O impeachment de Dilma foi consequência, entre outros fatores, de uma denúncia. Logo, o denunciado Temer, se houver pressão, pode cair.


Já está na Câmara dos Deputados a denúncia por obstrução a Justiça e formação de organização criminosa, pelo “Quadrilhão do PMDB”, contra o presidente Michel Temer. Isso quer dizer que Temer está mesma situação da ex-presidente Dilma Rousseff: denunciado com a possibilidade, se não detiver de votos suficientes para arquivar a denúncia e haver pressão genuinamente popular, de ser "impichado".
 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

Claro que o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, autor das duas denúncias contra Temer, não carrega o prestígio e força de um grupo com integrantes como Miguel Reale Junior, Janaína Paschoal e Hélio Bicudo – os protocoladores do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff. Ele, no máximo, disparou flechadas vislumbrando uma possível candidatura nas próximas eleições ao governo de Minas Gerais. Além, dos equívocos na amarração do acordo entre a Procuradoria-Geral e os delatores Joesley e Wesley Batista, que imunizou os irmãos donos da J&F


As duas denúncias apresentadas, a primeira por corrupção passiva e agora por obstrução a Justiça e formação de organização criminosa, são mais explícitas e didáticas do que as tais “pedaladas” que levaram Dilma ao ostracismo. Aliás, esta incompreensão por parte considerável da opinião pública a respeito das motivações envolta do impeachment, em muitos casos com o discurso de que a ex-presidente teria saído por conta de uma corrupção que vemos não ser exclusivo do Partido dos Trabalhadores e não pelo rotineiro crime de responsabilidade fiscal, serviu de combustível para um levante expressivo da população brasileira. Milhares de pessoas foram às ruas e Dilma caiu.

Quando na época do impeachment, boa parte dos veículos midiáticos difundia o afastamento da ex-presidente vinculado às informações que iam aparecendo com o avanço das investigações.  Muitas delas sem relação com a presidente ou com o seu governo. 


No caso de Michel Temer e seu (des)governo, os mesmos veículos midiáticos pouco expõem o elevado grau das denúncias e dos dados trazidos por elas. São escândalos de corrupção tratados como não sendo escândalos. O papel em elucidar e explicar foi alterado, por posicionamentos políticos, obviamente, e agora se resume a comentar as exigências regimentais para se arquivar a denúncia – o número de votos necessários – e a explícita compra de votos favoráveis ao presidente em troca de cargos e liberação de emendas, como uma banalidade típica brasileira. 


Este ano, as denúncias trazem áudios, vídeos e documentos que sustentam os pontos apresentados pelo Ministério Público Federal contra, desta vez, o presidente Michel Temer e seus dois ministros, Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência da República, e Eliseu Padilha, ministro chefe da Casa Civil. Sem aqui mencionar os outros denunciados, que já estão presos.  
 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

Para impedir o avanço da denúncia na Câmara dos deputados, assim como já tinha feito na primeira por crime de corrupção passiva, os defensores de Temer cobram por mais favores e cargos. E isso é muito contraditório, já que um dos crimes apontados na denúncia é por formação de organização criminosa, quando o presidente Temer teria comprado deputados com favores e cargos em empresas estatais. 


Caso a denúncia seja aceita - improvável – pela Câmara e seria enviada de volta ao STF para a investigação e o julgamento do presidente que seria afastado por até 180 dias. Rodrigo Maia (DEM-RJ), deputado federal e presidente da Câmara, assumiria a presidência e, caso o presidente seja condenado, teria de convocar eleições indiretas com candidatos apresentados pelos congressistas.


Já pensando neste cenário, o ex-ministro da Defesa, da Ciência e Tecnologia, dos Esportes nos governos Lula e Dilma, Aldo Rebelo (PSB-SP), deixou o Partido Comunista do Brasil (PC do B) e se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), para formar uma chapa com o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), em um possível afastamento de Temer. E isso, acredite, é pior que Temer e seu (des)governo. Teríamos um acordão entre um partido de ascendência totalitária – DEM descende da ARENA, partido de sustentação a Ditadura Militar – e um partido dito socialista em busca de quê?


Há comentários de que Aldo Rebelo, por ter sido ministro da Defesa e transitar com facilidade entre os progressistas, seria o nome das Forças Armadas, a mesma que já admitiu uma intervenção militar caso necessário. 


O enredo é o mesmo de Dilma Rousseff, com o diferencial de que o presidente Temer, pode não ter aprovação popular, mas também não conta com oposição popular. E seus parceiras, a tal governabilidade, mesmo tendo a transmissão da sessão pelo prosseguimento ou não da denúncia garantida pela “Platinada”, não devem se opor a vontade Temer em arquivar mais essa denúncia e permanecer no poder até o fim do próximo ano.


Para ele cair, basta - e realmente é só isso - pressão popular. 


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Claudio Porto

Jornalista independente.

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