Na nossa polarização, quem discute, questiona ou faz parte do contraditório é tachado de petista, esquerdista ou lulista. Já no outro lado estão aqueles que “querem passar o Brasil a limpo” sem se importar às reformas que ele anda passando   


Assim que os 0,20 centavos acordou o “Gigante” em 2013, analistas davam conta de que os movimentos tinham algo de diferente, eram apartidários e sem lideranças, ao menos, dos velhos personagens da classe política. O contexto jovial das manifestações mostrava que, aparentemente, os brasileiros, ali milhares, em alguns casos milhões, de jovens, traziam uma realidade transcendente a qualquer sistema partidário. No preâmbulo ao amarelo da “era CBF”, não havia camisa ou partido. Não eram os “azuis” contra os “vermelhos”. Muito menos havia a terminologia “bolsominions” e “esquerdopatas”, aqueles que protagonizam tapas e pancadaria virtual pelas redes sociais.  

Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)


Neste cenário, os “esquerdopatas” são os que se cansam e cansam seus seguidores em brigas, desnecessárias e que pouco acrescentam, contra os “bolsominions”, extremistas à direita. Enquanto um lado, ao menos, se presta a questionar as ações, claras, de ataques ao sentido lógico das coisas, a briga por direitos, o outro usa-se das mesmas redes para difundir picuinhas entre os parlamentares, quase todas envolvendo seu ídolo, o militar aposentado, e a censura aos planos pedagógicos das escolas e universidades públicas. Para eles, há “doutrinação” em ensinar ciências humanas. Aliás, eles já definiram que esta área é “de esquerda”. Imagino que matemática com ênfase em administração, só por ensinar conceitos “smithianos” (Adam Smith), trata-se, para eles, de uma matéria “de direita”. 


Para os “esquerdopatas”, a importância está em questionar, clamar por explicações, longe de ser pura oposição. Não se trata de se opor a tudo. Este lado é o mesmo que defende ou, ao menos, mostra preocupação aos flagelos dos menos afortunados. Em quase todos os casos, eles se referem ao flagelado pelo nome e sobrenome, como no caso, mais recente, do carroceiro Ricardo Nascimento, e na triste morte do ambulante Luiz Carlos Ruas, espancado por defender um travesti no natal passado. Não são como aqueles que pesquisam imagens de pacientes sendo destratados nos hospitais públicos do País somente para incitar uma discussão, de cunho ideológico, nas redes sociais. Os mesmos que condenam de “vitimização” as tentativas de dar evidência a assuntos sociais, por sinal também tachado de ser “de esquerda”, trazidos pelos “esquerdopatas”. 





 Imagem: Reprodução/Twitter 


Mais recentemente, as reformas do governo federal e a situação debilitada do presidente Michel Temer tomaram conta das pautas “esquerdopatas”. Foram feitos questionamentos embasados sobre as reais necessidades e efeitos práticos das reformas que governo e parlamentares, sem muito esforço em esconder, impuseram ao povo como sendo itens obrigatórios para a tal retomada de crescimento. Crescimento este que, se outrora tivemos, boa parte dos brasileiros não souberam, não se deram conta. 


A turma “esquerdopata” passou os últimos meses tentando, mesmo com dificuldades, barrar, não por apenas oposição, mas pela clara falta de legitimidade das medidas, assim como os meios utilizados em sua tramitação no Congresso.  A briga, antes de ser pela reprovação das propostas, foi por mais transparência e participação popular no processo. E isto, infelizmente, também foi tachado de “esquerdismo”. 


É indiscutível que muitos parlamentares se opuseram as reformas com a finalidade única de gerar instabilidade ao governo. Assim como há entre os, considerados, “esquerdopatas”, aqueles que idolatram políticos e que não se permitem ouvir o, também, contraditório.   
 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

Enquanto essa odisseia se desenrola, o outro lado, os “bolsominions”, se divertem com enquetes para campanha presidencial no ano que vem, discutem o papel e existência do professor, difundem, indiscriminadamente, o temor à chegada de imigrantes, muitos deles em busca de refúgio (para os que desqualificam o termo “refugiado”), veneram juiz e lutam, não por direitos ou contra o corte deles, mas pela “democratização” do armamento bélico, em nome do velho discurso populista de “direito a defesa”.  Nada foi publicado ou questionado, por parte deles, sobre as mudanças impostas pelo governo Temer.


Não sou “de esquerda”, muito menos “bolsominion”. Mas, se há um lugar que quero estar, é ao lado dos questionadores, aqueles que se permitem ouvir todos os lados e não se dão por satisfeito sempre que impuserem algo. 

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Claudio Porto

Jornalista independente.

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