Numa democracia, presume-se que todos os lados e vertentes de uma mesma questão tenham o direito (e por civismo até mesmo o dever) de se manifestar sobre os temas importantes para sua nação e terem suas posições respeitadas, independente de concordância. Isso no país em que vivemos cada vez mais tem se tornado uma utopia. Mas como sonhadores que somos, vamos seguir isso e colocar que para bem ou para mal (a opinião é sua), este 31 de Agosto de 2016 é um dia que entra para a história do Brasil, com a Presidenta (ou Presidente, as duas formas estão gramaticalmente corretas) Dilma Rousseff tendo cassado (a segunda cassação desde a redemocratização) seu mandato. Vamos aqui brevemente falar sobre o julgamento e refletir sobre o futuro do país.


Nós falamos repetidas vezes aqui sobre o raso da denúncia, ou melhor dizendo, do mérito da ação. Tanto que Janaína Paschoal admitiu que a denúncia não era (apenas) pelos créditos suplementares na operação do Plano Safra (que beneficia o setor que segue em alta em nossa economia, o agronegócio) e as tão faladas Pedaladas fiscais. Algo que jamais depôs líder do executivo em qualquer esfera. A denúncia e o julgamento se mostraram totalmente político-partidários, uma vez que a atuação das testemunhas e informantes arrolados pela defesa, mais até do que a atuação da própria Dilma (com muita coragem, por sinal) e de Cardozo na defesa de seus argumentos.

Diante dos pareceres técnicos, das alegações e inclusive das constatações de organismos internacionais, até mesmo de mídia. Ficou muito claro que a deposição da Presidente é, independentemente de sua eleição com mais de 54 Milhões de votos, uma manobra para retirar do poder um governo que já não tem apoio e que "não blindou" os investigados do principal "aliado" que formava sua base, o próprio PMDB, ou seja, esse impedimento é fruto nada mais que do jogo político que sangrou, sangra e seguirá sangrando o povo brasileiro.

Os defensores do afastamento rebaixaram testemunhas á informantes e ridicularizaram a defesa por uma "imparcialidade". Mas também demonstraram imparcialidade ante as alegações da defesa, como já dito. A impressão, comprovada ao final da votação, era de que nada mudaria o resultado, pré-negociado pela base do novo governo de Michel Temer. 


Ou seja, a defesa deixou mais clara do que nunca, o raso da denúncia por crime de responsabilidade. Por outro lado, o PT, representado na figura de Dilma é sim culpado. Culpado pelas alianças que fez, todos sabem que desde a inserção do "P", o "MDB" já não segue os preceitos que motivaram o seu nascimento, a luta pela democracia e pelo direito comum. Hoje, o PMDB e os partidos que ele trouxe á reboque (PSD, PR, PP, dentre outros) tem como objetivo as benesses do poder.

Ninguém no PT é bobo, todos lá sabem muito bem que não havia nada de programático e ideológico nessa aliança, era uma aliança pela sustentação do poder. Mas tamanhas as diferenças ideológicas, qualquer um poderia presumir que na primeira brecha, haveria a traição, que é o desfecho que vemos. Portanto o PT é sim culpado pelas alianças que fez, tanto alianças políticas, quanto empresariais e por isso tem agora a punição.



Resta agora refletirmos sobre que Brasil teremos pela frente. Diante da certeza de que se manteria na cadeira, Temer já começava antes mesmo do julgamento á colocar as manguinhas de fora. Falando da importância do "corte de gastos da máquina pública", mas sempre no que tange a população mais pobre. Falou sobre a "importância" de uma reforma trabalhista que vai mexer nas conquistas da CLT. Deixou nas entrelinhas que vai diminuir drasticamente os investimentos em programas sociais, inclusive na área da educação como FIES e PROUNI, dentre outras mudanças positivas que os últimos governos implementaram no Brasil.

Independentemente de posição ideológica, até por que, ser contrário ao impeachment pelo entendimento de que não houve crime de responsabilidade, não significa apoiar este mandato. Afinal, as urnas são quem determinam a aprovação ou não de um modelo político invariavelmente, dentro de uma democracia. Cabe refletirmos se essa agenda política instaurada graças á deposição da atual mandatária, atenderá as necessidades da população e será realmente capaz de nos tirar da crise instaurada no país. As soluções propostas pelo governo que assume, não apresentam melhorias para a população e sim perda de conquistas históricas, num cenário muito difícil para as camadas mais desfavorecidas da população.



Atesta-se então, que o mandato de Temer é ilegítimo não por ele não ter sido recebedor de mais de 54 Mi votos, afinal, foi o PT que o colocou, junto á seu partido e seus agregados em sua chapa. O novo mandato é ilegítimo não por que em sua composição, agrega seus velhos aliados, DERROTADOS por esta chapa que o "colocou na cadeira" nas últimas eleições, nada disso. O mandato de Temer é ilegítimo por que a denúncia não teria em um julgamento imparcial, força suficiente para derrubar um presidente. O julgo foi feito citando investigações que não estavam inseridas no processo, bem como questões econômicas e de popularidade, que novamente, são observadas nas urnas, no processo democrático. A grande prova disso é a acusação de "mentira em campanha", o que não pode ser aferido, visto que o mandato estava ainda em seu início.



Resta uma fundamental observação: Por que o mandato foi cassado com 61 votos e os direitos políticos por sua vez não foram? Seria a confissão de partidos que foram aliados (PMDB, PR, PP, PSB, PSD) de que esta votação representou na verdade uma eleição indireta para a mudança de comando no Brasil, ao invés de um julgamento de crime? Ou pior, seria uma troca de votos pela absolvição de Eduardo Cunha? Mentor de tudo que vimos até esse desfecho. Qualquer que seja a resposta, o cheiro que sobre desse "guisado" não é nada agradável.




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Foto: EFE. 



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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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