Parece que não, mas
Temer, denunciado duas vezes, ainda está no comando dos desmandos
Era 2 de setembro de 2014, portanto pouco mais de um mês
para o domingo da cidadania, do voto,
daquele ano, quando a JBS, do
Joesley, entregou R$ 1 milhão em espécie ao coronel João Baptista Lima Filho
que, de acordo com as investigações da operação Lava Jato, aquela que “só lava por fora” – historiadora Virgínia
Fontes -, além de amigo íntimo de Temer, também fazia as vezes de operador
econômico do presidente duas vezes denunciado. A quantia, ainda diminuta, era
apenas a primeira parcela de um acordo de propina no valor de R$ 15 milhões a
serem pagos, pela JBS e Odebrecht, ao presidente duas vezes
denunciado em troca de favores.
No dia seguinte, o terceiro de setembro daquele ano, a Tabapuã Investimentos, empresa do
presidente denunciado duas vezes, comprou 4700 metros quadrados em um
loteamento de luxo em Itu, interior de São Paulo. Divididos em dois terrenos, o
investimento exigiu de Temer, o presidente duas vezes denunciado, R$ 714 mil de
seu R$ 1 milhão.
A notícia é da edição brasileira do jornal El País, publicada ainda na semana
passada, na sexta (06). O jornal entrou em contato com a assessoria do
presidente, o duas vezes denunciado, para àquelas notas frias, sem apreço com a
elucidação e por mero formalismo ao direito de resposta, tão exacerbado, da
natureza jornalística. Após mais este caso envolvendo o presidente duas vezes
denunciado, o País segue indiferente aos escândalos – tratados sem escândalos –
e parece estar realmente sem “rumo”.
Não se escandalizar com escândalos é ser permissivo com os
desmandos. Isso é tão sério que o Congresso aprovou e a Presidência já
sancionou uma reforma política de autoproteção aos parlamentares que se
articularam para mais um arquivamento de denúncia contra o presidente Temer.
Política. Em uma
rápida e pouco discutida – como é de praxe deste (des)governo - reforma política,
o Congresso Nacional entendeu que deveria agir em conjunto para manter seus
interesses em alta. Em pauta, proposta de criação de um fundo público de
investimento para campanhas partidárias. O Valor? Por enquanto, R$ 1,7 bilhão
para ser “distribuído” daquela maneira: caciques primeiros, depois, se ainda
restar algo - as migalhas- candidatos novos, aqueles que não são magnatas e precisariam
de um valor mínimo para financiar sua viabilidade eleitoral.
O fundo bilionário é o segundo “filho” que, ao lado do fundo
partidário de quase R$ 1 bilhão (pouco mais de R$ 800 milhões em 2016), também
será custeado pelo contribuinte brasileiro.
Outro ponto das mudanças sancionadas pelo presidente Temer é
o retorno da cláusula de barreira, ou desempenho, para se impedir a difusão de
partidos de fachada, aqueles que só entram no “mercado” por conta de fundos
como o recém-criado e o partidário. A ideia, assim como outras ações deste
Congresso, não foi analisada e, pior, vendida como sendo a solução para o senso
comum do elevado número de partidos no Brasil.
A cláusula que inicia exigindo dos partidos um índice mínimo
de 1,5% dos votos válidos nas próximas eleições para estar apto aos benefícios econômicos dos “fundos”
não trará efeito prático que não a extinção de partidos nanicos, muitos com
ideologia, conjunto de ideias, bem definidos e que só não elegem seus
candidatos por conta da manipulação midiática.
Segundo o jornal El
País, 14 dos 35 partidos políticos registrados no TSE correm o risco de
deixarem de existir após as medidas aprovadas pelos congressistas e sancionada
pelo presidente Temer. Esses partidos representaram, em 2016, o montante de R$
64,2 milhões em recursos do fundo partidário. Curiosamente, nem 10% do valor total
do fundo partidário, estimado em R$ 800 milhões.
A cláusula de barreira não é solução que impeça o
aparecimento de legendas ocas, sem ideologia e que só existem por causa do
fundo partidário. Com ela, partidos antigos e tradicionais terão, ainda mais,
dificuldade em emplacar seus candidatos e a concentração, já existente, de recursos
em mãos de poucas legendas específicas, acredito, parece perigoso para um
sistema político que precisa de mudanças, e não mudanças financiadas por “fundo”
dito “civil” de empresários, amigos do sujeito do “Caldeirão”.
Denúncia.
Bonifácio de Andrada, mineiro e partícipe do clã quase bicentenário dos Andrada no Parlamento brasileiro (clique!), foi incumbido de ser o relator da segunda denuncia
contra o presidente duas vezes denunciado por envolvimento em casos corrupção. O
deputado mineiro, parceiro das antigas de Temer, não preciso de muito tempo para
confeccionar parecer contrário ao prosseguimento da denúncia para o Supremo
Tribunal Federal, onde os ministros iriam dar a sequência lógica para os
processos: investigar, colher depoimentos e dar o veredito que, acredite, se o
presidente for inocente e sem relação com os casos trazidos pela acusação,
inclui também a absolvição.
O relatório, lido na terça (10) pelo deputado, será
submetido à votação dos demais integrantes da Comissão de Constituição e
Justiça na próxima semana.
A denúncia por obstrução a Justiça e formação de organização
criminosa – para nós, os mais abastados, o mesmo que formação de quadrilha -, envolve
também dois ministros de Estado, ministro Eliseu Padilha da Casa-Civil e
Moreira Franco da Secretaria da Presidência da República – ministério com menos
de um ano de idade e criado com o objetivo, único e exclusivamente para dar
foro privilegiado.
Os três são acusados por envolvimento em uma quadrilha, o “Quadrilhão
do PMDB”, que lesava – anterior ao (des)governo se instalar e lesar o povo –
empresas estatais com a participação de três sujeitos, hoje, presos: deputado
cassado Eduardo Cunha, os ex-ministros de Temer, Henrique Eduardo Alves e
Geddel Vieira Lima, e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, o da “mala”.
Impedir mais uma denúncia de seu rito lógico, é impedir que
se investigue irregularidades e mantenha no poder aquele que, em pouco mais de
um ano de (des)governo, finge ser um presidente da República.
Pressão, povo!
Assim
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