Olá fãs de velocidade! Retornamos nesse domingo com o relato de uma corrida sempre muito especial para nós brasileiros, mas que hoje foi simplesmente histórica! O Grande Prêmio do Brasil dessa temporada, realizado como de costume em Interlagos, reservou um final de prova simplesmente espetacular, com treta entre companheiros de equipe, Hamilton batendo e a zebra/redenção de Gasly, que alcançou um pódio completamente inimaginável para a STR! Verstappen saiu como vencedor da prova, mas certamente (quase) todo mundo teve algum motivo pra comemorar. Gasly fechou em segundo e Sainz, mais de uma hora após a bandeirada, herdou o terceiro lugar devido a punição de Hamilton. Acompanhe agora o relato sobre a corrida:

Foto: Motorsport.com


Partindo da pole position, era justo colocar Max Verstappen como favorito para a corrida deste domingo. Líder em todas as partes do treino de sábado, Max parecia ter encontrado o balanço ideal de sua Red Bull Honda, o que aliado a um retrospecto muito positivo no circuito o colocava no centro das atenções. Porém, o caminho não seria fácil, especialmente no quesito ritmo de corrida. Lewis Hamilton e sua Mercedes foram praticamente imparáveis aos domingos nessa temporada, e com certeza o inglês aparecia como ameaça. Sebastian Vettel, que largava na segunda posição, também poderia incomodar com o seu forte motor Ferrari.

Na hora da largada, foi Hamilton quem mais se destacou. O inglês tracionou o carro perfeitamente, pulando a frente de Vettel já na primeira perna do S do Senna. Verstappen seguiu à frente, com certa margem na liderança. Mais atrás, Leclerc (que partira do 14o lugar devido à uma punição por troca de componentes no motor) conseguiu sobreviver ao tumulto do meio do pelotão, completando a primeira volta já no 11o lugar.

Enquanto Leclerc construiu seu caminho até a sexta posição, Verstappen e Hamilton se destoaram de Vettel na liderança da prova. Com um ritmo de prova fortíssimo, os dois pilotos despontaram como os únicos postulantes à vitória, e as estratégias seriam parte determinante para definir o vencedor. Hamilton, na segunda posição, decidiu parar antes do holandês, trocando para um novo jogo de pneus macios e indicando uma estratégia de duas paradas. Atenta, a Red Bull imediatamente chamou Max na volta seguinte, impedindo que Lewis se valesse da vantagem na volta de saída para tomar a posição. Porém, a equipe não contava com a presença de Robert Kubica, que bloqueou Verstappen ao sair dos boxes, quase causando um acidente. O holandês evitou a batida, mas nada pode fazer em relação à Hamilton, que com uma boa volta ganhou a posição de Max.

Foto: Ricardo Moraes/Reuters
Ciente de que as primeiras voltas são as melhores do pneu, Verstappen voltou à pista acelerando tudo que podia, tentando diminuir a diferença em relação a Hamilton. O holandês foi perfeito em sua out lap, e ainda contou com Leclerc dificultando o caminho para Hamilton no miolo do circuito. Verstappen colou em Hamilton na subida do café, e colocou por dentro na curva 1, retomando a virtual liderança da corrida. Manobra perfeita, freando dentro da curva e encontrando aderência mesmo fora do traçado ideal!

Enquanto os dois protagonistas duelavam, a Ferrari #5 de Sebastian Vettel tentava um plano B para se sobressair em meio ao melhor rendimento dos adversários. Um stint mais longo, tentando fazer apenas uma parada era a alternativa da equipe italiana, e Vettel vinha fazendo um bom trabalho, virando tempos parecidos com os dos rivais, mesmo calçando um composto mais usado. Mas o trabalho duro para o alemão viria mesmo no seu segundo stint, quando teria de segurar a pressão dos oponentes com um jogo de pneus muito mais usado. Pelo menos, era essa a teoria...

Na prática, a dupla de líderes estava mesmo imbatível! Já entrando na segunda metade da corrida, Hamilton fez sua segunda parada, trocando para os pneus médios, seguido imediatamente por Verstappen. Rapidamente, o holandês pulverizou a diferença de seis segundos em favor do alemão, descontando mais de 2 segundos por volta, e provando que a estratégia de duas paradas era mesmo a melhor escolha.

Antes que a loucura aterrissasse de vez em Interlagos, hora de valorizar um pouco as disputas do meio do pelotão, em especial a corrida de Pierre Gasly. Já nessa altura, o francês se destacava com um bom sétimo lugar e um ritmo de prova excelente, que aparecia desde o treino de classificação no sábado. Levando a Toro Rosso a posição de melhor do resto, Gasly fazia uma corrida muito forte, e nenhum dos resultados a seguir foi fruto apenas de mera sorte.

Pois bem, chegamos na volta 50, e foi aí que os acontecimentos tomaram rumos caóticos. Começando de uma maneira muito sutil, com o abandono de Valtteri Bottas. Problemas no motor da Mercedes #77, e é justo dizer que não foi apagão nos propulsores alemães: as equipes clientes sofreram com várias quebras nessa segunda metade de temporada... Interessante a montadora ficar de olho aberto, já que no ano que vem a disputa pode ser bem mais apertada, e essas falhas não serão toleradas.

Foto: Motorsport.com
O abandono de Bottas causou um estranhíssimo safety-car, e explico o por quê. Na posição em que o carro se encontrava, era perfeitamente possível a utilização do VSC, que reduz a velocidade dos carros sem encurtar a distância. E nas condições de hoje, com pista seca, até mesmo a intervenção do trator apenas com bandeira amarela no setor já era possível, visto que o carro estava no interior da curva, longe do traçado e até mesmo fora da pista! Decisão questionável dos comissários, mas que acabou proporcionando um final de prova espetacular!

Com a entrada do carro de segurança, a Red Bull notou que a vantagem para Vettel era grande o suficiente para conservar a segunda posição, e chamou Verstappen para trocar os pneus médios para macios. A Mercedes, percebendo que ultrapassar Max em pista era muito difícil, optou por deixar Hamilton fora, com os mesmos jogos de pneus médios, porém invertendo os papéis com Max. Agora, Lewis era líder do GP, mas teria que se defender da Red Bull #33.

De fora, a missão era difícil, mas não impossível. Mas dentro da pista, Verstappen se mostrou, mais uma vez, perfeito. Já na relargada, freada para o S do Senna, colocou por fora, dividiu a curva 1 e saiu por dento da curva 2. Não travou os pneus, não passou por fora da pista, não tocou em Hamilton. Fez parecer fácil uma ultrapassagem no limite extremo. Logo depois, construiu rapidamente uma sólida vantagem frente ao inglês, mostrando que aquela era sua corrida, e ninguém poderia roubá-la.

Mais atrás, a briga seguia, e das mais fortes. Quase que simultaneamente à manobra de Verstappen, Alexander Albon fez a mesma manobra sobre Sebastian Vettel, pulando para o terceiro lugar, que lhe dava o primeiro pódio de sua carreira! Manobra igualmente linda do piloto tailandês, que chegou a encostar em Hamilton, mas precisou também se defender das investidas de Vettel. O alemão, também já de pneus macios, via seu companheiro Charles Leclerc em seu retrovisor. Depois de largaar em 14o, Leclerc se via com reais chances até de pódio, e impulsionado pelas boas manobras que fizera mais cedo sobre os carros do pelotão intermediário, não hesitou em partir pra cima de Vettel.

Leclerc colocou por dentro na curva 1 e contornou o S do Senna à frente de Vettel. Sebastian porém tracionou bem na Curva do Sol e saiu colado na Reta Oposta. Leclerc deu o lado de fora, e Vettel decidiu colocar de lado. Foi então que Seb espalhou um pouco além do traçado natural, o suficiente para um toque na roda dianteira de Leclerc, que significou a tragédia absoluta na Scuderia. Furo nos pneus dos dois carros, que acabou trazendo danos irreversíveis para ambos e um duplo abandono que pode ter grandes consequências.

Foto: Motorsport.com
O resultado catastrófico desse lance acaba significando muito mais do que a briga dos pilotos propriamente dita. Se analisarmos com atenção os replays, nota-se que é Vettel quem altera um pouco seu traçado, porém de maneira muito sutil! Até mesmo o toque, que originou o furo nos pneus, é quase imperceptível se compararmos com outros incidentes que acontecem durante a corrida.
Se falarmos apenas em termos de culpa, é justo dizer que a maior porcentagem fica mesmo com o piloto alemão. Seb calculou de forma errada a distância para Leclerc e achou que já tinha preferência na tomada, quando na verdade ambos estavam lado a lado. Porém, o movimento de Vettel para a direita e o toque entre as rodas são tão sutis que as consequências trágicas do acidente parecem mesmo uma grande dose de azar por parte da equipe italiana. Quantos toques roda com roda já não vimos nesse esporte, não é mesmo? E em muitos deles, não há maiores danos para nenhum dos pilotos... Não fosse pelo fato de ambos estarem a quase 300 km/h durante o ocorrido, talvez a disputa não passasse de mais uma dessas brigas, quentes mas que acabam dentro da pista.
Dessa forma, acredito que não é momento para crucificar Sebastian Vettel. Apesar de ostentar maior porcentagem de culpa, o erro não foi proposital ou absurdamente grave. Resta agora à Mattia Binotto e companhia lidar com a enorme pressão dos Tifosi espalhados pelo mundo e não deixar que a relação entre os dois pilotos vá por água a baixo, afinal a dupla já está confirmada para 2020, e um conflito interno certamente mina qualquer chance dos italianos brigarem pelo título no ano que vem.
Um bom exemplo de pilotos que tiveram duras lutas dentro da pista mas não se tornaram ferrenhos inimigos é entre Daniel Ricciardo e Max Verstappen. Mesmo com alguns desentendimentos, a dupla manteve respeito mútuo entre si até a última corrida juntos, em Abu Dhabi no ano passado. Da mesma forma, Vettel e Leclerc podem conseguir passar por cima do desentendimento de hoje e seguirem sua caminhada pela Ferrari, certamente não como melhores amigos, mas como bons profissionais, cientes do seu papel na equipe. Ou então, podem se desentender ainda mais caso não haja um líder que consiga administrar os conflitos internos e recolocar cada peça em seu devido lugar. Resta saber se a Ferrari finalmente acerta na gestão interna e consegue passar por cima desse empecilho. Conhecendo o modo Ferrari de fazer as coisas, isso parece um pouco distante...

O duplo abandono Ferrarista gerou outro Safety-Car, e Hamilton agora sim aproveitou para parar nos boxes, colocando novos pneus macios. Dessa forma, Albon subiu para a segunda posição, enquanto um surpreendente Pierre Gasly levava a Toro Rosso ao terceiro lugar! Um pódio dos sonhos para a empresa de energéticos, que pela primeira vez estava a duas voltas de ver seus três carros emplacando um pódio no mesmo GP! Mas duas voltas nesse GP de Interlagos era tempo demais...

Já na relargada, Hamilton forçou e ultrapassou Pierre Gasly, que nem se preocupou em defender a posição, se contentando com o até então quarto lugar. Na liderança, Verstappen aproveitou para se distanciar da confusão, e enquanto isso, Hamilton partiu para o ataque também em cima de Albon, então segundo colocado. O tailandês sabia que Lewis tinha pneus novos, e por isso optou por um traçado mais conservador, alargando a tomada das curvas porém tracionando melhor na saída delas. Na tomada do Bico de Pato, Alex adotou exatamente essa estratégia, deixando muito espaço no lado de dentro. Instintivo, Lewis viu o gap e se jogou, mas sem espaço para completar a manobra, acabou tocando na traseira de Albon, rodando o carro da Red Bull e danificando sua asa dianteira. Dessa forma, Gasly ultrapassou ambos, subindo para a segunda posição, com Hamilton mantendo o terceiro lugar. Albon voltou no fim do pelotão. Ao final da prova, Lewis foi punido com um acréscimo de 5 segundos ao seu tempo total de prova.

Foto: Motorsport.com
Nessa manobra, é importante ressaltar o critério que a direção de prova vem usando para punir os pilotos em determinados incidentes: independentemente da intenção, é analisado o resultado do lance. Essa situação causa um número exagerado de punições em muitos grandes prêmios, e seria interessante que fosse revisada. A punição deveria ocorrer apenas em casos extremos, para garantir que a justiça prevalecesse no resultado final. Se nós temos dois pilotos buscando o limite, naturalmente um deles deve se dar mal. E levando isso em consideração, por que seria necessário punir o outro?
Levando em conta os critérios usados pela FIA, a punição à Hamilton é compreensível. Lewis causou o pião de Albon, comprometendo inteiramente a corrida do tailandês. Agora analisando calmamente o replay, nota-se que Albon abre demasiadamente a tangência no Bico de Pato, permitindo que Lewis coloque seu carro lado a lado com a Red Bull. Então, Albon sai da curva tracionando forte e fechando a tangência, ignorando a presença de Hamilton que por ali havia se metido. Em minha interpretação particular, não há motivo para punição. Porém, ao menos a FIA manteve o critério de outras decisões ao longo do campeonato, e mesmo que questionável, isso precisa ser ressaltado.

E mesmo depois de tudo isso, a corrida ainda tinha emoção pra dar! Já na última volta, enquanto Verstappen cruzava a linha de chegada, Hamilton emparelhava com Gasly na última curva, fazendo todo o setor 3 praticamente lado a lado com a STR do francês, que numa demonstração de força tremenda do motor Honda, venceu a "drag race" contra o propulsor Mercedes! Um final fantástico, digno de filme, para embelezar ainda mais a tarde de domingo no Autódromo José Carlos Pace.

No fim, vitória inquestionável de Verstappen. Mais rápido no sábado e imparável no domingo, ultrapassando Hamilton por duas vezes para assumir a liderança, e quando líder, colocando sólida vantagem sobre os demais, evitando qualquer surpresa. Nada a questionar sobre sua pilotagem.
E se a vitória de Ma foi uma espécie de redenção pelo entrevero com Ocon no GP Brasil de 2018, o que falar do segundo lugar heroico de Pierre Gasly?? Depois de uma primeira metade de campeonato muito abaixo do esperado, sofrendo até com o desrespeito de outros pilotos e um rebaixamento traumático para a Toro Rosso, o francês deu a volta por cima, conquistou um par de bons resultados nas últimas corridas e é coroado com um segundo lugar por questão de centésimos de segundo numa briga contra Lewis Hamilton. A carreira de Gasly ainda será muito longa, mas seja lá o que o futuro lhe reserva, Pierre já pode dizer que é um vencedor. Poucos pilotos teriam resiliência o suficiente para dar a volta por cima em tão poucas corridas como fez o jovem francês, que é sim um bom piloto, apenas não é consistente e teve problemas para domar a poderosa Red Bull. De alma lavada, Gasly pode descansar um pouco, e se concentrar em fazer um bom 2020 para resolver sua vida na próxima década.

E o terceiro lugar também vem cheio de significado! Herdando a posição de Lewis Hamilton, Carlos Sainz levou o primeiro troféu de sua carreira pra casa, e coroou um ano de muitos altos com a P3 em Interlagos.O espanhol também deu à McLaren seu primeiro pódio desde a Austrália - 2014, o que apenas comprova aquilo que foi demonstrado durante todo o ano: a equipe laranja parece ter finalmente encontrado seu rumo. Com uma dupla talentosa e um carro promissor, os resultados nessa temporada foram muito excelentes, e a equipe promete dar trabalho com o novo regulamento em 2021.

Com os resultados alternativos, pouca coisa mudou no campeonato de pilotos. Hamilton, já campeão, subiu aos 387 pontos, enquanto Botta ficou estacionado nos 314. Max Verstappen é agora o terceiro com 260, contra 249 de Leclerc e 230 de Vettel. Pierre Gasly retomou o sexto lugar, subindo aos 95 pontos, exatamente a mesma pontuação de Carlos Sainz! Alex Albon vem logo na sequência com 84 pontos ganhos.

Nos construtores, a Mercedes domina com 701 pontos contra 479 da Ferrari e 391 da Red Bull. A McLaren se garantiu no quarto lugar com 140 pontos ganhos, enquanto Renault (91), Toro Rosso (83), Racing Point (67) e Alfa Romeo (57) seguem na luta por posições.

Confira a classificação oficial do GP do Brasil*: 

Foto: Reprodução
*Hamilton acabou punido com acréscimo de 5 segundos, sendo relegado ao sétimo lugar
Por hoje é só pessoal! Retornamos daqui a duas semanas com o Season Finale da temporada em Abu Dhabi, no circuito de Yas Marina. Abraços e até lá!
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Ricardo Machado

Um sonhador, que anseia por deixar sua marca no mundo. Apaixonado por automobilismo, futebol, letras e pelas tardes frias e chuvosas de inverno.

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