Vamos trazer um olhar a partir de São Paulo das eleições sobretudo no estado, mas também com um panorama nacional e analisando o futuro das legendas, dos eleitos e não eleitos dentro do cenário político. No maior colégio eleitoral do país, terceiro maior orçamento na federação (perdendo apenas para os orçamentos estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro) Dória foi eleito em 1º turno de forma inédita com 53,29% dos votos válidos, ante 16,70% do atual Prefeito Fernando Haddad. Em números claro que é uma derrota importante, mas é menos acachapante para o PT do que a vertiginosa queda de Prefeituras e cadeiras no legislativo em todo o país e a grave perda do chamado "Cinturão Vermelho" de Prefeituras da Grande São Paulo, tradicionalmente um reduto do partido, até pela vocação operária destas cidades. Vamos tratar bastante disso mais a frente.


Se no Rio Crivella conseguiu superar as polêmicas em torno de seu nome e sua candidatura pelo braço político do "Grupo IURD/Record" e avançar na frente ao 2º turno. Em São Paulo Russomanno não obteve o mesmo êxito e mais uma vez foi derrotado com uma queda vertiginosa em relação aos números que as pesquisas indicavam antes e durante a campanha. O "defensor do consumidor" acabou ficando com 13.69% dos votos na terceira colocação. Fala-se muito na derrota do PT (é claro, repercute muito mais), mas esse é um resultado que complica o cenário político para o deputado, que certamente tentará a reeleição para não ficar sem cargo. Para 2020, o cenário de apoios a uma possível candidatura sua ficará ainda mais restrito, Campos Machado que o apoiou (Sua esposa, Marlene, inclusive foi candidata á Vice) nesta campanha tem um histórico de apoio ao PSDB e caso João Dória tenha êxito na sua administração, certamente migrará o apoio para qualquer que seja o lançado pelos tucanos á Prefeitura.


Outra derrota acachapante em São Paulo foi de Marta, a população não engoliu sua migração para o partido que justamente protagonizou o "golpe" numa clara conspiração (não se analisa aqui mérito do impeachment, já fizemos isso em outros textos, mas sim a atuação de Temer e do PMDB em sua maioria no processo, diferentemente da postura de Itamar, quando Collor foi impichado) essa proposta de Marta de apostar na ideia de que mudou e se "redimiu" era muito frágil e se mostrou ainda mais frágil quando voltou a usar o expediente de ataque a adversários, se sua candidatura chegou a ter consistência, perdeu quando adotou esse expediente, característico de uma política velha, que é tudo que a população rechaça neste momento.

Erundina cumpriu seu papel, muitos de seus votos acabaram migrando para Haddad quando a parcela tradicionalmente de esquerda do eleitorado percebeu que havia uma clara chance do atual prefeito avançar ao segundo turno. A candidata lutou contra o quase nulo tempo de TV e a escassez de recursos e conseguiu cumprir seu papel, passar sua mensagem (em parte, sua atuação nos debates poderia ter sido mais clara) e atender as demandas sociais que levaram á sua candidatura.


Em relação ao PT de Haddad, como já dito. Há várias maneiras de enxergar particularmente o resultado em São Paulo. Havia um clima muito negativo em torno de sua candidatura, devido os problemas do partido no âmbito federal sobretudo, mas também devido á rótulos que sua administração recebeu, muitos deles injustos, como: "Administração que só pinta ruas" (em referência á ciclovias e faixas de ônibus), "Indústria da Multa/Raddard" (sendo que sempre se debateu tal tema na cidade e até em outras cidades da região metropolitana), enfim. Muitas das realizações desta gestão se deram nas periferias e com isso acabaram ofuscadas aos olhos da grande mídia. Além disso, talvez Haddad tenha se planejado para oito anos e chegou á campanha com muitas obras inacabadas, o que dificultou ainda mais sua campanha.

Diante de tudo isso, essa "reação" na reta final ressalta dois fatores importantes: A capacidade de liderança que pode ter Haddad dentro do partido. É um nome que sai sim fortalecido por ter tido uma arrancada final mesmo com todas essas dificuldades já colocadas. E a força da militância, que certamente foi fator fundamental nesse crescimento.

O PT precisa (e parece que internamente começa a abrir os olhos pra isso) se reinventar, precisa descobrir novas lideranças, distanciar-se de alianças escusas e financiamentos que amarram o partido as oligarquias, isso pode ter levado o partido ao poder, mas levou a queda vertiginosa que estamos assistindo. Nesse sentido, o nome de Haddad pode ser importante sim pro futuro da legenda.

Pra finalizar em relação ao campo da esquerda, o PSOL fez um grande papel, chegando ao 2º turno no Rio de Janeiro e com votações expressivas em outras localidades, tanto majoritariamente como nao legislativo, mesmo sem recursos e com nulo tempo de TV como já colocado, é uma liderança que começa a despontar na esquerda tradicional, enquanto o PDT tenta timidamente se reerguer. Já na esquerda que caminha para o centro, PSB ganha campo e o PPS apesar de em números gerais ter tido uma queda, em centros importantes ganhou novo fôlego.


Em relação ao Prefeito eleito de São Paulo, resume um momento em que a população faz o caminho inverso do tomado quando o PT chegou ao poder (nas urnas) após o "Fora FHC", há um clima de insatisfação e descrença com a esquerda após tudo o que temos visto, o que coletivamente é natural. Isso gerou o fenômeno que possibilitou á Alckmin "fazer o seu poste" no maior colégio eleitoral do país, mesmo sem propostas concretas e com muitas das feitas parecendo sair de uma mesa de marketing, o que fortalece o governador paulista na corrida pela disputa presidencial, ante um enfraquecido Aécio Neves. Dória terá de implantar algumas ideias estranhas que apresentou na campanha e manter muitas outras já em curso, como a parceria com OSs para creches e a modernização da iluminação na cidade.

A população paulistana deve também se preparar para um festival de Privatizações, PPPs e concessões, que podem á curto prazo aliviar os cofres públicos. Mas a longo prazo geram ônus a população e perda de receitas.



Numa visão do cenário nacional, se destacam a perda de quase 60% das prefeituras do PT, que já citamos. E além do crescimento das legendas de centro-esquerda, o crescimento notório de PSDB (aproveitando-se da maré, claro) e do PSD que é uma dissidência do DEM/PFL e ficou claramente enfraquecido, perdeu muitos quadros políticos na criação desse novo partido. Destacam-se também as novas legendas, a REDE conseguiu algumas votações expressivas, mesmo sem tempo de TV e Rádio praticamente. E diferentemente da REDE que ao menos tem uma grande figura política por trás, o NOVO nem isso teve e também conseguiu algumas votações importantes e algumas cadeiras legislativas. Destaca-se também o crescimento do número de prefeituras em partidos ditos "nanicos", vejamos se estes ganham espaço no legislativo nas próximas eleições, afim de evitar seu desaparecimento.



Ficou portanto claro um aproveitamento de partidos nanicos e de forças de centro direita da crise política e institucional que o país atravessa. Um movimento natural, a população foi com a maré, fazendo o movimento inverso do ocorrido em 2002. E protagonizando um outro movimento ainda mais preocupante para a classe política (e totalmente compreensível) que foi o expressivo aumento de abstenções e nulidade, visto em SP mas retratado em todo o país, se o "não voto" fosse uma opção anulatória do pleito, muitas eleições seriam impugnadas. Vejamos se a Direita vai aproveitar a "chance" que recebe de volta da população e rever algumas posturas, afim de fidelizar o eleitorado que reconquistou. Ou se mais uma vez se perderá em seu neoliberalismo e dará chance pra um ressurgimento das cinzas da esquerda, talvez nem mais com o PT protagonizando isso.




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Foto: Estadão. 



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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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