Vamos acompanhar semanalmente o mandato do prefeito tucano João Dória à frente da Prefeitura de São Paulo. O Gestor, como ele bem frisa, terá muito trabalho no comando da maior cidade da América Latina, e estaremos atentos a todas as suas ações. Portanto, todo sábado, traremos aqui um compilado do que o mandatário realizou em suas atribuições.



48ª Semana De passando mais tempo na cidade à “polêmicos da semana”



Desde que, no popular, a “porca torceu o rabo” para Dória, que viu sua popularidade cair e com isso a obrigação de uma resposta com alterações em seu secretariado, a cidade de São Paulo e, consequentemente, o Edifício Matarazzo ficaram mais atrativos para o prefeito que já estava sendo reconhecido nas ruas pela alcunha de “turista”. É que ele, João Agripino Dória Jr., não viaja há, ao menos, um mês. O prefeito está na cidade e, acredite, “trabalhando”. Além dos despachos protocolares, Dória mostra-se preocupado com as obras – muitas paradas – da cidade e voltou com suas reuniões em busca de parcerias. 


Iniciando a semana, Dória parece ter levado ao pé da letra a máxima religiosa de que “domingo é dia do Senhor”. No domingo (26), o prefeito passou parte da manhã “dando uma palavrinha” com os fiéis da Igreja Mundial do Poder de Deus, do autointitulado “apóstolo” Valdomiro Santiago, que disse está “feliz com o João Trabalhador”. Nas redes sociais, o prefeito disse ter se emocionado “em sentir a fé inabalável do povo brasileiro”

 Vídeo: Reprodução / Canal "João Doria News" no Youtube

 Após a rádio CBN divulgar reportagem comentando os cortes em políticas especificas para o combate de enchentes, Dória correu para a obra de piscinão mais perto e, ainda no domingo (26), esteve “vistoriando” o andamento do piscinão do Ipiranga, na Zona Sul. Devidamente trajado com capacete de segurança, Dória garantiu que a obra será entregue em 2019 e que, para este ano, a Prefeitura elaborou um programa para as chuvas de verão. De acordo com a Prefeitura, a principal ação para as chuvas deste verão será o compartilhamento de informações entre ela, através do Centro de Gerenciamento - o CGE - e a Defesa Civil, com o lançamento de um aplicativo, o “SP + Segura”, para o envio de alertas e facilitar nas denúncias de pontos com alagamentos.  Veremos como o prefeito, tranquilamente abraçado pela metáfora/pergunta “é feito de açúcar?”, se sairá no período, com a chegada do verão, de chuvas e enchentes. Veremos se ele “é feito de açúcar”


Entre um novo CTA – Centro Temporário de Acolhimento –, desta vez no Anhangabaú, no Centro,  ou anúncio de que as obras de piscinão só serão entregues daqui dois anos, Dória recebeu nesta semana alguns deputados federais da base do (des)governo e o ministro de turismo, também do (des)governo, Marx Beltrão, para uma vistoria nas obras da Fábrica do Samba, na região da Barra Funda, Zona Oeste. O projeto, que teve suas obras iniciadas em 2012, não deve ficar pronto para o carnaval do ano que vem. O Ministério do Turismo conseguiu, através do “Avançar”, do (de)governo, 40 milhões de reais para o andamento das obras. Com 3 prédios, o espaço abrigará as 14 escolas de samba do grupo especial do carnaval da cidade. 


Em um dos vagões lotados da linha Azul do Metrô, ali pela primeira hora do rush, logo cedo, uma mulher, cansada e desfigurada, portando uma pequena criança – entre 5 e 6 anos -, pede aos passageiros qualquer valor, até mesmo alimento, “porque a gente [ ela e sua família] quer comprar comida, quer comer”.  Quando ouço esta mulher, como muitos outros – na casa dos milhares - invisíveis aos olhos da sociedade, ouso pensar que pode ser mentira, que ela seria capaz de sair não sei de onde e enfrentar aquele vagão – talvez aqueles vagões, não sei em quantos ela e sua filha entraram – para arrecadar alguns poucos reais. Não ajudei, confesso. Ando apenas com cartão, e não digo de crédito, mas o Bilhete Único em que transformou-se o Passe Livre Estudantil da administração Dória. Tenho em minhas mãos, uma edição do jornal Estação Free – distribuído nas entradas das estações ferroviárias. Enquanto o folheio, em meio ao sacolejar das muitas freadas da linha Azul – na Amarela, a privatizada, não há esse tipo de frenagem brusca – e tento segurar em um dos ferros de apoio, lembro-me do repasse milionário do (des)governo federal para a tal “Fábrica do Samba”, de certa forma, próxima de onde a mulher e sua filha pediam alguns centavos para comer. Na Capital, a população em situação de rua chega a 20 mil pessoas.


Com Dória na cidade, participando alguns poucos eventos – a Brazil Opportunities Conference 2017 foi o evento da vez –, a semana parecia ser a primeira sem polêmicas, mas não foi. Quando as polêmicas não são causadas pelo próprio Dória, os amigos de Dória o ajuda. O pedido de condenação por improbidade administrativa contra o vice-prefeito e secretário da casa-civil, Bruno Covas, e contra os secretários da Cultura, André Sturm, e de Governo, Júlio Semeghini, pelo Ministério Público abalou a cúpula da administração Dória. 


De acordo com o MP, os secretários interfiram diretamente no processo de licitação para a contração da empresa organizadora do carnaval de rua da cidade. Os promotores falam que o vice-prefeito Bruno Covas avisou uma das empresas que participavam da licitação, a Dream Factory, para que aumentasse a proposta, inicialmente em R$ 2,6 milhões, para R$ 15 milhões, já sabendo que a outra participante do processo, a Srcom, daria R$ 4,1 milhões para patrocinar o carnaval. A Dream Factory aceitou a indicação do vice-prefeito e ganhou a licitação. O MP pede a cassação dos secretários e os condena a cinco anos sem poder assumir qualquer tipo de cargo público. 


Ainda no secretariado, na pasta de mobilidade e transporte, do secretário Sergio Avelleda – parceiríssimo de Dória -, um envelope com R$ 3 mil chegou ao gabinete e teria sido enviado pelo vereador Camilo Cristófaro (PSB). O envelope foi entregue a Sergio Avelleda por um de seus assessores. Avelleda correu para dar publicidade ao caso e enviando o envelope de volta à Câmara. O secretário ainda demitiu o assessor “mensageiro”. O vereador disse que o valor era uma “doação pessoal” para a Prefeitura, pela secretaria de Mobilidade e Transportes. 


Na semana em que ao menos quatro secretários foram alvos, claros, de suspeitas, a mídia comentou apenas para não deixar passar, mas nada, absolutamente nada, foi tratado com escândalo. Transporto estes casos de suspeitas levantadas contra secretários para a administração anterior e imagino como seria o tratamento midiático. Ah se fosse com o Haddad...
 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

As polêmicas, que pareciam não dar o ar da graça nesta semana, não restringiram-se apenas ao secretariado e “deram um pulo” no Matarazzo. O prefeito foi alvo de umas das mais improváveis ou impensáveis polêmicas. Os cantores Marisa Monte e Arnaldo Antunes pediram para que a Prefeitura retirasse um vídeo, postado nas redes sociais de Dória, em que o prefeito inaugurava campos poliesportivos no Parque do Ibirapuera ao lado do ex-jogador de futebol Ronaldo Fenômeno.  O problema? Ao fundo do vídeo tocava “Ainda Bem” de composição dos dois artistas, que pediram, de acordo com Dória, R$ 300 mil da Prefeitura pela veiculação da música. Os artistas reclamaram, com razão, o direito autoral da música, porém tardio, já que a gravação – retirada das redes sociais do prefeito na quinta (30) – é de agosto, e mais, a música estava sendo tocada no evento e não como parte da edição do vídeo (veja abaixo). Usando de seus direitos, os cantores exigiram mais por posicionamento político – divergente da atual administração - do que, necessariamente, relacionado ao pagamento do direito autoral sobre a música. Dória fez o certo e, prontamente, retirou o vídeo das redes. Situações como essas, infelizmente, tornam ralo o debate. Foi-se o tempo em que a Esquerda – espero que ela retome isso – fazia balburdia por causas maiores e menos pífias. Exigir, de maneira dantesca e com três meses de atraso, o direito autoral ou solicitação para usar uma música em uma gravação é, acredito, o “fim da picada”.

 Vídeo: Reprodução / Canal "O Questionador" no Youtube

É o pior – ou melhor – é que o próprio Dória promove as causas maiores que devem pautar não somente a Esquerda, mas todos os que ainda desejam uma sociedade mais democrática e igualitária. O prefeito João Dória, desde que assumiu em janeiro, vem colocando em prática políticas avessas as que paulistanos, especialmente os mais pobres, estavam acostumados. Foi assim quando reduziu a distribuição de leite nas escolas do município e endureceu as regras para o benefício do transporte escolar gratuito. Agora, às vésperas do final do ano em que começa a planejar como será 2018, a Prefeitura estuda acabar com o serviço de transporte escolar para os estudantes da rede municipal de ensino. A Prefeitura, através de sua secretaria de educação, começou a enviar comunicados para as escolas municipais alertando os pais de que, se não mudarem seus filhos de escola, em alguns casos por uma mais distante, eles deixarão de ser contemplados pelo benefício de transporte escolar.


Ainda na semana em que as polêmicas – ao menos para esse articulista – não apareceriam, Dória enfrentou problemas com o serviço funerário municipal. O prefeito, que fez vista grossa com as irregularidades apontadas no serviço funerário – houve denúncias de funcionários cobrando por serviços gratuitos e, agora, o sucateamento dos cemitérios por conta das tratativas privatistas – em represália aos vereadores, da base de sustentação do governo, que estão empacando o projeto de desestatização na Câmara dos Vereadores, exonerou quatro funcionários comissionados, na quinta (30), indicados pelo vereador Sous Santos (PRB), visto pela Prefeitura como vereador mais resistente ao projeto de concessão de Dória na Câmara. Entre os exonerados está a, agora, ex-superintendente do serviço funerário, Márcia Mendes. 
 
Dória e o vereador Souza Santos (PRB); Foto: Folha de S. Paulo

A demissão de Márcia vem num momento oportuno, já que o sucateado serviço funerário municipal tem sido criticado por usuários e pela imprensa. Cemitérios em mau estado de conservação e o número cada vez menor de funcionários é a estratégia de Dória – e também a velha forma do liberalismo emplacar as suas “concessões” – para entregar o serviço funerário para os empresários parceiros - não entendo como – lucrarem até mesmo com a morte.


O prefeito encerrou a semana sem Cidade Linda, mas em mais uma reunião – acredito a mais animada pela semana do secretariado – com presidentes de empresas estatais e com eles, os secretários, incluindo Bruno Covas, André Sturm e Sérgio Avelleda, os “polêmicos da semana”.    


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Claudio Porto

Jornalista independente.

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