, por consequência, põe em dúvida a nossa
democracia. Ao afirmar que há algo de errado em nosso sistema eleitoral, pondo
em cheque até mesmo a eleição por ele vencida, afirmando que deveria ter
vencido em primeiro turno e que tem PROVAS (não apresentadas até então, diga-se
de passagem), Jair não tem por objetivo consertar o passado, provar a fraude de
verdade e aperfeiçoar nosso processo eleitoral. Jair mira o passado para
acertar o futuro.
Caso haja de fato eleições em
2022 e o resultado seja desfavorável à Bolsonaro, a fala dele hoje pode
justificar um golpe amanhã. A semente já está plantada. E o fruto colhido pode
vir só em 2022, quando, ao ser declarado o resultado contrário ao que ele
espera, o então presidente alegará que a eleição foi fraudada, que as urnas
foram adulteradas, ou seja lá qual argumento usará para justificar sua saída
antidemocrática. Seus apoiadores rapidamente bradarão que Jair já havia
alertado e apoiarão qualquer atitude tomada por ele. Fica bastante óbvio a
pretensão de Bolsonaro quando reafirma o “risco” da esquerda voltar ao poder em
2022. Ele diz isso pois sabe que o desastre do seu governo, que nem chegou na
metade ainda, causará sua derrota nas urnas. O aviso foi dado. Resta saber se
vamos entende-lo.
Sobre a coluna
De hoje a oito é uma coluna semanal sobre política que procura trazer em pauta assuntos referentes, principalmente, ao governo federal e acontecimentos nacionais, sem deixar de repercutir acontecimentos mundiais.
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