Para um "não político", o "prefeito fujão" tem muitos problemas políticos

Com o lema “Acelera SP”, o paulistano João Agripino da Costa Dória Júnior – João Dória na urna –, de 60 anos de idade, é candidato do Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB ao governo do estado. Empresário formado em Comunicação Social pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, o ex-prefeito de São Paulo, eleito para o mandato 2017-2020 e apelidado pela coluna MaisSP deste blog de “prefeito fujão” – por ter abandonado o cargo para disputar à vaga de governador –, integra chapa com o deputado federal Rodrigo Garcia, do Democratas, que concorre na condição de vice. Garcia é advogado e nasceu em Tanabi, no interior.
Foto: Renato S. Cerqueira
Dono de um patrimônio de cerca de 190 milhões de reais, João Dória fez carreira no ramo empresarial e da comunicação e marketing, sobretudo no lobby ou tráfico de influência por meio do Grupo de Líderes Empresariais – LIDE, do qual é presidente licenciado. O LIDE é conhecido por promover eventos voltados a empresários, ligados ao grupo, e a classe política em geral.

O agora postulante à sucessão de Geraldo Alckmin (PSDB), responsável por inseri-lo na política – padrinho de outrora –, já esteve à frente de programas televisivos como o “Show Business”, na RedeTV e Band,  e “O Aprendiz”, na RecordTV, e iniciou trajetória política ainda na década de 1980, quando assumiu a secretaria municipal de turismo em São Paulo entre 1982 e 1984, durante a administração Mário Covas, e presidiu a Empresa Brasileira de Turismo – EMBRATUR, de 1985 a 1987, no governo do presidente José Sarney.  À frente dos trabalhos da EMBRATUR, Dória chegou a propor que tornassem “atrações turísticas” a busca por ouro em Serra Pelada, no sudoeste paraense, e a seca nordestina, esta última sob a justificativa de que todos têm o direito de conhecer “a riqueza e a pobreza do Brasil”. Para uma plateia de empresários cearenses, à época, ele ainda afirmou que o então governo federal deveria aumentar os investimentos em turismo e reduzir os valores para irrigação da região. “A Caatinga nordestina poderia ser um ponto de visitação turística e gerar uma fonte de renda para a população sofrida da área”, reforçou o hoje candidato ao governo de SP.
Foto: Sérgio Lima
Apesar de ser filiado ao PSDB desde 2001, Dória só veio a disputar um cargo eletivo em 2016, quando venceu, em 1º turno, as eleições municipais em São Paulo. Com o discurso de que “não era político e sim gestor”, o ele então assumiu a administração municipal e ficou apenas 66 semanas – acompanhadas de perto pelo quadro Semana do Gestor”, da coluna Mais SP – até abandonar o cargo e os pouco mais de três milhões de votos – 3.085.187 – que recebeu, para estar no atual pleito. Há quem diga que João Dória fez da Prefeitura um trampolim político para alçar voos mais altos.

Dória guarda polêmicas em sua passagem pela administração paulistana. A começar pelas 43 viagens em 11 meses de gestão, o então prefeito ainda cortou o transporte escolar e a distribuição de leite de estudantes da rede municipal de ensino; permitiu a matrícula de crianças em creches ainda em construção; apresentou a farinata, composto de restos de alimentos que, num primeiro momento, substituiria as cestas básicas distribuídas pela assistência social do município; escondeu moradores em situação de rua com tapumes embaixo de viaduto na região central da cidade; envolveu a Prefeitura num rolo de repasses de medicamentos próximos do vencimento em troca de publicidade para uma empresa farmacêutica; ridicularizou e retaliou o trabalho de jornalista que viu funcionários de limpeza da Prefeitura jogando água fria em moradores em situação de rua, na região da Praça da Sé; inflou números quando da criação de vagas em creches; montou um secretariado com figuras que dificultam o acesso à informação por profissionais de comunicação, como no caso envolvendo o assessor Lucas Tavares, e que cometem fraudes, como André Sturm – secretário municipal de cultura – e o atual prefeito Bruno Covas – então secretário municipal da casa civil; e tentou, sem sucesso, aprovar uma contrarreforma da previdência municipal, impedida por meio da resistência de servidores públicos, sobretudo professores – apesar da violência empregada pela Guarda Civil Metropolitana – GCM.
  
Foto: Ueslei Marcelino
Condenado à perda dos direitos políticos por ter usado a marca do programa de zeladoria Cidade Linda para autopublicidade, segundo decisão recente da 1ª instância – cabe recurso no TRF-3, Dória tem problemas na justiça desde a passagem pela EMBRATUR. O Tribunal de Contas da União – TCU assina relatório em que constam “impropriedades de várias ordens” e a “não contabilização de verbas obtidas em convênio no exterior” na prestação de contas da então empresa estatal de turismo, assim como contratação de empresas sem licitação e concorrência. O candidato teria escapado de uma condenação pela intervenção do então ministro da Corte Adhemar Paladini Ghisi que debitou a desordem financeira, entre outras argumentações, na alta da inflação e da moratória da dívida externa da época.

Como típico de tucano, João Dória encontrou – e encontra – amparo na também típica subserviência de alguns mecanismos de justiça, principalmente tratando-se de um estado governado pelo mesmo partido desde 1994.

No plano de governo protocolado junto ao TRE-SP a campanha de Dória categorizou 14 temas, que vão desde educação à economia e gestão, como pilares de uma plataforma que deve dar continuidade à gestão tucana.

Sem muito detalhamento, o documento em alguns pontos é genérico e não aponta propostas efetivas. No tópico “Educação”, por exemplo, diz que “a educação ocupa um lugar de destaque nas sociedades contemporâneas e nas políticas públicas de governos que têm compromisso com o futuro das pessoas. E o futuro é agora!”, em um dos muitos trechos com obviedades. A sequência do plano de governo, recheado de frases de efeito, dá razão ao eleitor que arrisca supor que se trata de um texto de autor desconhecido no “ninho” tucano. O que seria um programa de governo para quem ficou conhecido nesta campanha por comprar e veicular vídeos de bancos de imagens?

Sem descrever caminhos, o ex-prefeito promete levar os mutirões Corujões da Saúde; os programas Dr. Saúde de Carretas, Remédio Rápido e Redenção para todo o estado, assim como apoiar municípios quanto à questão básica de saúde e integração do trabalho da rede hospitalar. Dória tem mais promessas em campanha de TV e Rádio do que no documento protocolado junto ao TRE-SP. Medo de ser pego praticando estelionato eleitoral? Talvez. 

Na  avaliação deste JC!, o programa de Dória, que abandonou a cidade de São Paulo para tentar puxar o tapete de Alckmin na disputa presidencial, além de um falacioso conjunto de ideias de marketing que não se sustentam na prática, como o próprio "Corujão", que é apenas um subterfúgio para a transferência de recursos públicos a grandes hospitais e algo que poderia ser feito dentro da iniciativa pública, nos moldes que o próprio Márcio França alega desejar fazer, tem um caráter ainda mais perigoso: o abraçar do Nazi-Fascismo. 

Quando Dória usa frases como: "No meu governo a PM vai atirar pra matar" e "vou pôr a 'Rota na rua'", ele apenas reforça a ideia errada e abraçada pelos zumbis ultraconservadores, como os apoiadores do "Coiso", de que a violência e o narcotráfico se combate correndo atrás de pobres nas favelas, quando não, não é assim. A violência se combate com inteligência policial e desmilitarização das forças policiais, com cada policial sendo também um agente de investigação capacitado e com instrumentos de inteligência que possibilitem quebrar os cabeças do crime organizado - com o qual a gestão tucana já admitiu ter acordos em outros tempos -, ao invés de ficar correndo atrás e atirando pra matar supostos "aviões e vapores" nas periferias. A campanha de Dória representa o elitismo e a alienação e precisa ser sumariamente derrotada nas urnas. 


Por: Claudio Porto e Adriano Garcia.


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Redação

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