Na madrugada do último dia 29, a vida dos moradores de Chapecó, torcedores da Chapecoense, de todos os brasileiros e diria sem medo de errar, de pessoas ao redor de todo o mundo mudou. A queda do avião da Lamia, que levava atletas, comissão técnica e funcionários de um clube que já era amado por todo o país, além da morte de jornalistas e funcionários de veículos de comunicação e de tripulantes do voo, totalizando 71 vítimas fatais e seis sobreviventes, nos deixou um vazio enorme, uma perda profundamente sentida e dificilmente explicada, é como se cada um que estava naquele voo fosse da nossa família.


Outras tragédias marcaram o mundo do futebol, mas nenhuma levou tantas vidas e teve um roteiro tão doloroso como esta. Em 1949 o avião que levava a delegação do Torino, chocou-se contra a torre da basílica local, perto do aeroporto, na sua cidade onde faria o pouso, foram 31 vítimas, sendo 18 atletas e cinco membros da comissão técnica do clube. Em 1958 a tragédia se abateu sobre o Manchester United, foram 23 mortos, sete sobreviventes, dentre eles o craque Bob Charlton, os dois casos mais conhecidos de tragédias aéreas envolvendo o futebol, mas também foram vitimados: The Stongest: 74 vítimas, 17 eram atletas, Taskent (Uzbequistão): Choque entre aviões, 178 mortos, sendo 17 atletas, Alianza Lima: 52 vítimas fatais, 16 jogadores, único sobrevivente foi o piloto. Seleção da Dinamarca (base): Oito vítimas, somente o piloto sobreviveu, Green Cross (CHI): Não houveram sobreviventes, 24 vítimas fatais, o clube não conseguiu retomar as atividades. Seleção da Zâmbia: 30 vítimas, sendo 18 atletas. Por fim, em 2009 um acidente com o ônibus que levava profissionais ligados ao Brasil de Pelotas, foram três vítimas fatais: Régis (zagueiro), Milar (atacante uruguaio) e o preparador de goleiros Giovani Guimarães. O clube se reergueu e hoje disputa a Série B do Brasileiro.


Todas essas tragédias, e agora essa sendo uma das que mais vitimou pessoas e sem dúvida, a que mais gerou comoção na história do esporte, nos deixam um sentimento de vazio enorme e uma necessidade de expressar essa dor em matéria de homenagem a esses guerreiros que nos deixaram. Decidimos então homenagear todos, mas falar particularmente sobre alguns deles, a quem tínhamos uma opinião mais formulada, sem esquecer ninguém, mas pessoalizando em grandes figuras, nosso sentimento e homenagem em relação á todos, todos estes, ligados ou não ao clube, entraram naquele voo com o sentimento e o desejo voltado para este grande momento da história do clube, que em 2009 estava na Série D e hoje está estável na Série A e faria uma final continental, todos eles são, guerreiros verdes, heróis brasileiros.


Danilo (Goleiro)

O goleiro Danilo já não era nenhum menino para o futebol, tinha 31 anos, tinha uma rodagem por equipes do sul do país. Mas vivia seu grande momento na carreira, com defesas decisivas, em jogo, em disputa de penais, era titular já há algum tempo, desbancando Nivaldo, que foi fundamental nos acessos que o time teve até chegar na Série A e Marcelo Boeck, um goleiro de carreira em Portugal. A imagem dele brincando com seu filho de 2 anos Lorenzo, embaixo do gol da Arena Condá, ficará eternizada em nossos corações, muita força à sua mãe Dona Alaíde, que adotou como filhos todos os brasileiros, bem como a toda sua família, parentes e amigos, força, e quem sabe um dia Lorenzo não trilhará o caminho dos gramados, como brilhantemente fez o pai. 

Ao falar de Danilo é impossível não lembrar carinhosamente do grande Deva Pascovicci (Devair Paschoalon), que nos deixou nessa tragédia aos 51 anos, um narrador brilhante, que nos emocionou com a narração (clique)  da última defesa do goleiro, um narrador à frente de seu tempo, que conseguiu levar para o padrão das Organizações Globo, através de CBN e SporTV (sabemos a rigidez desse padrão) a narração irreverente, que depois foi adotada por tantos e tantos brilhantes profissionais do jornalismo esportivo e nos brindava neste ano com suas narrações na Fox Sports. Obrigado Deva, por esse momento de emoção, que ficará também eternizado como sua marca, a marca da paixão, do amor pelo esporte, pela emoção, que o seu espirito, o espírito de Condá, ilumine sempre o esporte e seus profissionais em todos os níveis. Também da Fox Sports nos deixaram: O brilhante repórter Victorino Chermont, que também fez carreira no SporTV, Rodrigo Santana Gonçalves, repórter cinematográfico, Lilácio Pereira Junior, coordenador de transmissões externas, Paulo Júlio Clement, brilhante comentarista esportivo em múltiplas plataformas. Além do fantástico ex-jogador, grande figura humana, técnico e comentarista Mário Sérgio Pontes de Paiva, de quem falaremos mais à frente. 


Cléber Santana

Um maestro, um vencedor, este foi Cléber Santana, que entrava na reta final de sua carreira, já com 35 anos, muita história, muitas conquistas, o carinho de todos com quem conviveu, seja companheiros ou adversários, não havia no mundo do futebol nessa longa carreira, quem tivesse dele qualquer queixa, um jogador clássico e leal. Começou no Sport de seu querido Pernambuco onde foi bicampeão estadual e campeão da Copa do Nordeste, além da Copa Pernambuco, passou por Vitória onde em 2004 venceu o estadual, Santos onde foi bicampeão paulista, pelo futebol japonês e espanhol, onde no Atlético de Madrid foi peça chave em duas passagens, na segunda faturando o título da Europa League, São Paulo, Atlético/PR e Flamengo, até fazer de SC sua casa, onde atuou em Avaí onde foi campeão estadual, Criciúma e por fim, como maestro da Chape chegava a mais uma decisão internacional, além de ter erguido nesta temporada o título estadual. Um jogador que cumpriu seu papel, um ser humano que deixa saudades em todos nós, que sua família tenha forças para suportar este momento. 

Da meia também nos deixaram: Arthur Maia, nascido como uma grande revelação no Vitória, acabou não conseguindo fazer o melhor que podia no Flamengo e após passar pelo futebol japonês, desembarcava por empréstimo na Chape, 24 anos. Josimar: 25 anos, revelado pelo Inter e com passagens por Palmeiras e Ponte Preta. Matheus Biteco: Revelado ao lado do irmão, Guilherme, no Grêmio, o volante menino, de apenas 21 anos tinha um filho pequeno de apenas 4 meses. Gil: 28 anos, volante, que até a temporada passada atuava pelo Coritiba. Sérgio Manoel: 27 anos, volante, com passagens por vários times do interior, disputou o último Paulista pelo Àgua Santa, que aposentará a camisa 7 em sua homenagem. 

Da defesa, nos deixaram: Guilherme Gimenez: Apenas 21 anos, lateral. Dener: Revelado também no Grèmio, tinha 25 anos. William Thiego: Despontou no Grêmio, teve passagens por Figueirense e pelo futebol do Azerbaijão. Filipe Machado: O zagueiro tinha 32 anos, aparecia animado em um vídeo já no avião, compartilhado nas redes sociais, revelado no Inter, teve bastante rodagem e atuou em alguns países europeus. Marcelo: Revelado pelo Macaé, o zagueiro de 25 anos atuou no Flamengo por duas temporadas. Mateus Caramelo: Era apenas um menino, 22 anos, o lateral esquerdo nasceu para o futebol no Mogi Mirim, e despontou no São Paulo. 


Bruno Rangel

Um grande homem, um homem de fé, um grande artilheiro, o maior artilheiro da história da Chapecoense com 81 gols, já era um veterano com 34 anos, mas há tempos vem mostrando ser um grande matador. Quem acompanha nosso projeto sabe que aqui temos liberdade, para assim como alguns dos grandes jornalistas do país, revelar nosso clube do coração, e ir além, o cobrindo de forma voltada ao torcedor, sempre o indiquei para o meu, o Corinthians, pelo profissionalismo e sobretudo, pelo faro de gol que tinha, descobrir a pessoa por trás do artilheiro emociona ainda mais num momento de despedida como este, vá em paz artilheiro, faça muitos gols no time do céu. 

Também nos deixaram os atacantes: Ananias: O irreverente atacante de 27 anos fez o primeiro gol do Allianz Parque com a camisa do Sport, torcedores rivais brincaram com a hipótese de batizar o novo estádio como "Ananias Parque", o jogador também atuou com a camisa do próprio Palmeiras. Kempes: O rodado atacante também de 34 anos vinha num grande momento no time, desbancando até mesmo Bruno Rangel na condição de titular, irreverente, fez uma legião de amigos e admiradores em todos os clubes por onde passou e era querido por todas as torcidas, tendo o cabelo como marca registrada. Lucas Gomes: Apenas 26 anos, teve passagens por vários clubes do interior do Brasil. E também dois meninos de 22 anos que tinham muito futuro pela frente: Ailton Canela e Thiaguinho. 


Caio Júnior

Luiz Carlos Saroli, ou como era chamado desde quando jogava, Caio Jr, 51 anos. Está aí um profissional da minha mais profunda admiração, um centroavante brilhante, que editou como jogador uma grande dupla de ataque com o seu último "adversário", que foi o técnico Cuca. Como treinador, um cara de uma visão ímpar, ofensiva, que privilegiava um futebol com o controle da posse, com criação de jogadas, com habilidade. Era um técnico sem dúvidas de muito valor, muitas vezes não tão valorizado, por não dar escândalo em beira de gramado, mas o conheci sob o comando do Palmeiras e tinha convicção, era um grande profissional, lá fez um excelente trabalho, assim como no Botafogo. Mas pela volatividade da carreira no Brasil, teve de sair e encontrou espaço na Chape, para fazer história, para entrar para a história. O nosso cronista Palmeirense, Leonardo Carrazza, falou o que sente sobre Caio Jr: "Era muito criticado pelos "dinossauros", por não ser ainda um nome consagrado, mas fez um grande trabalho, revelou ótimos jogadores, com ele inclusive Valdívia atuou com constância, a base do time campeão em 2008 teve seus méritos, a torcida do Palmeiras agradece e reverencia, um treinador que fez o time ser aplaudido, mesmo na derrota". É exatamente esse o sentimento, fica o vazio de um homem sério, uma grande mente e grande profissional do futebol que nos deixa, mas que fique pra sempre essa imagem, da celebração, da consagração e do merecimento do auge, de um grande trabalho. 


Membros da comissão técnica e funcionários do clube que nos deixaram: Anderson Paixão: 37 anos, filho do grande preparador físico da Seleção Brasileira Paulo Paixão, que havia perdido devido ao câncer, outro filho recentemente. Eduardo de Castro Filho, Duca: Auxiliar técnico. Anderson Roberto Martins, Buião: Preparador de goleiros. Luís Felipe Grohs: Analista de desempenho. Marcio Bestene Koury: Médico. Rafael Correa Gobbato: Fisioterapeuta. Sergio Luiz Ferreira de Jesus: Massagista. Luiz Cesar Martins Cunha, Cleberson Fernando da Silva e Eduardo Luiz Preuss: Membros da comissão técnica. Gilberto Pace Thomas: Assessor de imprensa. Anderson Donizete. Sandro Luiz Pallaoro: Presidente. Mauro Luiz Stumpf: Vice de Futebol. Emersson Fabio Di Domenico: Supervisor. Nilson Folle Junior, Decio Sebastião Burtet Filho, Jandir Bordignon, Mauro Dal Bello, Edir Felix De Marco e Ricardo Philippi Porto: Diretores. Convidados: Delfim Peixoto: Presidente da Federação Catarinense de Futebol e ferrenho opositor da dinastia da CBF e Davi Barela Dávi, empresário do ramo de construção, torcedor e patrocinador do clube. 


Mario Sérgio

Essa é a imagem, além claro da atual, que deve ficar de Mario Sérgio Pontes de Paiva, pode passar despercebido pelos mais novos que não sabem ou não querem pesquisar sobre futebol, ou até por antigos, que devido a tantos talentos que tínhamos, podem em algum momento ter visto o "Marinho" (como era carinhosamente chamado como jogador) como mais um dos grandes craques que haviam á época, mas Mario era diferente. Não era necessário fazer uma compilação, um VT pra mostrar seus grandes lances, basta assistir ao VT de qualquer partida que este jogou, irreverência, habilidade, inteligência, era o homem que carregava o time pra frente e também que dava o passe preciso, sempre jogando de cabeça erguida, olhando pra um lado, tocando pro outro, passando até um ar de despeito, não era despeito, era genialidade, na minha mente como jogador, suas atuações pelo Grêmio campeão mundial ficaram marcadas.

Genialidade, coragem, franqueza, todas essas características já vistas como atleta, viraram marcas pessoais e indissolúveis de sua vida como treinador e comentarista. No Fox Sports atuava desde 2012 e aprendi muito com ele nas transmissões do campeonato italiano, que por petulância cubro cronisticamente desde 2006, e a cada transmissão em que lá estava Mario Sergio, era um diferente aprendizado. Para a galera mais nova repito, muitas vezes ele passou um Ar de soberba, ao qualificar como não tão geniais assim, atletas que são colocados como "Semi Deuses" gerando a antipatia de muitos. Eu garanto, no futebol de hoje, Mario seria idolatrado como um dos melhores do mundo. Não é hora de falarmos sobre uma possível infelicidade dele onde trabalhava, ele ia para mais uma brilhante transmissão, no ofício que amava e entrou para a história, a dor dos familiares é profunda, incalculável, mas o alento é o legado, as lições e a história que deixa este ícone do futebol brasileiro dentro e fora de campo, que parte aos 66 anos. Mario Sérgio deixou marcas e admiração por todos os clubes onde passou, inclusive no Vitória, indico dois textos homenagem, feitos pelo aspirante a jornalista esportivo (já é, na verdade) amigo e torcedor do rubro negro, Milton Filho: Mario Sergio, o vesgo (clique) E o Vesgo se imortaliza (clique), ambos do fantástico projeto: Memórias do EC Vitória, que ele conduz com brilhantismo. Obrigado por tudo Mario. 


Demais profissionais de imprensa que nos deixaram: TV Globo, Globoesporte.com e RBS - Organizações Globo: Ari Júnior: Grande cinegrafista, que cobriu eventos como Copas do Mundo, Olimpíadas e fez parte do programa Planeta Extremo, premiado mundo afora. Guilherme Van der Laars: Produtor TV Globo. Guilherme Marques: Repórter TV Globo. Giovane Klein: Repórter RBS TV. Bruno Mauri: Técnico RBS TV. Djalma Araujo: Cinegrafista RBS TV. Laion Espíndola: Repórter Globoesporte.com. Demais colegas da imprensa sulista: André Podiacki: Diário Catarinense. Renan Agnolin: Repórter, Rádio Oeste Capital - Chapecó. Fernando Schardong: Repórter, Rádio Chapecó. Douglas Dorneles: Repórter, Rádio Chapecó Edson Ebeliny: Repórter, Rádio Super Condá. Gilson Gagliotto: Narrador, Ràdio Super Condá. Jacir Biavatti: Comentarista RIC TV/ Rádio Vang

Vítimas da Tripulação: Ovar Goytia, copiloto, Sisy Arias, copiloto, Romel Vacaflores, assistente de voo. Alex Quispe, auxiliar de voo. Gustavo Encina, representante. Angel Lugo, técnico. Além de Miguel Quiroga, piloto, dono e responsável (segundo o que os indícios apontam) pelo acidente que tirou a sua e a vida de 71 pessoas. 



Vale e vale muito também neste momento de tanta dor, onde estão sendo veladas as vítimas dessa tragédia, celebrar a vida dos sobreviventes, que já estão fora de perigo: Alan Ruschel (lateral esquerdo) , Jackson Folmann (goleiro) , Neto (zagueiro), Rafael Henzel, narrador da Rádio Oeste de Chapecó. E os tripulantes Erwin Tumiri e Ximena Suarez. De tudo que vimos na Colômbia, se mencionou pouco a competência dos médicos e das equipes de resgate, verdadeiros heróis, anjos, que propiciaram e foram instrumentos destes verdadeiros milagres. 



Por fim, foi é, e seguirá sendo sem dúvida, tocante ver a comoção no mundo do futebol em torno da tragédia. Que todas essas demonstrações de união, amor, esperança, solidariedade que vimos na Colômbia e ao redor do mundo, além claro de em Chapecó e todo o Brasil, possam além de dar forças e suporte para a Chapecoense seguir em frente, modificar de forma definitiva a nossa visão sobre o esporte, o esporte é vida, o esporte é união, o esporte é AMOR. Nada justifica a violência atrelada ao esporte, nada justifica o ódio ao torcedor rival. Se todos nós saímos dessa tragédia pessoas melhores, que seja essa a melhora, uma consciência coletiva, de que somos todos um só, todos amantes do esporte, independente de cor e escudo.

Compartilho com vocês o depoimento do nosso cronista de velocidade, morador de Timbó, torcedor da Chapecoense, Ricardo Machado: "Prefiro lembrar da Chapecoense como ela sempre foi, motivo de orgulho e imensa alegria para todos de SC. Por mais que a dor seja intensa neste momento tão difícil pra todos nós, os momentos de felicidade que essa equipe nos propiciou vão se perpetuar no tempo e serão sempre o retrato de cada um dos rostos que nos deixaram nessa tragédia sem tamanho". É justamente isso, o que fica é o legado.

Obrigado por tudo Chape, pela lição de vida, pela lição administrativa em um meio tão podre como o do futebol, por abraçar e ser abraçada pelo Brasil e pelo mundo em um momento como este. É claro que não será fácil, mas seguirás cada vez mais grande, com o heroísmo dos guerreiros e heróis que se foram, e sendo levada no peito, pelo amor de todos os brasileiros. 



#ForçaChape #PraSempreChape



Compartilhe:

Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

Deixe seu comentário:

0 comments so far,add yours