Foi realizado na noite desta quinta (21) pela CNBB e transmitido pela TV Aparecida, tendo pela primeira vez na história uma mediadora negra, com a apresentação de Joyce Ribeiro, mais um debate presidencial, que não contou com a presença de Bolsonaro ainda internado por conta da facada (clique), além de Daciolo (Patriota) que - provavelmente - estava jejuando no monte e também dos candidatos sem representação parlamentar: João Amoedo (Novo), João Goulart Filho (PPL), Vera Lúcia (PSTU) e Eymael (DC). 

Foi o primeiro que contou com a representação do PT, que não é Lula (clique) como desejava o partido e a maioria do eleitorado de acordo com as pesquisas até sua impugnação, mas é Haddad (clique), que assim como nas primeiras entrevistas como candidato e nas como vice, tem sob a benção de Lula representado muito bem o partido e crescido rapidamente nas pesquisas (clique), isso gerou vários efeitos no debate, o PT até então relegado ao esquecimento foi duramente atacado.

Sobre o formato do debate, os tempos foram interessantes, dois minutos para resposta, um e meio para réplica e um para tréplica, com isso foi possível desenvolver melhor as respostas, mas a falha grave é que parecia que o relógio não estava visível aos candidatos, que a todo momento tinham seu microfone abruptamente cortado, isso pega mal, apenas essa a crítica, de resto o formato foi bom, com três horas de duração. Destaco também a preocupação social da CNBB, divergências a parte, nas perguntas dos bispos ficaram nítidas suas preocupações com o social, algo que é histórico, pena que as emissoras de aspiração evangélica não façam o mesmo e encarem a política apenas como forma de defesa de SEUS PRÓPRIOS INTERESSES e não da sociedade como um todo.


No campo propositivo cabe observar que temos seis candidaturas muito próximas no que tange a propostas que facilmente poderiam se converter em apenas duas, o que não ocorre devido a fragmentação em um cenário político eu chamaria de nitroglicerinico. No campo mais a esquerda, as ideias de Haddad, Ciro e Boulos são muito próximas, inclusive com Ciro indicando que trabalharia com ambos em um governo seu, algo que parece viável também para os outros dois. No campo da Centro-Direita a mesma coisa, Alckmin só não tem o apoio de Meirelles e Álvaro Dias por ego partidário, pois seus pensamentos sobre as Reformas (ou contrarreformas) e sobre políticas públicas são comuns, iguais em grande parte.


Sobre reformas, os candidatos a esquerda se comprometeram a revogar as contrarreformas do (des)governo Temer e implementar outras, como a Agrária, a Tributaria fazendo com que o imposto seja focado na renda e não no consumo como é hoje, onerando os mais pobres e vale destacar que Ciro foi o primeiro a falar de forma didática em uma Reforma Urbana, algo que Boulos também conhece bem, com medidas que tragam as populações desabrigadas e das periferias para o centro das grandes cidades por meio de uso dos imoveis vazios e programas habitacionais, desafogando assim o transporte público e gerando mais qualidade de vida ao trabalhador.

Ainda sobre reformas, observa-se que todos os candidatos falam em reforma política, mas será que é uma reforma que realmente atenda aos interesses da população, ou aos deles próprios? A meu ver, Reforma Política de verdade se fará com o fim de coligações proporcionais, financiamento por fundo partidário igualitário, com tempo IGUALITÁRIO de mídia a todos os partidos e por meio de doações apenas por pessoas físicas, somente com esse mecanismo é justo aplicar cláusula de barreira.

Além disso, não apoio o voto distrital, por uma simples razão abordada no debate, nos rincões do Brasil os coronéis ainda tem a bala e a mídia a seu favor, como citadas as famílias: Collor em Alagoas e Magalhães na Bahia donas de afiliadas da TV Globo, Barbalho no Pará dona de afiliada da BAND, sem contar Massa na região Sul. A teoria da fiscalização não se aplica nesses casos, essas famílias são votadas por bem ou por mal e se perpetuam no poder. Falando em perpetuação, somos contra também as listas fechadas, pois favoreceriam os caciques políticos. Vamos agora falar individualmente sobre os candidatos, na ordem do estúdio como sempre.


Guilherme Boulos (PSOL) - O PSOL tem um potencial genuíno de cerca de 4% do eleitorado mais a Esquerda que o próprio PT, fora o que pode conquistar através do candidato que lança, Boulos tem estado muito abaixo deste patamar, apesar da excelente dialética e de representar muito bem o programa do partido, talvez isso ocorra por um certo susto por parte do eleitor em relação a dureza com que se expressa. Apesar de no debate ter falado de temas duros como o combate ao oligopólio das comunicações e o aborto por exemplo, percebeu-se um Boulos um pouco mais moderado e convergindo com Ciro (que aliás detém mais de 40% do eleitorado psolista segundo o Datafolha) talvez seja tarde para atingir um patamar maior, mas ainda é tempo de cumprir o papel de reflexão e de posicionamentos firmes que caracterizam o partido, com a esperança de uma união de forças no segundo turno e no governo, seja ele do PT ou do PDT.


Fernando Haddad (PT) - Como já dito, enfim, apenas no quarto debate o PT foi representado, o que pra mim é um erro pois mesmo enquanto era candidato a Vice, Haddad sempre representou Lula e consequentemente o partido, logo, me parece uma decisão de CONVENIÊNCIA por parte das outras emissoras ter deixado o partido de fora dos debates anteriores. E o agora 100% candidato mostrou realmente ser o mais preparado dentro do partido para tocar o projeto na ausência de Lula, com tranquilidade absoluta, se expressando muito bem, com propostas muito claras, respondendo com elegância os ataques que vieram de quase todos os lados e com foco positivo, talvez o debate não tenha sido visto por tanta gente, mas quem viu confirmou que se a ideia era votar Lula, apesar de Haddad NÃO O SER, é um voto empregado na retomada daquele projeto para o país.



Álvaro Dias (Podemos) - A presença do PT no debate escancarou a face autoritária e o ódio político do Tucano paranaense pelo partido de forma absolutamente constrangedora em tempos onde se prega o fim do "nós contra eles", que num momento de desonestidade intelectual e atendimento de interesses corporativos, a "jornalista" Vera Magalhães da Jovem Pan, atribuiu somente a Esquerda no Debate da TV Gazeta (clique), dizendo que o "PT era a semente do caos e que não transformou nada no país, que afirmar isso era fantasia e que o partido fundou a corrupção e o caos social existentes na nação". 

O candidato que usa de forma devida ou não sempre a imagem de Sérgio Moro pareceu incorporar o espírito antipetista do juiz também Tucano em sua fala, cheguei a temer que Moro tivesse desencarnado e habitado o corpo do Senador. Esse tipo de manifestação extremada, essa conversa sem substância de refundação da República e essa conversa fiada de que "É preciso combater os banqueiros" (a quem ele quer enganar com isso?) fazem com que o candidato soe a nada além de uma caricatura, Tal desempenho pedante deve deixar até o seu eleitorado sulista decepcionado.



Ciro Gomes (PDT) - Ciro é um grande quadro político, mais uma vez expôs suas propostas com muita clareza, mais uma vez chamou a racionalidade para o que é, como para o que não é exequível (como acabar com as oligarquias de comunicações), cabe destacar também o valor que o candidato deu a agricultura familiar e a devida esnobada no agronegócio, o que o afasta do Centro, é o caminho coerente com o político que Ciro é hoje, mas pode prejudicar na conquista de votos importantes vindos de Alckmin.

O candidato segue competitivo, mas com a ascensão de Haddad como representante de Lula e um bom representante, o candidato radicado no Ceará está entre a cruz e a espada. De onde Ciro pode absorver votos agora, da Esquerda? Dificilmente, Haddad está forte e ele já tem grande parcela do eleitorado psolista, de Bolsonaro só Daciolo é capaz de tirar votos, ou seja, ao Centro, que o candidato rechaça seria o caminho, recorrer ao diálogo com o eleitor com que ele se distanciou, que é o eleitor de Centro-Direita, mas que ele tem capacidade de dialogar tanto pela inteligência que tem, como pelas origens políticas, se Ciro absorver os votos que iriam para Alckmin e parte dos votos de Marina, além de parte dos que não declaram voto, que são mais de 20% do eleitorado de acordo com as pesquisas, se embola totalmente com Haddad, que não vai absorver a totalidade dos votos de Lula, até porque, fosse assim, ultrapassaria o líder atual nas pesquisas.


Henrique Meirelles (MDB) - Outro que faz papel vergonhoso nessa campanha é Meirelles. Que escondeu Temer, o qual ajudou a implantar as contrarreformas que tiram os direitos dos trabalhadores, geram desemprego e no fundo, apenas servem para gerar ainda mais sobrelucro aos grandes empresários, haja vista que é um contrassenso alegar a necessidade da Contrarreforma da Previdência por crise no INSS e ao mesmo tempo aprovar a terceirização irrestrita que diminui de forma drástica a contribuição para o órgão. Ao mesmo tempo que escondia Temer, Meirelles até aqui ilava sua imagem a de Lula, tentando enganar a população de que era o responsável por todos os avanços daquele tempo, não, não era, ele era apenas o Presidente do BC, nem Ministro era.

Finalmente o PT esteve presente no debate e foi engraçado notar que uma vez sequer ele falou no nome de Lula e chegou a referir-se ao período do qual tanto se vangloriava como "outro tempo", sendo chamado de ingrato por Haddad. Diante de tudo isso, todos os elementos da campanha Meirelles foram por água abaixo e de forma ainda mais grave, se ele critica Dilma por intervencionismo e por ter exacerbado o estímulo ao consumo gerando uma bolha que culminou na crise (o que é consenso entre os economistas), esse processo começou na sua gestão no BC, a qual ele se vangloria de sozinho ter gerado 10 Milhões de empregos. Ou seja, ele mesmo desvirtua sua tese, a bolha estourou e hoje são 20 Milhões de desempregados, ou seja, ele FAZ PARTE DA POLÍTICA ECONÔMICA QUE JULGA DESASTROSA, logo, tivesse honra, deveria RETIRAR SUA CANDIDATURA, o que não fará, mas já sabe que menos de 2% do eleitorado o irá chamar.


Marina Silva (REDE) - Assim como Alckmin, a candidata Marina pretende morrer atirando, sua candidatura perdeu substância pela falta de posicionamentos claros e caiu contundentemente nas intenções de voto, já no desespero, a candidata tenta fugir de sua própria natureza, buscando adotar os posicionamentos mais claros possíveis, mas se há uma coisa difícil de recuperar quando se perde é o capital político e a queda acentuada de Marina nas pesquisas mostrou a nítida perda disso. Ainda assim, cabe destacar um dos posicionamentos importantes da candidata, que defende que a demarcação de terras indígenas siga a cargo da presidência, isso é muito importante para garantir os direitos dessas populações, que além de terem suas culturas preservadas, preservam o meio ambiente livrando-o da ganância do agronegócio.


Geraldo Alckmin (PSDB) - Como dito na publicação que anuncio no início deste texto, Alckmin vai morrer atirando, mas sabe que não tem como recuperar votos vindos de Bolsonaro, está até mesmo constrangedor esse ataque sistemático, até porque é pouco inteligente apelar para o recobrar da racionalidade de eleitor de tal candidato, convenhamos.

Alckmin do alto de seu baixíssimo carisma, vazio de propostas e pouca dialética pareceu mais manso neste debate, jamais admitirá, mas sua campanha foi um fracasso histórico, o que certamente está divertindo o playboy João Dória. 




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Imagens: TV Aparecida (Reprodução). 


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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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